Ex-capitão é principal alvo dos presidenciáveis mesmo ausente. Candidatos também miram ex-prefeito de São Paulo, acusado de representar um projeto político tão extremado quanto o do líder nas pesquisas.
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Após um fim de semana marcado por protestos em dezenas de cidades do país, com atos pró e contra Jair Bolsonaro (PSL), o capitão reformado do Exército continuou a ser o protagonista da disputa eleitoral na noite deste domingo (30/09), no penúltimo debate entre os presidenciáveis antes das eleições de 7 de outubro.
Mesmo não estando presente no encontro organizado pela TV Record, Bolsonaro, que ainda se recupera da facada da qual foi vítima no início do mês, foi duramente atacado por quase todos os oito candidatos que participaram do debate.
Ao longo de quase duas horas, seus concorrentes lembraram as frases polêmicas proferidas por seus aliados e acusaram Bolsonaro de ser antidemocrata. Fernando Haddad (PT), vice-líder nas pesquisas, também foi igualmente alvo de seus adversários, que tentaram pregar a pecha de que o ex-prefeito de São Paulo representa um projeto político tão extremado quanto o do militar reformado.
As críticas a Bolsonaro vieram até de candidatos que, até aqui, não vinham se contrapondo ao presidenciável do PSL com tanta ênfase. O ex-ministro da Fazenda e candidato do MDB, Henrique Meirelles, foi duro com Bolsonaro e afirmou que o deputado federal pelo Rio de Janeiro "não gosta do Bolsa Família". Meirelles, que se mostrou próximo a Haddad, pouco criticou o candidato petista e afirmou que "ódio não cria empregos e a vingança só cria destruição".
Bolsonaro ainda foi acusado por Ciro Gomes de fazer declarações "antipobre e antipovo" e disse ter ficado alarmado com a "frase assustadora" de Bolsonaro em que ele afirma que não aceitaria nenhum resultado das urnas que não fosse sua vitória. Sobre o cenário político, o candidato disse que "o Brasil precisa de alguém para encerrar essa radicalização".
Ciro também não poupou munição contra o candidato petista. "Você poderia explicar o que quer dizer quando em seu plano de governo diz que quer propor uma Assembleia Constituinte?", perguntou. Haddad respondeu, explicando que essa ideia teria vindo do ex-presidente Lula, com a intenção de criar condições para a elaboração no futuro de uma Constituição "mais moderna, enxuta, com princípios e valores bem constituídos", que conseguisse reequilibrara o Poderes e reformar os sistemas bancário e tributário.
"Você não acredita numa única palavra do que acabou de dizer. Não existe poder constituinte no presidente da República", rebateu Ciro, esclarecendo que só o Congresso tem o poder de convocar uma Assembleia Constituinte. "Essas palavras foram postas na sua boca porque, infelizmente, há uma vingança que você está encarregado de fazer", afirmou o pedetista.
"Jair Bolsonaro desrespeita a Constituição e a democracia. Para mim, as palavras dele só podem ser uma coisa: ele fala muito grosso, mas tem momentos em que ele amarela. Ele já está com medo da derrota", disse por sua vez Marina Silva, que protagonizou uma dura discussão com o candidato do PSL.
Ela afirmou que é preciso "enfrentar dois projetos autoritários, aqueles saudosistas da ditadura e aqueles que fraudaram a eleição de 2014", em clara referência à vitória de Dilma Rousseff contra Aécio Neves (PSDB), há quatro anos. Marina tentou se posicionar como uma candidata equilibrada, distante dos dois polos extremos.
Essa também foi a tônica utilizada tanto por Geraldo Alckmin (PSDB) quanto por Álvaro Dias (Podemos). Alckmin afirmou que tanto o PT quanto Bolsonaro são dois lados de uma mesma moeda e que a solução para o Brasil não são "nem os radicais de direita e nem os radicais de esquerda". Álvaro Dias afirmou que o Brasil segue em "uma marcha da insensatez" e que a mentira segue sendo uma arma dos candidatos.
Guilherme Boulos, do Psol, criticou duramente o candidato do PSL "As declarações de Bolsonaro não são de um candidato e sim de um ditador", afirmou.
Fernando Haddad acenou para praticamente todos os candidatos de olho em possíveis acordos no segundo turno. Com Boulos, afirmou ter pontos de convergência e elogiou Ciro Gomes por sua luta democrática, apesar dos ataques que sofreu do candidato do PDT. Não divergiu de forma acalorada com nenhum de seus adversários e procurou, como tem sido rotina, associar seu nome de Lula e aos tempos de bonança do país nos dois primeiros mandatos do PT.
