Ataques suicidas deixam ao menos 29 mortos no Iraque
4 de abril de 2016
Atentados em várias regiões do país visam alvos militares e milícias que combatem extremistas. Grupo terrorista "Estado Islâmico" reivindica ataques. Exército retoma controle de vilarejo importante próximo a Mosul.
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Uma série de ataques suicidas matou ao menos 29 pessoas e deixou mais de 60 feridos em várias regiões do Iraque nesta segunda-feira (04/04), segundo autoridades. O grupo extremista "Estado Islâmico" (EI), que controla territórios no norte e oeste do país, reivindicou a autoria dos atentados.
O pior ataque ocorreu na província de Dhi Qar, no sudeste do país, onde ao menos 14 pessoas morreram. Um suicida detonou explosivos dentro de um restaurante que costuma ser frequentado por combatentes de uma milícia paramilitar xiita. Segundo a polícia, outras 27 pessoas ficaram feridas no atentado. O restaurante está localizado na principal estrada que liga o sudeste iraquiano a Bagdá.
Quase no mesmo momento, um suicida detonou um veículo cheio de explosivos na cidade de Basra, matando ao menos dez pessoas e ferindo outras dez. O ataque danificou 30 carros.
No início do dia, um suicida jogou seu carro contra um posto de controle de segurança localizado em um subúrbio no nordeste da capital. Seis militares morreram e outros 13 ficaram feridos no ataque.
Outro atentado à bomba ocorreu na sede de tropas paramilitares da cidade de Mishanda, ao norte de Bagdá, deixando quatro mortos e dez feridos. Ataques ocorreram ainda na província de al-Anbar e no sul da capital.
Ofensiva iraquiana
Segundo militares iraquianos, tropas do governo retomaram nesta segunda-feira o controle do vilarejo-chave de al-Nasr, nos arredores de Mosul, após destruir seis carros bomba que deveriam atacá-las.
No mês passado, forças de segurança iraquianas lançaram uma ofensiva para recuperar Mosul, a segunda maior cidade do país, que está sob controle dos extremistas do EI.
O Ministério do Exterior turco afirmou que um ataque aéreo realizado pela coalizão liderada pelos Estados Unidos destruiu o consulado da Turquia em Mosul nesta segunda-feira. O prédio era ocupado por integrantes do "Estado Islâmico" desde junho de 2014. Ancara autorizou o bombardeio.
Recentemente, forças de segurança iraquianas, apoiadas pela coalizão liderada pelos americanos, conquistaram diversas vitórias contra os extremistas. Em retaliação, o EI promove atentados à bomba contra civis. Segundo as Nações Unidas, ao menos 1,1 mil iraquianos morreram e cerca de 1,5 mil ficaram feridos somente em março, um aumento significativo com relação ao mês anterior. Em fevereiro, o conflito matou 670 pessoas e deixou cerca de 1,2 mil feridos no país.
CN/rtr/ap/afp/lusa
"Estado Islâmico": de militância sunita a califado
Origens do grupo jihadista remontam à invasão do Iraque, em 2003. Nascido como oposição ao domínio xiita e inicialmente um braço da Al Qaeda, EI passou por mudanças e virou uma ameaça internacional.
Foto: picture-alliance/AP Photo
A origem do "Estado Islâmico"
A trajetória do "Estado Islâmico" (EI) começou em 2003, com a derrubada do ditador iraquiano Saddam Hussein pelos EUA. O grupo sunita surgiu a partir da união de diversas organizações extremistas, leais ao antigo regime, que lutavam contra a ocupação americana e contra a ascensão dos xiitas ao governo iraquiano.
Foto: picture-alliance/AP Photo
Braço da Al Qaeda
A insurreição se tornou cada vez mais radical, à medida que fundamentalistas islâmicos liderados pelo jordaniano Abu Musab al Zarqawi, fundador da Al Qaeda no Iraque (AQI), infiltraram suas alas. Os militantes liderados por Zarqawi eram tão cruéis que tribos sunitas no Iraque ocidental se voltaram contra eles e se aliaram às forças americanas, no que ficou conhecido como "Despertar Sunita".
