Ativistas de Hong Kong condenados a até 18 meses de prisão
16 de abril de 2021
Entre os dez líderes do movimento pró-democracia condenados estão o magnata da mídia Jimmy Lai e o "pai da democracia" de Hong Kong, Martin Lee. Cinco ativistas receberam sentenças suspensas, outros cinco serão presos.
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Dez dos principais líderes do movimento pró-democracia de Hong Kong foram condenados a penas de prisão, nesta sexta-feira (16/04), por terem participado da organização de marchas durante os protestos antigovernamentais de 2019, que desencadearam uma repressão contundente de Pequim.
Entre os condenados estão o magnata da comunicação Jimmy Lai, fundador do jornal Apple Daily, tabloide crítico do governo, e o proeminente advogado e ex-deputado Martin Lee, de 82 anos, considerado o pai da democracia de Hong Kong e que atua em prol dos direitos humanos desde os anos 1980, quando o território ainda era um colônia britânica.
Os dois e outros sete ativistas foram considerados culpados no início deste mês por terem organizado e participado de um protesto em 18 de agosto de 2019, quando cerca de 1,7 milhão de pessoas marcharam pelas ruas da cidade contra um projeto de lei que permitiria a extradição de suspeitos de crimes à China continental.
Na época, os organizadores da Frente de Direitos Humanos Civis receberam a permissão para realizar um comício no Parque Vitória, mas não a marcha, o que acabou por ocorrer quando as multidões se espalharam pelas ruas, ocupando as principais vias da cidade numa caminhada até os principais edifícios do governo. Diferentemente de muitos protestos em 2019, este permaneceu pacífico.
Os réus foram presos em abril de 2020 entre um grupo de 15 pessoas acusadas de organizar o comício e outros dois protestos. A ação das autoridades de Hong Kong gerou repreensão e condenação internacional, incluindo uma notificação formal das Nações Unidas.
O magnata Lai e o ativista veterano e ex-deputado Lee Cheuk-yan – conhecido por ajudar a organizar as vigílias anuais à luz de velas em Hong Kong no aniversário da repressão sangrenta aos protestos pró-democracia na Praça da Paz Celestial de Pequim em 1989 – receberam sentenças adicionais pelo protesto realizado em 31 de agosto de 2019, assim como o também ex-deputado Yeung Sum, impugnado somente por este ato.
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Cinco sentenças de prisão, cinco sentenças suspensas
As condenações dos 10 ativistas são o mais recente golpe para o movimento democrático em Hong Kong, em meio a uma série de manobras de repressão política encaminhas pelas autoridades de Pequim e da região semiautônoma contra dissidentes.
O jurista Lee, de 82 anos, é um ex-legislador conhecido por sua advocacia pelos direitos humanos e pela democracia em Hong Kong. Antes da transferência da antiga colônia britânica à China, em 1997, Lee foi um dos juristas escolhidos para redigir a Lei Básica do território, uma miniconstituição que deveria vigorar durante 50 anos.
A corte levou em consideração sua idade avançada e Lee recebeu uma sentença suspensa de 11 meses. Outros quatro ativistas também receberam sentenças suspensas.
Lai e Lee Cheuk-yan receberam sentenças quem somam 14 meses de prisão. A sentença mais longa foi aferido a Leung Kwok-hung, também ex-deputado do Conselho Legislativo de Hong Kong e que chegou a concorrer ao posto de chefe-executivo do território semiautônomo.
Os advogados Albert Ho e Margaret Ng tiveram suas sentenças de prisão de 12 meses suspensas. A ex-deputada Cyd Ho foi condenada a oito meses de prisão. Au Nok-hin e Leung Yiu-chung, os dois ex-legisladores que se declararam culpados previamente ao julgamento, também foram condenados. Au recebeu uma pena de 10 meses de prisão, enquanto a pena de oito meses de Leung foi suspensa.
As sentenças:
Pelo protesto de 18 de agosto de 2019:
Jimmy Lai – 12 meses
Lee Cheuk-yan – 12 meses
Leung Kwok-hung – 18 meses
Au Nok-hin – 10 meses
Cyd Ho – oito meses
Martin Lee – 11 meses (suspensa)
Albert Ho – um ano (suspensa)
Margaret Ng – um ano (suspensa)
Leung Yiu-chung – oito meses (suspensa)
Pelo protestos de 31 de agosto de 2019:
Jimmy Lai – outros dois meses
Lee Cheuk-yan – outros dois meses
Yeung Sum – oito meses (suspensa)
Separadamente, antes da sentença desta sexta-feira, o magnata foi acusado formalmente de comprometer a segurança nacional por conspiração com potências estrangeiras e intervir nos assuntos da cidade a segurança nacional – um novo crime sob uma lei de segurança nacional imposta à Hong Kong em 2020 pelo governo central de Pequim.
pv (ap, lusa, rtr, afp, ots)
Em 1997, Hong Kong era restituída à China
Duas décadas depois de Hong Kong retornar ao domínio chinês, predomina entre muitos moradores a insatisfação com a ingerência de Pequim e o desejo por mais democracia.
