Polícia interrompe protesto por cancelamento de desfile contra homofobia patrocinado anualmente por Havana. Ao menos três militantes são presos. Autoridades atribuem decisão à "atual conjuntura" do país.
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A polícia de Cuba interrompeu neste sábado (11/05) uma marcha pelos direitos LGBT, que fora organizada como protesto pelo cancelamento do desfile contra a homofobia, patrocinado anualmente pelo governo e cancelado esta semana pelas autoridades do país.
Aos gritos de "sim, é possível!", os cerca de 100 manifestantes conseguiram caminhar apenas 400 metros pela famosa avenida Paseo del Prado, no centro histórico de Havana, antes de serem dispersados pela polícia. Pelo menos três manifestantes foram detidos.
O ativistas protestaram contra o cancelamento da tradicional "conga", organizada anualmente há mais de 10 anos, no Dia contra a Homofobia, pelo Centro Nacional de Educação Sexual (Cenesex), sob o patrocínio do Ministério da Saúde cubano.
Na segunda-feira, o Cenesex – dirigido por Mariela Castro, filha de Raúl Castro e ativista LGBT – anunciou na sua página oficial no Facebook que a decisão de cancelar o evento fora tomada pelo ministério "dada a atual conjuntura vivida pelo país", que se prepara para enfrentar a pior crise econômica em décadas.
O cancelamento coincide com as medidas de austeridade anunciadas pelo governo de Cuba, incluindo racionamento de produtos básicos. O governo cubano atribuiu a escassez no abastecimento ao recrudescimento dos embargos dos Estados Unidos. Economistas também apontam como causas a ineficiência da economia cubana e a crise na Venezuela, o principal parceiro comercial da ilha.
A marcha de protesto foi a segunda passeata organizada independentemente de instituições estatais – algo até então raro em Cuba – em pouco mais de um mês, embora a anterior, em defesa dos direitos dos animais, tinha recebido autorização das autoridades locais.
"Este momento marca um antes e um depois para a comunidade LGBT, mas também para a sociedade civil cubana em geral", avaliou o jornalista independente e ativista LGBT Maykel Gonzalez Vivero. " A mídia social está desempenhando seu papel, e a sociedade civil demonstrou que tem força e pode sair às ruas se necessário, e a partir de agora o governo terá que levar isso em conta."
Os ativistas promoveram a marcha nas redes sociais, graças à expansão da internet em Cuba nos últimos anos, com um número crescente de cubanos se mobilizando online sobre certas questões.
Mas o governo continua mantendo um controle rigoroso sobre espaços públicos físicos, autorizando apenas manifestações de apoio ao governo, como o recente desfile do Dia do Trabalho.
A "conga" de Havana era uma exceção, que se tornou um evento regular, e um lembrete de que o governo, que já enviou gays a campos de trabalho forçado nos primeiros dias da revolução de 1959 de Fidel Castro, fez avanços consideráveis nos direitos LGBT nos anos recentes.
Havana garante os direitos dos homossexuais e proíbe a discriminação com base na sexualidade, em uma região onde alguns países ainda têm leis contra sodomia.
Alguns ativistas LGBT dizem que sentiram que o cancelamento da "conga" é um sinal de que esses direitos estão sendo corroídos, possivelmente porque uma recente consulta pública sobre uma nova Constituição revelou haver mais oposição à comunidade gay do que se pensava anteriormente.
O desfile de 2019 teria sido o primeiro depois da aprovação em abril da nova Constituição cubana, que chegou a ter prevista uma modificação abrindo caminho ao casamento homossexual, embora não tenha sido incluída no texto final. Muitos cubanos expressaram sua oposição à mudança. Igrejas evangélicas também realizaram campanhas sem precedentes contra a modificação.
MD/lusa/afp/rtr
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Quase nada em Cuba lembra de como era a vida antes dos Castro. O dia 19 de abril de 2018 marca o fim das quase seis décadas de governo dos irmãos Fidel e Raúl.
Foto: Reuters
1959 - A revolução triunfa
O rebeldes liderados por Fidel Castro chegam ao poder depois de derrubar o ditador Fulgencio Batista em janeiro. Os EUA reconhecem o novo governo. Logo, "leis revolucionárias" (como a reforma agrária) afetam empresas americanas. Em dezembro, o presidente republicano Dwight D. Eisenhower aprova um plano da CIA para derrubar Castro em um ano e substitui-lo por "uma junta amiga dos EUA".
Foto: AP
1960 − Aproximação com a União Soviética
Eisenhower proíbe exportações para Cuba (exceto de alimentos e remédios) e suspende a importação de açúcar. Cuba responde nacionalizando bens e empresas americanas e estabelecendo relações diplomáticas e comerciais com a União Soviética. No funeral das vítimas da explosão do cargueiro francês La Coubre (foto), Cuba responsabiliza a CIA, e Castro lança seu lema "pátria ou morte!"