Foto: AP
Aparente contenção
Em junho de 2006, as Forças Armadas dos EUA mataram Zarqawi numa ofensiva aérea e ele foi sucedido por Abu Ayyub al-Masri e Abu Omar al-Bagdadi. A AQI mudou de nome para Estado Islâmico do Iraque (EII). No ano seguinte, Washington intensificou sua presença militar no país. Masri e Bagdadi foram mortos em 2010.
Foto: AP
Volta dos jihadistas
Após a retirada das tropas dos EUA do Iraque, efetuada entre junho de 2009 e dezembro de 2011, os jihadistas começaram a se reagrupar, tendo como novo líder Abu Bakr al-Bagdadi, que teria convivido e atuado com Zarqawi no Afeganistão. Ele rebatizou o grupo militante sunita como Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL).
Foto: picture alliance/dpa
Ruptura com Al Qaeda
Em 2011, quando a Síria mergulhou na guerra civil, o EIIL atravessou a fronteira para participar da luta contra o presidente Bashar al-Assad. Os jihadistas tentaram se fundir com a Frente Al Nusrah, outro grupo da Síria associado à Al Qaeda. Isso provocou uma ruptura entre o EIIL e a central da Al Qaeda no Paquistão, pois o líder desta, Ayman al-Zawahiri, rejeitou a manobra.
Foto: dapd
Ascensão do "Estado Islâmico"
Apesar do racha com a Al Qaeda, o EIIL fez conquistas significativas na Síria, combatendo tanto as forças de Assad quanto rebeldes moderados. Após estabelecer uma base militar no nordeste do país, lançou uma ofensiva contra o Iraque, tomando sua segunda maior cidade, Mossul, em 10 de junho de 2014. Nesse momento o grupo já havia sido novamente rebatizado, desta vez como "Estado Islâmico".
Foto: picture alliance / AP Photo
Importância de Mossul
A tomada da metrópole iraquiana Mossul foi significativa, tanto do ponto de vista econômico quanto estratégico. Ela é uma importante rota de exportação de petróleo e ponto de convergência dos caminhos para a Síria. Mas a conquista da cidade é vista como apenas uma etapa para os extremistas, que pretenderiam avançar a partir dela.
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Atual abrangência do EI
Além das áreas atingidas pela guerra civil na Síria, o EI avançou continuamente pelo norte e oeste iraquianos, enquanto as forças federais de segurança entravam em colapso. No fim de junho, a organização declarou um "Estado Islâmico" que atravessa a fronteira sírio-iraquiana e tem Abu Bakr al-Bagdadi como "califa".
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As leis do "califado"
Abu Bakr al-Bagdadi impôs uma forma implacável da charia, a lei tradicional islâmica, com penas que incluem mutilações e execuções públicas. Membros de minorias religiosas, como cristãos e yazidis, deixaram a região do "califado" após serem colocados diante da opção: converter-se ao islã sunita, pagar um imposto ou serem executados. Os xiitas também eram alvo de perseguição.
Foto: Reuters
Guerra contra o patrimônio histórico
O EI destruiu tesouros arqueológicos milenares em cidades como Palmira (foto), na Síria, ou Mossul, Hatra e Nínive, no Iraque. Eles diziam que esculturas antigas entram em contradição com sua interpretação radical dos princípios do Islã. Especialistas afirmam, porém, que o grupo faturou alto no mercado internacional com a venda ilegal de estátuas menores, enquanto as maiores eram destruídas.
Foto: Fotolia/bbbar
Ameaça terrorista
Durante suas ofensivas armadas, o "Estado Islâmico" saqueou centenas de milhões de dólares em dinheiro e ocupou diversos campos petrolíferos no Iraque e na Síria. Seus militantes também se apossaram do armamento militar de fabricação americana das forças governamentais iraquianas, obtendo, assim, poder de fogo adicional.