Haddad, no entanto, precisou explicar os apoios que tem recebido – e dado – a figuras polêmicas da política brasileira, como os senadores Eunício Oliveira (MDB-CE) e Renan Calheiros (MDB-AL). "Minha coligação é com o PCdoB e o PROS, eu fiz apenas uma visita ao presidente do Senado”, disse ele, tentando minimizar o apoio que vem recebendo no Nordeste de políticos de partidos que o PT chama de golpistas.
Ausente, Bolsonaro limitou-se a publicar vídeos dos atos em seu apoio que ocorreram em todo o país neste domingo. Chamado de "frouxo" por Ciro Gomes por não participar do debate, Bolsonaro afirmou que não compareceu ao encontro por recomendação médica. De acordo com ele, a equipe que o acompanha teria desautorizado sua participação no último debate presidencial, que ocorre na quinta-feira no Rio de Janeiro e será organizado pela TV Globo. Em entrevista ao jornal O Globo, Bolsonaro afirmou que tentará convencer seus médicos na véspera.
Cabo Daciolo, uma vez mais, fez o papel cômico no debate. Exaltado, Daciolo teve dificuldades para responder às perguntas que lhe eram feitas. Chegou a pedir que Marina Silva esperasse a resposta apenas em sua tréplica e afirmou que levaria óleo de peroba para o próximo debate. Entre muitos "Glória a Deus", disse que todos os candidatos eram amigos e faziam parte de um clube. Afirmou, mais uma vez, que não sabe exatamente como, mas que será eleito no primeiro turno com 51%. Foi o candidato mais aplaudido pela plateia.
Treze candidatos se apresentaram para disputar o Planalto. O líder das pesquisas acabou fora da corrida, e vários nomes tentam contornar isolamento partidário. Veja os principais episódios da disputa.
Foto: Reuters/A. Machado
Bolsonaro é eleito presidente
Em segundo turno, os brasileiros elegeram Jair Bolsonaro (PSL) como presidente. Após uma campanha eleitoral polarizada, o militar reformado de extrema direita recebeu 55,13% dos votos, contra 44,87% de Fernando Haddad (PT). Com bandeiras do Brasil e vestidos nas cores verde e amarelo, eleitores comemoram pelo país. No discurso da vitória, Bolsonaro prometeu um governo constitucional e democrático.
Foto: picture-alliance/AP Photo/S.Izquierdo
TSE abre investigação contra Bolsonaro
A pouco mais de uma semana do segundo turno, o Tribunal Superior Eleitoral abriu uma ação para investigar suspeitas de compra de disparos de mensagens antipetistas no WhatsApp por parte de empresários aliados a Bolsonaro. O pedido de investigação foi feito pelo PT, após uma reportagem do jornal "Folha de S. Paulo". A PF também abriu inquérito para investigar a disseminação em massa de "fake news".
Foto: Reuters/R. Moraes
Bolsonaro e Haddad vão ao segundo turno
Numa das eleições mais polarizadas da história, em 7 de outubro os brasileiros levaram ao segundo turno os dois candidatos que, segundo sondagens, são também os mais rejeitados: Bolsonaro (PSL) e Haddad (PT). Favorito no Sul e Sudeste, o ex-militar teve 46% dos votos válidos contra 29% do petista, que foi o mais votado em oito estados do Nordeste e no Pará. Em terceiro, Ciro Gomes (PDT) teve 12%.
Foto: Reuters/P. Whitaker/N. Doce
Bolsonaro cresce nas pesquisas
Já líder nas pesquisas, o candidato do PSL ampliou sua vantagem no início de outubro, ultrapassando pela primeira vez a marca de 30% em sondagens do Ibope e do Datafolha. Ao longo da semana que antecedeu as eleições, o ex-capitão foi subindo e, na véspera do pleito, cruzou a barreira de 40% dos votos válidos. Após ser esfaqueado, a campanha do candidato se concentrou nas redes sociais.
Foto: Reuters/P. Whitaker
A troca de Lula por Haddad
Após meses de suspense e com aval de Lula, Fernando Haddad foi oficializado candidato à Presidência pelo PT em 11 de setembro, a menos de um mês do primeiro turno, após se esgotarem as chances de o ex-presidente concorrer. Preso e virtualmente inelegível pela Ficha Limpa, Lula era líder nas pesquisas de intenção de voto. O desafio agora será transferir votos para o ex-prefeito.
