Atentado em Berlim eleva divisão entre conservadores alemães
21 de dezembro de 2016
Líder da CSU pede revisão da política de refugiados e é criticado por aliados da CDU por ter se manifestado antes de ser conhecida a identidade do autor de ataque a feira natalina.
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O atentado ao mercado de Natal em Berlim evidenciou ainda mais, nesta terça-feira (20/12), a divisão entre os líderes da união conservadora que integra o governo da chanceler federal Angela Merkel. Horst Seehofer, o presidente União Social Cristã (CSU) – tradicional aliada da União Democrata Cristã (CDU), de Merkel – foi criticado por declarações feitas logo após o ataque.
Mesmo antes da identificação do autor pelos investigadores, Seehofer, que é também governador da Baviera, atacou a política de refugiados de Merkel, pedindo uma revisão das políticas migratórias e de segurança do governo federal. "Devemos isso às vítimas, aos atingidos e à população como um todo", afirmou, passadas 14 horas do ataque.
Merkel visita local do ataque em Berlim
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Naquele momento já havia dúvidas de que um refugiado paquistanês, detido logo após o atentado, fosse de fato o motorista do caminhão que avançou sobre o mercado de Natal, causando a morte de 12 pessoas e ferindo 48. Horas depois, o suspeito acabaria sendo liberado pelas autoridades, e a polícia informaria que o autor ainda estava à solta.
À noite, num programa de televisão, o vice-presidente da CDU, Armin Laschet, criticou a postura do líder bávaro com palavras duras e pouco usuais entre os aliados conservadores, afirmado que "não é uma atitude comum na política" tirar conclusões antes que os fatos estejam esclarecidos.
"E se o agressor vier de dentro do país ou de um país vizinho, como nos ataques de Nice e Bruxelas?", questionou Laschet, acrescentando que só se pode apontar um culpado "quando os fatos estiverem sobre a mesa". Ele afirmou ser necessário aguardar "até que a polícia tenha feito seu trabalho".
Críticos afirmaram que o líder bávaro estaria usando a tragédia em Berlim para obter vantagens políticas. Seehofer rejeitou com veemência essa crítica. "Não fiz isso para ganhar pontos de forma barata", disse ao jornal Süddeutsche Zeitung.
Há meses que CDU e CSU se desentendem no debate sobre a política de refugiados do governo federal. O partido bávaro exige a imposição de limites para a migração. Seehofer ameaçou que se não houver avanços nesse sentido, sua legenda poderá ir para a oposição após as eleições de 2017.
Ele chegou a prometer aos seus eleitores que seu partido apenas participará de uma futura coalizão governista se um limite para o ingresso de refugiados fizesse parte do programa de governo. A CDU, porém, se opõe à proposta, assim como o Partido Social-Democrata (SPD).
Outros líderes da CSU também utilizaram o ataque em Berlim para criticar a política migratória de Merkel. O secretário do Interior da Baviera, Joachim Hermann, e o secretário de Finanças do estado, Markus Söder, pediram a revisão do sistema de migração e do controle das fronteiras.
RC/dpa/afp/rtr/ots
O que se sabe sobre a tragédia em Berlim
Reunimos os principais fatos sobre o ataque com um caminhão à feira de Natal na praça Breitscheidplatz, no bairro de Charlottenburg, em Berlim.
Foto: Reuters/P. Kopczynski
O local
Por volta das 20h (hora local) de segunda-feira (19/12), um caminhão avançou contra uma feira de Natal na praça Breitscheidplatz, no bairro de Charlottenburg, em Berlim. A praça diante da Igreja Memorial do Imperador Guilherme é um destino turístico conhecido. Próximos dali ficam a Estação Zoo e a famosa avenida Kurfürstendamm.
Foto: Google Earth
O que ocorreu
O caminhão invadiu a calçada e avançou cerca de 80 metros sobre a feira de Natal, atropelando pessoas e destruindo barracas. As autoridades dizem não haver dúvidas de que se trata de um atentado e partem do princípio de que seja um ato terrorista.
Foto: Reuters/F. Bensch
As vítimas
Ao menos 12 pessoas morreram e outras 56 ficaram feridas, 30 das quais em estado grave. Oito dos mortos foram identificados como alemães, um homem é polonês, uma mulher é israelense, uma segunda é italiana e um outra é da República Tcheca.
Foto: Reuters/P. Kopczynski
A vítima polonesa
A primeira vítima do atentado foi o polonês Lukasz U., de 37 anos, motorista do caminhão sequestrado pelo autor do ataque. Segundo investigadores, o polonês foi esfaqueado diversas vezes, sugerindo que teria tentado reassumir o volante do veículo. Após a autópsia, contudo, constatou-se que Lukasz fora fuzilado horas antes do ataque. A polícia encontrou o corpo do polonês na cabine do veículo.
Foto: picture alliance/AP Photo/Str
As investigações
As investigações foram encaminhadas à Procuradoria Federal, responsável por casos de terrorismo. Os motivos do atentado ainda são desconhecidos, mas ele é investigado como sendo um atentado terrorista. Investigadores falam que várias pessoas podem estar envolvidas. Uma operação de busca foi realizada pela polícia num abrigo de refugiados de Berlim.
Foto: Reuters/P. Kopczynski
O primeiro suspeito
O refugiado paquistanês detido por suposto envolvimento no ataque foi solto pelas autoridades. A Procuradoria Federal comunicou que não foi expedido nenhum mandado de prisão contra o jovem de 23 anos, que entrou no país como refugiado em 31 de dezembro de 2015. As investigações não conseguiram provar que ele esteve na cabine do caminhão. Não havia, por exemplo, manchas de sangue na roupa dele.
Foto: Reuters/H. Hanschke
O segundo suspeito
Anis Amri, um tunisiano de 24 anos, é o principal suspeito. Ele foi morto por policiais italianos quatro dias depois do ataque. Amri chegou à Alemanha em 2015 e teve pedido de refúgio negado em junho de 2016. Como não pôde ser deportado por questão burocrática, passou a ser "tolerado". Ele circulava entre Berlim e o estado da Renânia do Norte-Vestfália. Um documento dele foi encontrado na cabine.
Foto: picture-alliance/dpa/Bundeskriminalamt
Os responsáveis
O tunisiano Anis Amri, de 24 anos, é o suspeito de ser o condutor do caminhão. Ele foi morto por policiais italianos na madrugada desta sexta-feira. Um documento dele, de "refugiado tolerado" na Alemanha, foi encontrado na cabine do caminhão. O "Estado Islâmico" assumiu a autoria do ataque.