Ataques com bombas matam mais de 90 pessoas em Bagdá
11 de maio de 2016
Três carros-bomba explodem na capital do Iraque, deixando também 165 pessoas feridas. Várias vítimas são noivas que se preparavam para o casamento. Grupo extremista "Estado Islâmico" reivindica autoria de atentados.
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Ao menos 93 pessoas morreram e mais de 165 ficaram feridas nesta quarta-feira (11/05) nas explosões de três carros-bomba em Bagdá. O grupo extremista "Estado Islâmico" (EI) reivindicou a autoria dos ataques, que resultaram no dia mais violento do ano na capital iraquiana.
A primeira explosão ocorreu durante a manhã num dos maiores mercado da capital iraquiana, localizado na região xiita de Sadr City, matando 63 pessoas e ferindo outras 85. Cerca de 2,5 milhões de pessoas vivem no bairro, onde se concentram muitos apoiadores do clérigo radical xiita Moqtada al-Sadr, que nos últimos meses liderou um movimento de protesto contra o governo do país.
Muitas das vítimas do ataque eram mulheres, incluindo várias noivas que estavam se preparando para os seus casamentos. A explosão aconteceu nas proximidades de um salão de beleza. Horas depois ainda era possível ver nuvens de fumaça saindo de diversas lojas do mercado.
Segundo testemunhas, os explosivos estavam num caminhão carregado de frutas e verduras e que foi estacionado por um homem que desapareceu apressadamente entre a multidão de pessoas que estavam no mercado. "A explosão fez tremer o chão. A força da explosão me lançou a metros de distância, e cheguei a perder a consciência por alguns minutos", disse o comerciante Karim Salih.
Saques são fonte de renda do "Estado Islâmico"?
02:25
Os outros dois ataques ocorrem no final do dia e tiveram como alvo forças de segurança. Um suicida invadiu um posto de controle policial em Kadhimiya, no noroeste de Bagdá, numa região que abriga uma mesquita sagrada xiita. O terceiro carro-bomba explodiu num posto de controle no bairro de Jamiya, predominante sunita. As explosões deixaram ao menos 30 mortos e mais de 80 feridos, segundo autoridades.
EI assume autoria de atentados
Num comunicado divulgado na internet, o grupo extremista sunita "Estado Islâmico" assumiu a autoria dos ataques e afirmou que eles visavam integrantes de milícias xiitas.
O governo alega que os jihadistas do EI pretendem, com ataques em Bagdá, desviar a atenção de suas perdas em confrontos com forças de segurança. O Iraque divulgou nesta quarta-feira que os extremistas ocupam atualmente pouco mais de 14% do território iraquiano.
O "Estado Islâmico", que chegou a ocupar 40% da área total do país, vem perdendo espaço nos últimos meses devido ao sucesso da ofensiva das forças de segurança. Apesar de perder cidades importantes, como Tikrit e Ramadi, os radicais ainda controlam Mossul, a segunda maior cidade do país.
Em junho de 2014, os extremistas iniciaram a ofensiva no país e conquistaram importantes territórios. Em reação, uma coalizão internacional, liderada pelos Estados Unidos, bombardeia os jihadistas desde agosto de 2014. Os ataques aéreos apoiam os combates terrestres de forças de segurança iraquianas e curdas contra o EI.
CN/rtr/afp/ap/lusa
"Estado Islâmico": de militância sunita a califado
Origens do grupo jihadista remontam à invasão do Iraque, em 2003. Nascido como oposição ao domínio xiita e inicialmente um braço da Al Qaeda, EI passou por mudanças e virou uma ameaça internacional.
Foto: picture-alliance/AP Photo
A origem do "Estado Islâmico"
A trajetória do "Estado Islâmico" (EI) começou em 2003, com a derrubada do ditador iraquiano Saddam Hussein pelos EUA. O grupo sunita surgiu a partir da união de diversas organizações extremistas, leais ao antigo regime, que lutavam contra a ocupação americana e contra a ascensão dos xiitas ao governo iraquiano.