Foto: Reuters/D. Martinez
1997 - Devolução à China
Após 156 anos de domínio britânico, Hong Kong era devolvida à China exatamente à zero hora de 1º de julho de 1997. Soldados do Exército de Libertação Popular içaram a bandeira chinesa, em sinal de supremacia sobre a antiga colônia britânica. O contrato para a devolução já havia sido assinado em 1984.
Foto: Reuters/D. Martinez
1998 - Ameaça de crise econômica
A crise financeira asiática de 1997-98 levou economias emergentes a impor controles comerciais ou à compra de ativos para tranquilizar investidores. Hong Kong surpreendeu o mercado em agosto de 1998 com uma intervenção de 15 bilhões de dólares para se defender de ataques especulativos. Os apoiadores da iniciativa dizem que isso salvou a cidade.
Foto: Reuters/L. Chan
1999 - Reagrupamento de famílias
As esperanças de um rápido reagrupamento das famílias separadas pela fronteira foram logo destruídas. Embora a Suprema Corte de Hong Kong tivesse concedido amplos direitos de residência, o governo chinês derrubou a decisão a pedido do governo de Hong Kong. Na foto, mais de cem visitantes da China continental protestaram para obter permissão de residência imediata em Hong Kong.
Foto: Reuters/B. Yip
2000 - Sucesso com a bolha
Em fevereiro de 2000, investidores entraram numa fila diante do banco HSBC para comprar ações da empresa Tom.com. Ao se lançar na bolsa de valores, a empresa – que existia apenas na internet – do bilionário Li Ka-shing conseguiu angariar quase 100 milhões de dólares pouco antes de estourar a bolha "dot-com".
Foto: Reuters/B. Yip
2001 - Conflito com grupo espiritual
Seguidores do movimento espiritual Falun Gong protestam regularmente em Hong Kong desde que o grupo foi banido pela China em 1999, sob a acusação de divulgar superstições e manipular as pessoas psicologicamente. Em 2002, 16 seguidores foram condenados por causa de protestos diante da representação da China em Hong Kong. A Suprema Corte do território reverteu metade das sentenças.
Foto: Reuters/K. Cheung
2002 - Famílias desesperadas
A questão das autorizações de residência acirrou-se em 2002, quando Hong Kong começou a deportar 4 mil chineses continentais que haviam perdido batalhas legais para residir no território. Houve protestos dos solicitantes e de seus apoiadores. Na foto, parentes de migrantes chineses depois de terem sido expulsos de um parque no centro de Hong Kong.
Foto: Reuters/K. Cheung
2003 - Nas mãos de um vírus
A Sars, uma doença viral semelhante à gripe, atingiu Hong Kong de tal forma que, em março de 2003, a Organização Mundial da Saúde a declarou uma pandemia. Até a cidade ser considerada livre da doença, em junho, 299 pessoas morreram, entre elas Tse Yuen-man. A médica de 35 anos esteve entre os primeiros voluntários a cuidar de pacientes com Sars. Em seu funeral, ela recebeu as mais altas honras.
Foto: Reuters/B. Yip
2004 - Frustração com Pequim
Centenas de milhares de pessoas participaram de protestos no sétimo aniversário da devolução à China. Pequim descartou o sufrágio universal em Hong Kong em 2007 ou 2008 e continuou freando as reformas políticas. Além disso, a China decretou que o governo de Pequim precisa aprovar qualquer alteração no direito de voto em Hong Kong, o que praticamente elimina qualquer aspiração democrática.
Foto: Reuters/B. Yip
2005 - Violência em protestos
Reuniões da Organização Mundial do Comércio regularmente são alvos de protestos dos adversários da globalização. Em Hong Kong, no final de 2005, não foi diferente. A polícia usou canhões de água e gás lacrimogêneo contra os manifestantes.
Foto: Reuters/L. Jae-Won
2006 - Conflito com o Japão
A China e o Japão disputavam um grupo de ilhas desabitadas. Acreditava-se que perto delas houvesse reservas de petróleo e de gás. Em outubro, um barco com ativistas de um comitê para defender as ilhas Diaoyi e que tem base em Hong Kong se aproximou 20km da ilha principal até ser interceptado por um barco de patrulha japonês.
