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TerrorismoRússia

Atentados que marcaram a história recente da Rússia

Natalia Smolentceva
23 de março de 2024

Ataques terroristas nos últimos 25 anos vitimaram centenas de pessoas no país; motivação foi ora separatista, ora religiosa. Reação estatal permitiu ao Kremlin consolidar seu poder e restringir liberdades no país.

Dois homens mascarados com roupas camufladas portando armas e escudos
Forças de segurança russas atuam durante ataque terrorista a uma casa de shows em MoscouFoto: Sergei Vedyashkin/AP Photo/picture alliance

O atentado a tiros em uma casa de shows em Moscou na última sexta-feira (22/03) é o mais mortal ataque terrorista cometido na Rússia nas últimas duas décadas. Desde 1999, o país testemunhou diversos episódios do tipo, de autoria atribuída à Tchetchênia – uma das repúblicas pertencentes à Federação Russa – e a outras regiões no norte do Cáucaso, e de motivação ora religiosa, ora separatista.

O combate ao terror permitiu ao Kremlin consolidar seu poder e restringir liberdades civis.

A DW relembra outros ataques terroristas na história recente do país e suas consequências políticas.

1999: Bombas em apartamentos

Em setembro de 1999, a Rússia registrou quatro explosões em prédios residenciais nas cidades de Moscou, capital russa; Buynaksk, na República do Daguestão; e Volgodonsk, no sul do país. Os ataques, que espalharam uma onda de medo pelo país, deixaram mais de 300 mortos e outros mais de 1,7 mil feridos.

Enquanto o Kremlin culpou milícias tchetchenas pelos episódios, vários jornalistas e analistas russos ventilaram a hipótese – dispensada por alguns como conspiracionista – de que os atentados a bomba tenham sido orquestrados pela própria inteligência russa.

As explosões foram uma das justificativas para o envio de tropas russas à Tchetchênia, deflagrando a Segunda Guerra da Tchetchênia e impulsionando a popularidade de Vladimir Putin, então primeiro-ministro à época e futuro candidato à Presidência, cargo ao qual ele foi alçado em 2000.

2002: Crise dos reféns do Teatro Dubrovka

Em outubro de 2002, militantes tchetchenos armados invadiram o Teatro Dubrovka, no centro de Moscou, durante uma apresentação do popular musical "Nord-Ost". O local estava lotado, e mais de 900 pessoas, entre público e artistas, foram feitas reféns. Os sequestradores exigiam que as tropas russas deixassem a Tchetchênia.

Após três dias de negociações, forças especiais russas conseguiram adentrar o teatro, auxiliadas pela liberação de um gás no local, cuja composição é até hoje desconhecida. A operação resultou na morte de todos os 40 sequestradores – e, ainda, de cerca de 130 reféns. Outras centenas de vítimas ficaram feridas, principalmente em decorrência do gás e do tempo decorrido até receberem assistência médica.

O sequestro desencadeou uma ofensiva contra separatistas tchetchenos. Putin prometeu responder com medidas "adequadas à ameaça, atingindo todos os locais onde terroristas possam estar localizados". O Duma, câmara baixa da Rússia, também aprovou leis antiterrorismo, incluindo restrições à imprensa.

Nos anos seguintes ao sequestro, grupos de direitos humanos relataram assédio policial a tchetchenos em Moscou.

2004: Cerco a escola em Beslan

Em 1º de setembro de 2004, no primeiro dia do novo ano letivo russo, terroristas armados ocuparam uma escola na cidade de Beslan, na República da Ossétia do Norte-Alânia, fazendo mais de 1,1 mil reféns, dos quais 777 eram crianças.

Os sequestradores, rebeldes tchetchenos comandados por Shamil Basayev, exigiam a saída das tropas russas da Tchetchênia e o reconhecimento da independência da região.

Daquela vez, as autoridades russas não negociaram. No terceiro dia de cerco à escola, forças de elite invadiram a propriedade sob o argumento de que terroristas haviam detonado bombas ali dentro. Algumas testemunhas e alguns investigadores alegam que as bombas explodiram após os primeiros tiros serem disparados em direção à escola, vindos de fora.

A operação deixou 334 reféns mortos, dentre eles 183 crianças. Outros 31 sequestradores também foram mortos.

Anos 2010: ataques suicidas a bomba

Na década de 2010, a Rússia registrou diversos ataques suicidas a bomba – a maioria ligada a milícias jihadistas no norte do Cáucaso.

Em março de 2010, dois ataques do tipo foram realizados dentro do metrô de Moscou, matando 40 e ferindo mais de 100.

Em 2011, um outro episódio no desembarque internacional do Aeroporto Domodedovo, em Moscou, matou 37 e deixou outros 173 feridos.

Em outubro de 2013, uma bomba explodiu em um ônibus na cidade de Volgogrado. Em dezembro daquele mesmo ano, outras duas bombas foram detonadas em uma estação de trem e em um ônibus elétrico. O saldo dos três ataques é de mais de 40 vítimas.

Em abril de 2017, outro ataque por explosivos atingiu o metrô em São Petersburgo, matando 15 pessoas e ferindo outras 45.

Diferentemente dos ataques à escola em Beslan e ao Teatro Dubrovka, os terroristas não fizeram nenhuma exigência às autoridades russas na esteira das explosões.

Os episódios motivaram diversas operações do governo russo no norte do Cáucaso, com a adoção de medidas de segurança mais rígidas no transporte público em todo o país.

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