Foto: picture-alliance/AP Photo
Braço da Al Qaeda
A insurreição se tornou cada vez mais radical, à medida que fundamentalistas islâmicos liderados pelo jordaniano Abu Musab al Zarqawi, fundador da Al Qaeda no Iraque (AQI), infiltraram suas alas. Os militantes liderados por Zarqawi eram tão cruéis que tribos sunitas no Iraque ocidental se voltaram contra eles e se aliaram às forças americanas, no que ficou conhecido como "Despertar Sunita".
Foto: AP
Aparente contenção
Em junho de 2006, as Forças Armadas dos EUA mataram Zarqawi numa ofensiva aérea e ele foi sucedido por Abu Ayyub al-Masri e Abu Omar al-Bagdadi. A AQI mudou de nome para Estado Islâmico do Iraque (EII). No ano seguinte, Washington intensificou sua presença militar no país. Masri e Bagdadi foram mortos em 2010.
Foto: AP
Volta dos jihadistas
Após a retirada das tropas dos EUA do Iraque, efetuada entre junho de 2009 e dezembro de 2011, os jihadistas começaram a se reagrupar, tendo como novo líder Abu Bakr al-Bagdadi, que teria convivido e atuado com Zarqawi no Afeganistão. Ele rebatizou o grupo militante sunita como Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL).
Foto: picture alliance/dpa
Ruptura com Al Qaeda
Em 2011, quando a Síria mergulhou na guerra civil, o EIIL atravessou a fronteira para participar da luta contra o presidente Bashar al-Assad. Os jihadistas tentaram se fundir com a Frente Al Nusrah, outro grupo da Síria associado à Al Qaeda. Isso provocou uma ruptura entre o EIIL e a central da Al Qaeda no Paquistão, pois o líder desta, Ayman al-Zawahiri, rejeitou a manobra.
Foto: dapd
Ascensão do "Estado Islâmico"
Apesar do racha com a Al Qaeda, o EIIL fez conquistas significativas na Síria, combatendo tanto as forças de Assad quanto rebeldes moderados. Após estabelecer uma base militar no nordeste do país, lançou uma ofensiva contra o Iraque, tomando sua segunda maior cidade, Mossul, em 10 de junho de 2014. Nesse momento o grupo já havia sido novamente rebatizado, desta vez como "Estado Islâmico".
Foto: picture alliance / AP Photo
Importância de Mossul
A tomada da metrópole iraquiana Mossul foi significativa, tanto do ponto de vista econômico quanto estratégico. Ela é uma importante rota de exportação de petróleo e ponto de convergência dos caminhos para a Síria. Mas a conquista da cidade é vista como apenas uma etapa para os extremistas, que pretenderiam avançar a partir dela.
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Atual abrangência do EI
Além das áreas atingidas pela guerra civil na Síria, o EI avançou continuamente pelo norte e oeste iraquianos, enquanto as forças federais de segurança entravam em colapso. No fim de junho, a organização declarou um "Estado Islâmico" que atravessa a fronteira sírio-iraquiana e tem Abu Bakr al-Bagdadi como "califa".
Foto: Reuters
As leis do "califado"
Abu Bakr al-Bagdadi impôs uma forma implacável da charia, a lei tradicional islâmica, com penas que incluem mutilações e execuções públicas. Membros de minorias religiosas, como cristãos e yazidis, deixaram a região do "califado" após serem colocados diante da opção: converter-se ao islã sunita, pagar um imposto ou serem executados. Os xiitas também eram alvo de perseguição.
Foto: Reuters
Guerra contra o patrimônio histórico
O EI destruiu tesouros arqueológicos milenares em cidades como Palmira (foto), na Síria, ou Mossul, Hatra e Nínive, no Iraque. Eles diziam que esculturas antigas entram em contradição com sua interpretação radical dos princípios do Islã. Especialistas afirmam, porém, que o grupo faturou alto no mercado internacional com a venda ilegal de estátuas menores, enquanto as maiores eram destruídas.
Foto: Fotolia/bbbar
Ameaça terrorista
Durante suas ofensivas armadas, o "Estado Islâmico" saqueou centenas de milhões de dólares em dinheiro e ocupou diversos campos petrolíferos no Iraque e na Síria. Seus militantes também se apossaram do armamento militar de fabricação americana das forças governamentais iraquianas, obtendo, assim, poder de fogo adicional.