Foto: AP
1961 − Ruptura e invasão fracassada
Os EUA rompem relações diplomáticas com Cuba e fecham sua embaixada em Havana em 3 de janeiro. Após uma série de bombardeios em aeroportos e incêndios em estabelecimentos comerciais, cuja autoria Cuba atribui aos EUA, Fidel proclama o caráter socialista da revolução em 16 de abril. Entre 17 e 19 daquele mês, cubanos treinados pelos EUA tentam invadir a ilha pela Baía dos Porcos, mas fracassam.
Foto: AP
1962 - A crise dos mísseis
"Não sei se Fidel é comunista, mas eu sou fidelista", disse em 1960 o líder soviético Nikita Kruchov. Moscou reata relações diplomáticas com Havana e eleva seu apoio. A URSS instala bases de mísseis nucleares em Cuba, desencadeando a "crise dos mísseis". Moscou cede à pressão de Kennedy em troca de os EUA se comprometerem a não invadir Cuba e desativarem suas bases nucleares na Turquia.
Foto: imago/UIG
1971 – Fidel Castro no Chile
O episódio da Baía dos Porcos acelera a proclamação do caráter socialista, marxista-leninista, da revolução. Cuba acaba sendo expulsa da Organização dos Estados Americanos. Castro fica isolado no continente, mas não para sempre. Ele é recebido no Chile pelo presidente Salvador Allende (foto), que iria ser derrubado por Augusto Pinochet em 1973.
Foto: AFP/Getty Images
1989 – A hora da Perestroika
A chegada ao poder de Mikhail Gorbatchov em Moscou marca o início da era da Glasnost e Perestroika. A Cortina de Ferro começa a ruir, e o império soviético se esfacela. Cuba perde sua principal base de sustentação no exterior, entrando em crise aguda. Milhares de cubanos tentam fugir para Miami em embarcações precárias. Muitos analistas preveem o fim do regime castrista.
Foto: picture-alliance/dpa
1998 – Primeira visita do papa
Um decreto de Pío 12 proibia aos católicos o apoio a regimes comunistas. Em virtude disso, o Vaticano excomungou Fidel Castro em janeiro de 1962. Mas, com o fim da Guerra Fria, chega o momento da reaproximação: em 1996, Castro visita o papa João Paulo 2°, e este retribui a visita dois anos depois, em viagem considerada histórica.
Foto: picture-alliance/AP/Michel Gangne
2002 - Fidel Castro e Jimmy Carter jogam beisebol
Desde que os EUA impuseram seu embargo comercial, econômico e financeiro, em 1962, houve poucos momentos de distensão entre Washington e Havana. Um deles foi a viagem do ex-presidente americano Jimmy Carter a Cuba, em 2002, motivada pela intenção de encontrar pontos de aproximação.
Foto: Adalberto Roque/AFP/Getty Images
2006 - Fidel e Hugo
A partir dos anos 90, Cuba deixa de ser vista como uma perigosa exportadora de revoluções. Com a derrocada do bloco comunista no Leste Europeu, as ideologias de esquerda entram em crise. Mas, na Venezuela, chega ao poder um novo dirigente, disposto a propagar a "Revolução Bolivariana". Hugo Chávez, declarado admirador de Fidel, passa a dar a Havana um respaldo importante, também na área econômica.
Foto: picture-alliance/dpa/dpaweb
2006 - A entrega do poder
A doença forçou Fidel Castro a abandonar o poder. Em 2006, ele o deixa nas mãos de seu irmão Raúl, uma garantia de que não haveria reviravoltas num sistema que, apesar dos avanços em educação e saúde, cobrou um alto preço: o da falta de liberdade e repressão. Fidel foi se despedindo do poder aos poucos, defendendo até o fim sua visão, através das páginas do jornal "Granma".
Foto: picture-alliance/AP Photo/Cristobal Herrera
2014 - Degelo temporário
Em dezembro de 2014, os presidentes dos EUA, Barack Obama, e o de Cuba, Raúl Castro, anunciaram que retomariam as relações diplomáticas. Obama visitou Cuba em março de 2016. Haviam se passado 88 anos desde a última vez que um presidente americano viajara à ilha. EUA retirou Cuba da lista de terrorismo, dando início ao processo de retomada das relações diplomáticas.
Tantas vezes anunciada e desmentida, a morte do líder foi inicialmente recebida com desconfiança. Entretanto, em 25 de novembro de 2016, os bares fecharam mais cedo e as reuniões de amigos nas ruas se dispersaram com a notícia. Durante anos, Fidel Castro desmentiu rumores de sua morte com a publicação de fotografias ou artigos de opinião.
Foto: Getty Images
2018 – A sucessão
Depois de dez anos, Raúl Castro se retira do poder. Em 19 de abril, o Parlamento cubano elegerá um sucessor que, pela primeira vez em quase 60 anos, não leva o sobrenome Castro: o vice de Raúl, Miguel Díaz Canel. Entretanto, analistas julgam improvável que o curso político em Cuba se modifique logo.