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Ataques de Lula ao Banco Central são um tiro no próprio pé

7 de fevereiro de 2023

Por que ninguém no governo ousa dizer ao presidente que suas críticas à política monetária do BC e ao chefe do órgão, Roberto Campos Neto, prejudicam mais a ele próprio?

Nesta segunda, voltou a criticar a autonomia do Banco Central e o nível elevado dos jurosFoto: Sergio Lima/AFP

Uma taxa básica de juros a 13,75% é uma vergonha, declarou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na segunda-feira (06/02), durante a posse de Aloizio Mercadante na presidência do BNDES. Alguns dias antes, ele já havia atacado diretamente o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto: "Quero saber do que serviu a independência do Banco Central", questionou o presidente, antes de dizer que esperaria "esse cidadão" terminar o mandato para avaliar o que significou o Banco Central independente.

As consequências negativas desses ataques de Lula a Campos Neto e ao Banco Central, independente desde 2021, são óbvias: a maioria dos economistas espera hoje uma inflação mais alta no fim do ano do que esperavam no dia da vitória eleitoral de Lula: em vez de 4,92%, os analistas do mercado financeiro agora estimam uma inflação de 5,78% em 2023. As previsões para os próximos anos tampouco são melhores.

O aumento constante das expectativas para a inflação tem um grande impacto sobre a taxa básica de juros futura. O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central anunciou recentemente que deve manter a taxa básica de juros, a Selic, no recorde de 13,75% por muito mais tempo em meio à inflação persistente.

A ideia por trás disso é: com uma taxa de juros alta, é mais provável que as pessoas invistam seu dinheiro do que o usem para consumo. Isso reduziria a inflação, e o Banco Central poderia então baixar as taxas de juros novamente no médio prazo.

Para Lula e para a maioria dos membros de seu governo, isso é uma vergonha: o Brasil não pode crescer com juros de 13,75%, porque ninguém vai investir, vão preferir colocar seu dinheiro em títulos no mercado financeiro do que investi-lo em fábricas ou pelo menos usá-lo para consumo. Contudo, com a inflação atualmente em 6%, o Banco Central fica atrás da meta de inflação de 3,25% para este ano. As autoridades monetárias não têm escolha a não ser manter as taxas de juros altas.

Eu me pergunto por que Lula faz tais declarações populistas. Existem várias explicações:

1. Lula acredita genuinamente que um governo pode baixar as taxas de juros como bem entender se quiser acelerar o crescimento.

Dilma Rousseff acreditou na mesma coisa e levou a economia a anos de estagflação porque ordenou ao Banco Central, que ainda era dependente na época, que baixasse as taxas de juros mesmo com a inflação subindo. As consequências foram seu impeachment e a ascensão de Jair Bolsonaro ao poder. Duvido que Lula seja realmente tão míope a ponto de bloquear seu futuro político.

2. Lula busca apontar desde já um culpado pelo crescimento insuficiente.

Campos Neto dá um bom bode expiatório. Ele foi indicado por Bolsonaro. Seu avô era o famoso economista Roberto Campos, que foi ministro do Planejamento durante a ditadura militar e fundou o BNDES. Acho bem possível que Lula queira desviar a atenção com esses ataques. Porque até agora ele não tem nenhum plano para a economia.

3. Lula realmente quer abolir a autonomia do Banco Central.

Lula não poderá escolher um sucessor para a presidência do Banco Central até 1º de janeiro de 2025. No entanto, pode nomear previamente os diretores de sua preferência. Isso é até provável, mas só aumentaria o potencial de conflito na disputa entre o governo e o Banco Central. Se Lula quiser colocar o BC novamente sob o controle do governo, isso custaria tão caro para ele politicamente que seria mais uma missão suicida para seu governo.

Fica a pergunta: por que ninguém aponta para Lula que, com seus ataques, ele está apenas retardando ainda mais o pouco crescimento econômico esperado para este ano?

Lula apenas diz o que todos estão pensando, explicou o senador Jaques Wagner, confidente do presidente. Mas Lula, garante ele, respeitará a autonomia do Banco Central.

Quando Wagner é um dos poucos a falar claramente e a "explicar" os ataques de Lula, isso geralmente significa, na lógica da nomenklatura do PT, que parte do governo está realmente preocupada com os danos que Lula causa com suas declarações.

A questão permanece: por que ninguém ousa dizer a Lula que ele está dando um tiro no próprio pé?

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Há mais de 25 anos, o jornalista Alexander Busch é correspondente de América do Sul do grupo editorial Handelsblatt (que publica o semanário Wirtschaftswoche e o diário Handelsblatt) e do jornal Neue Zürcher Zeitung. Nascido em 1963, cresceu na Venezuela e estudou economia e política em Colônia e em Buenos Aires. Busch vive e trabalha em São Paulo e Salvador. É autor de vários livros sobre o Brasil.

O texto reflete a opinião do autor, não necessariamente a da DW.

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