Foto: Reuters/P. Yeung
2007 - Preservar a história
Um píer da era colonial tornou-se pivô de nova polêmica. O governo queria removê-lo para recuperar terras e construir estradas. Ativistas furiosos que consideravam o píer um local histórico lutaram pela sua preservação. O embate atingiu seu ponto alto em agosto, quando a polícia removeu um acampamento de ativistas e pessoas em greve de fome que já durava três meses. Em 2008, o píer foi demolido.
Foto: Reuters/P. Yeung
2008 - Morar em gaiolas
Terrenos cada vez mais caros tornaram os aluguéis impagáveis para muitas pessoas em Hong Kong. Milhares de moradores passaram a viver em gaiolas, onde dispunham de cerca de 1,4 m2. Em geral, um cômodo tem oito dessas caixas de arame. Em 2017, estima-se que 200 mil pessoas vivam assim ou disponham de apenas uma cama em apartamentos divididos.
Foto: Reuters/V. Fraile
2009 - Contra o esquecimento
Moradores de Hong Kong vestidos de preto e branco fizeram uma vigília no 20º aniversário da violenta repressão aos manifestantes pró-democracia na Praça da Paz Celestial em Pequim em 1989. O Victoria Park, no centro de Hong Kong, transformou-se num mar de velas.
Foto: Reuters/A. Tam
2010 - Projetos indesejados
Crescia em Hong Kong a insatisfação devido à falta de democracia e o fato de o governo não ter de prestar contas. As raiva coletiva é descarregada em forma de protestos contra os planos do governo de construir um trajeto para trens de alta velocidade ligando Hong Kong ao continente. O projeto ferroviário, não implementado até hoje, previa a destruição de um vilarejo.
Foto: Reuters/B. Yip
2011 - Protestos com papel
Um controverso projeto de lei que eliminou o mecanismo de eleições suplementares para o Conselho Legislativo gerou vários dias de protestos em frente ao prédio do conselho. Centenas de manifestantes jogaram aviões de papel com mensagens políticas contra o prédio.
Foto: Reuters/B. Yip
2012 - Desafios da administração
Leung Chun-ying (à esquerda) presta juramento como chefe de governo da região administrativa especial, diante do então presidente chinês, Hu Jintao. Ele prometeu mais democracia e moradias mais acessíveis. Apesar de medidas de contenção, os preços continuaram subindo, e as reformas políticas ainda estão emperradas. Leung Chun-ying não concorreu a um novo mandato.
Foto: REUTERS/File Photo/B. Yip
2013 - Hong Kong no foco da imprensa
Quando começaram a ser publicadas notícias sobre Edward Snowden e segredos dos EUA, o especialista em TI estava em Hong Kong. Apesar de os Estados Unidos terem pedido sua extradição, Hong Kong deixou Snowden voar para Moscou, onde ele recebeu asilo político. Enquanto alguns veem em Snowden um denunciante corajoso, outros o consideram um traidor da pátria.
Foto: Reuters/B. Yip
2014 - Protestos de guarda-chuva
Durante dois meses, Hong Kong teve grandes manifestações pró-democracia. A exigência era a escolha completamente democrática do chefe de governo. A marca registrada dos protestos foram os guarda-chuvas usados pelos manifestantes para se proteger do spray de pimenta da polícia. As manifestações são vistas como o maior desafio à autoridade da China desde o movimento por mais democracia, em 1989.
Foto: Reuters/T. Siu
2015 - Liberdade de expressão no estádio
A partida de futebol entre China e Hong Kong pelas eliminatórias da Copa de 2018 foi palco de protestos. Torcedores de Hong Kong empunharam cartazes com os dizeres "Hong Kong não é China" enquanto era tocado o hino nacional chinês. Há muita tensão entre os dois lados desde os "protestos dos guarda-chuvas". O jogo acabou em 0 a 0.
Foto: Reuters/B. Yip
2016 - Até correr sangue
Novos protestos foram realizados em Hong Kong. Mais uma vez, a polícia usou spray de pimenta e cassetetes. A razão: as autoridades tentaram remover vendedores de rua ilegais num bairro operário. Foram as mais violentas batalhas de rua desde os protestos de 2014.
Foto: Reuters/B. Yip
2017 - O tempo passa
No parque memorial rei George 5º, um dos poucos parques onde ainda há uma ligação com o passado colonial, as raízes de uma figueira cobrem uma placa, 20 anos após a devolução de Hong Kong à China pelos britânicos.