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"Ataques na Dinamarca têm motivos sociais", diz especialista

Najima el-Moussaoui (md)17 de fevereiro de 2015

Lars Erslev Anders, especialista em terrorismo, afirma que atentados de Copenhague, assim como os de Paris, têm ligação com problemas sociais e de integração de imigrantes encontrados na sociedade europeia.

Homenagem às vítimas dos atentados na DinamarcaFoto: picture-alliance/dpa/Pedersen

A Dinamarca viveu no último fim de semana, ainda que em menor escala, o horror do terrorismo experimentado pela França um mês antes. Os ataques deixaram três mortos – dois durante um evento sobre liberdade de expressão e um em frente a uma sinagoga – e fizeram o país debater sua real capacidade de integrar imigrantes.

Para Lars Erslev Andersen, especialista em terrorismo, o autor dos atentados, identificado como o dinamarquês de origem palestina Omar Abdel Hamid el-Hussein, foi de alguma forma influenciado pelos atentados em Paris.

"Vejo quem praticou o ataque como um imitador", afirma Andersen. Segundo ele, os atentados têm ligação com problemas sociais e de integração de imigrantes encontrados na Dinamarca e em outros países da Europa.

DW: Como é possível que um jovem de 22 anos, descrito pelo diretor de sua antiga escola como um "bom aluno" e por colegas de classe como alguém gentil, seja capaz de tal ato?

Lars Erslev Anders: Nos próximos dias temos que nos dedicar a essa questão de forma intensa. Temos alguns indícios para a resposta: o suspeito teve problemas com a lei no passado, o que o levou à prisão, depois que ele atacou uma pessoa com uma faca e quase a matou. Ao mesmo tempo, é justo salientar que o suposto assassino tinha muitos problemas de natureza social. Ele se deixou influenciar por pontos de vista radicais sobre o conflito israelo-palestino e a suposta "guerra" do Ocidente contra o islã. Isso tudo, acredito, tem um papel na explicação de seus motivos.

Qual impacto a prisão dele pode ter tido para sua radicalização?

Em muitos outros casos, os detidos se radicalizaram na prisão, após encontrarem lá pessoas que os manipulavam. Pode ser que isso também se aplique a esse jovem. Em todo caso, a ideia de ser um "guerreiro santo" é, aparentemente, fascinante. Menos no sentido religioso, mais como num papel em que ele queria se inserir.

Que influência os problemas sociais têm nesse caso e que medidas concretas teriam sido úteis?

Não sou assistente social, pesquiso como o terrorismo se forma. Mas acho que é a abordagem errada focar demais as medidas contra radicalização e prevenção de riscos no aspecto da ideologia. Democracia e radicalização são vistas como opostas, ligadas à suposição de que é importante apenas transmitir às pessoas valores democráticos, e que, então, elas estariam mais bem integradas. Eu não acho que o suposto atirador do fim de semana fosse receptivo a essas medidas. Eu acho que seus problemas são profundos. Caso a sociedade dinamarquesa esteja disposta a resolvê-los, deveria se questionar, autocriticamente, se está lidando corretamente com o tema da "integração".

Que tipo de bairro é esse em que o atirador vivia?

Nörrebro é um bairro no norte da cidade, onde muitos jovens vivem: estudantes, mas também imigrantes. Mas o suspeito vivia mais precisamente no limite entre Nörrebro e o bairro de Nordvest. Essa região é como um gueto, onde vivem principalmente imigrantes do Oriente Médio. Quando se chega lá, se tem a sensação de estar no Oriente Médio. Muitas mulheres usam o véu islâmico, há lojas árabes. O bairro também é chamado de "pequena Cairo".

O atentado pode inspirar outros assassinos em potencial para ações semelhantes?

Suspeito que o atentado foi influenciado, de alguma forma, pela série de ataques em Paris em janeiro. Vejo quem praticou o ataque como um imitador. Associações muçulmanas na Dinamarca condenaram o ato como anti-islâmico, mas não podemos excluir a possibilidade de que pessoas queiram imitá-lo.

Desde 2005, quando o jornal dinamarquês Jyllands Posten publicou caricaturas do profeta Maomé, o país esteve em estado de alerta. Até que ponto as autoridades poderiam ter previsto tal ataque?

Eu acho que temos que voltar mais atrás ainda. Tudo mudou desde os ataques do 11 de Setembro, incluindo na Dinamarca. Revisamos nossa legislação penal de acordo com os requisitos das diretrizes da UE sobre combate antiterror. O governo dinamarquês apoia a Força Aérea dos EUA em suas operações antiterrorismo, no Afeganistão e no Iraque. O objetivo era impedir um ataque terrorista que vem de fora.

Mas após os atentados em Londres, em 2005, a percepção sobre uma possível ameaça terrorista mudou. Ficou claro que o terrorismo também pode vir do interior do país, o chamado homegrown terrorism. Esta consciência se intensificou após as caricaturas de Maomé terem desencadeado protestos no mundo muçulmano no início de 2006. Desde então, a Dinamarca está, na minha opinião, bem alto na lista dos jihadistas. Uma série de ataques pode ser evitada – até a semana passada.

Mas como o atirador conseguiu abrir fogo no centro cultural, apesar das medidas de segurança, e ainda atacar de novo horas depois?

Esta é uma das questões que precisam ser esclarecidas pelos investigadores: quais eram as medidas de segurança no evento? Qual era o risco de um ataque em tal evento? Como é que o homem conseguiu se aproximar do prédio e disparar sua arma? Como ele conseguiu escapar?

Você acabou de descrever o que a Dinamarca já está fazendo para prevenir ataques terroristas. Essas medidas são suficientes?

O debate foi focado muito no ano passado no fato de que a ameaça terrorista viria dos que voltam do exterior, que emigraram para a Síria, por exemplo, para serem treinados em campos terroristas e, em seguida, viajaram de volta à Dinamarca para cometer atentados terroristas.

Os exemplos em Paris e, agora, em Copenhague, mostram que os autores desses crimes podem se radicalizar também dentro de países ocidentais. Precisamos entender o ataque em Copenhagen como algo que não vem de fora, mas de dentro, e que as razões para isso têm a ver com a dinâmica sociopolítica do país. Este é um assunto difícil para muitos. Porque ninguém quer admitir que somos parte deste conflito. Sobretudo para os políticos, é mais fácil dizer: "Estamos sob ataque de fora". Espero que o evento deste fim de semana contribua para que repensemos isso.

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