Foto: Agencia Brasil/R. Rosa
Ataque a Bolsonaro
O candidato do PSL foi esfaqueado durante um ato de campanha em Juiz de Fora, um ataque que prometia mudar os rumos da corrida presidencial. Seus adversários condenaram a agressão, e alguns chegaram a mudar o tom da campanha. Não houve, contudo, um impacto decisivo sobre o eleitorado. Ele segue líder das intenções, mas com percentual praticamente igual. A rejeição a ele, por outro lado, aumentou.
Foto: picture-alliance/dpa/Agencia O Globo/A. Scorza
O "plano B" do PT
Com Lula virtualmente inelegível, a escolha do seu vice passou a ser encarada como um trampolim para um candidato substituto. No início de agosto, o PT acabou indicando Fernando Haddad, que desde o início do ano era cotado como "plano B". Manuela D'Ávila (PCdoB) ficou com a curiosa posição não oficial de "vice do vice", assumindo a posição com Lula candidato ou não.
Foto: Agência Brasil/F.Rodrigues Pozzebom
A novela dos vices
A fase de convenções começou no fim de julho sem que a maioria dos pré-candidatos tivesse um vice. Bolsonaro teve três convites recusados até fechar com o general Mourão (PRTB). Henrique Meirelles (MDB) e Ciro Gomes (PDT) se contentaram com nomes do próprio partido. Alckmin teve convite recusado pelo empresário Josué Alencar, cuja família é ligada a Lula, antes de optar por Ana Amélia (PR).
Foto: Agência Brasil/F.Frazão
Os candidatos isolados
A jogada de Alckmin com o "centrão" acabou isolando outros candidatos. Jair Bolsonaro (PSL) tentou negociar com o PR, mas teve que se contentar com o nanico PRTB. Ciro Gomes (PDT) também viu suas investidas no grupo naufragarem. Marina Silva (Rede) e Ciro também não conseguiram apoio do PSB, que ficou neutro numa manobra do PT. Os três terminaram a fase de convenções com pouco apoio e tempo de TV.
Alckmin fecha com o "centrão"
Em julho, o tucano Geraldo Alckmin ainda patinava nas pesquisas, mas criou um fato novo na campanha ao conseguir o apoio do "centrão", as siglas que costumam emprestar seu apoio a governos em troca de cargos e verbas. Ao se aliar com PR, PP, PSD, DEM e SD, Alckmin passou a dominar 44% da propaganda eleitoral na TV. Sua coligação também recebe 48% do novo fundo de campanhas.
Foto: Getty Images/AFP/E. Sa
Candidaturas descartadas
A eleição de 2018 parecia destinada a superar o número de candidatos de 1989, quando 22 disputaram. Em abril, 23 manifestavam interesse em concorrer, entre eles o presidente Michel Temer, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e o ex-presidente Fernando Collor. Mas eles logo desistiram ou foram abandonados por seus partidos. Outros aceitaram ser vices. Em agosto, só 13 permaneciam na corrida.
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Os "outsiders" saem de cena
A possibilidade de Lula ficar de fora e o sentimento antipolítico entre a população sinalizavam que esta seria a eleição dos "outsiders". O ex-ministro do Supremo Joaquim Barbosa e o apresentador Luciano Huck chegaram a ser incluídos em pesquisas. O empresário Flávio Rocha anunciou candidatura. Em julho, todos já haviam desistido, e a disputa ficou restrita a velhos nomes da política.
Foto: Imago/ZUMA Press/M. Chello
Lula é condenado e preso
Quando anunciou, em 2016, a intenção de disputar a eleição, Lula se tornou o líder nas pesquisas. Em janeiro, porém, sua situação se complicou após uma condenação em segunda instância que o deixou virtualmente inelegível. Em abril, foi preso. Com a possibilidade de a candidatura ser barrada, o PT passou a ter dificuldades em formar alianças, e o desfecho do pleito ficou ainda mais imprevisível.
Foto: Reuters/L. Benassatto
Entra em cena o fundo de campanhas
Diante da proibição das doações por empresas, o Congresso criou em outubro de 2017 um novo fundo de R$ 1,7 bilhão para financiar candidaturas, já definindo a capacidade financeira de várias campanhas. Quase 60% do valor ficou concentrado em seis legendas: MDB, PT, PSDB, PP, PSB e PR, deixando candidatos à Presidência de pequenas e médias siglas com menos recursos na largada.