Ataques britânicos na Síria vão fracassar, diz Assad
6 de dezembro de 2015
Em entrevista ao jornal "Sunday Times", governante sírio afirma que bombardeios aéreos contra extremistas na Síria são "ilegais" e vão espalhar o "câncer" do terrorismo.
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Em entrevista publicada neste domingo (06/12) pelo jornal londrino Sunday Times, o governante sírio, Bashar al-Assad, afirmou que os ataques aéreos iniciados pelo Reino Unido na Síria são "ilegais" e vão servir de apoio ao terrorismo.
A entrevista de Assad foi realizada antes da votação do Parlamento britânico, na última quarta-feira (02/12), que autorizou ataques militares britânicos no país. O possível resultado da votação amplamente antecipado, Assad previu que os ataques aéreos de Londres contra "terroristas" vão inflamar a região.
"Eles vão fracassar novamente", disse Assad. "Você não pode cortar parte do câncer. Você tem de extraí-lo. Esse tipo de operação é como cortar parte do câncer. Isso fará com que ele se espalhe mais rápido pelo corpo."
O ditador sírio ironizou a declaração do primeiro-ministro britânico, David Cameron, de que há 70 mil combatentes da oposição síria que aguardam uma parceria com potências ocidentais para livrar a região de jihadistas enfraquecidos pela campanha aérea liderada pelos EUA.
"Este é um novo episódio de uma longa série de declarações falsas de David Cameron (...) onde estão eles?", perguntou Assad. "Onde estão os 70 mil moderados de que ele está falando? Não existem 70 mil. Não existem 7 mil."
A campanha aérea britânica contra os radicais islâmicos na Síria teve início na última quinta-feira, poucas horas depois da votação na Câmara dos Comuns. Os jatos do Reino Unido iniciaram os bombardeios, atacando um campo de petróleo em mãos do "Estado Islâmico".
Assad elogiou a campanha militar da Rússia na Síria e disse que, em caso de novas eleições, teria o direito de se candidatar "como qualquer sírio". "Minha decisão dependerá de minha capacidade de atuar, e se tenho o apoio do povo sírio", afirmou.
Mais de 250 mil pessoas foram mortas desde o início do conflito na Síria, em março de 2011.
CA/afp/rtr
A guerra civil na Síria antes do EI
O "Estado Islâmico" inflamou o debate sobre como pôr fim à guerra civil síria. Contudo o grupo só emergiu mais tarde no conflito. Confira alguns momentos dessa guerra que abriram espaço para o avanço dos jihadistas.
Foto: AP
Março de 2011
Enquanto regimes ruem por todo o Oriente Médio, dezenas de milhares de sírios vão às ruas para protestar contra a corrupção, o desemprego elevado e a alta dos preços dos alimentos. O governo da Síria responde com armas de fogo. Até maio, cerca de 400 vidas são ceifadas.
Foto: dapd
Maio de 2011
Sob insistência dos países ocidentais, o Conselho de Segurança da ONU condena a repressão violenta. Nos meses seguintes, os Estados Unidos e a União Europeia impõem embargo de armas, recusa de vistos e congelamento de bens. Com apoio da Liga Árabe, aumenta a pressão para a saída do presidente sírio Bashar al-Assad – embora sem o aval de todos os países-membros da ONU.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Szenes
Agosto de 2011
Em 1970 um golpe pusera Hafez al-Assad no poder. Após sua morte, em 2000, o filho Bashar (à dir.) assume a liderança. De início tido como reformista, ele perde apoio ao manter o estado de emergência que há décadas restringe as liberdades políticas, permitindo vigilância e interrogatórios. Assad tem respaldo da Rússia, que lhe fornece armas e repetidamente veta as resoluções da ONU sobre a Síria.
Foto: picture-alliance/dpa/Stringer/Ap/Pool
Dezembro de 2011
A ONU e outras organizações têm provas de violação dos direitos humanos na Síria. Civis e militares desertores começam a se organizar lentamente para combater as forças do governo, que vêm atacando os dissidentes. Até o fim de 2011, essa luta causa mais de 5 mil mortes. Mesmo assim, ainda transcorrem seis meses até a ONU reconhecer que o país está em guerra.
Foto: Reuters/Goran Tomasevic
Setembro de 2012
O Irã finalmente confirma que tem combatentes em solo sírio, fato que Damasco negava há tempos. A presença de tropas aliadas acentua a hesitação dos Estados Unidos e de outras potências ocidentais em intervir no conflito. Os EUA, marcados pelas intervenções fracassadas no Afeganistão e no Iraque, propõem o diálogo como única solução sensata.
Foto: AP
Março de 2013
As mortes beiram 100 mil, e o total de refugiados em países vizinhos como a Turquia e a Jordânia atinge 1 milhão – número que duplicaria até setembro. Em dois anos de guerra, o Ocidente e a Liga Árabe veem fracassar todas as tentativas de um governo de transição, enquanto o conflito transborda para a Turquia e o Líbano. O pior temor é de que Assad se mantenha no poder a todo custo.
Foto: Reuters/B. Khabieh
Abril de 2013
Há muito Assad alega estar combatendo terroristas. Mas só no segundo ano de guerra se confirma que o Exército Livre Sírio inclui extremistas radicais. O grupo Frente al-Nusra declara apoio à Al Qaeda, fragmentando ainda mais a oposição.
Foto: Reuters/A. Abdullah
Junho de 2013
A Casa Branca afirma ter provas de que Assad está atacando civis com o gás tóxico sarin. Mais tarde a informação é corroborada pela ONU. A partir da revelação, o presidente dos EUA, Barack Obama, e outros líderes ocidentais passam a considerar uma intervenção militar. No entanto a proposta da Rússia para que se retirem as armas químicas da Síria acaba por se impor.
Foto: Reuters
Janeiro de 2014
Ao fim de 2013 surgem relatos sobre um novo grupo autodenominado Estado Islâmico do Iraque e do Levante – o futuro EI. Ao tomar terras no norte da Síria e também no Iraque, os jihadistas despertam lutas internas na oposição, causando 500 mortes até o início de janeiro. Esse terceiro e inesperado fator levaria os EUA, França, Arábia Saudita e outras nações à intervir na guerra em meados do ano.