Ativistas urcranianos temem sequestros, espancamentos e assassinatos
28 de janeiro de 2014Em grandes letras pretas sobre um fundo branco, uma faixa com os dizeres "Belarus está com vocês" foi colocada sobre uma barricada de três metros de altura feita com sacos de neve e que impede o acesso pela rua Institutska à Praça Maidan, a Praça da Independência na capital ucraniana Kiev.
A mensagem parece tratar-se de um gesto de solidariedade de oposicionistas do país vizinho aos manifestantes na Ucrânia, mas também pode ser entendida de outra forma: a situação na Ucrânia não é diferente da de Belarus.
Morte na floresta com mãos amarradas
Tal interpretação é ilustrada por uma foto pendurada junto à faixa sobre a barricada. A imagem mostra um homem barbudo de olhos sábios. Yuri Verbizki, um sismólogo de 50 anos proveniente de Lviv, cidade do oeste da Ucrânia, foi encontrado morto numa floresta próximo a Kiev no último dia 22/01.
Suas mãos estavam amarradas com fita adesiva e seu corpo apresentava marcas de tortura. Os detalhes não são conhecidos. Verbizki morreu de hipotermia, constataram os médicos. Atualmente, as temperaturas na Ucrânia giram em torno de 15°C negativos. A polícia está investigando o caso, há suspeitas de assassinato.
Verbizki participou de protestos em Kiev e foi ferido no olho. Ele foi levado ao hospital por outro ativista, Ihor Lutsenko. De lá, eles foram raptados por cerca de dez desconhecidos. Em seguida, foram levados para uma floresta e espancados, segundo Lutsenko relatou em entrevista à DW.
"Eram pessoas fiéis ao governo e ao presidente", disse o ativista, que está hospitalizado num hospital de Kiev. "Eles estão dispostos a tudo, até a matar para proteger o país – é assim que essas pessoas veem os protestos na Praça da Independência."
Lutsenko disse acreditar que os sequestradores de Verbizki não tinham a intenção de matá-lo. "Por outro lado, eles também não cuidaram para que ele sobrevivesse", afirmou. Eles queriam antes "dar uma lição" nos ativistas, supõe Lutsenko. Segundo ele, o grupo também poderia estar atuando em outros lugares.
Desaparecimento do líder do "Automaidan"
O sequestro e o espancamento dos dois ativistas não representa casos isolados. Também desde o dia 22, Dmytro Bulatov está desaparecido. O ativista de 35 anos é um dos líderes do autodenominado Automaidan, um grupo formado na maioria por jovens que, com os seus próprios carros, se tornou uma das principais forças por trás dos protestos na Ucrânia.
Durante uma manifestação no dia 19 de janeiro, um domingo, foi Bulatov que conclamou os dirigentes oposicionistas a chegarem a um consenso sobre um único líder para os protestos. A recusa da oposição levou a uma radicalização das manifestações na rua Hrushevskoho. Posteriormente, Bulatov declarou que o "Automaidan" apoiaria o ex-boxeador Vitali Klitschko, líder do Partido Udar ("soco").
Os ativistas do Automaidan rodam pela cidade e tentam bloquear ônibus levando unidades especiais da polícia. Numa dessas ações, por volta de dez ativistas foram presos, seus carros foram destruídos pelos policiais.
A polícia informou que Bulatov não estava entre os detidos. "Pode ser que o governo esteja envolvido no seu desaparecimento", disse à DW Olexiy Hrytsenko, ativista do Automaidan para quem essa é a explicação mais plausível. "Até hoje não sabemos se ele está vivo."
Porém, também é possível que Bulatov esteja foragido, já que já havia sofrido várias ameaças. Enquanto isso, os amigos do ativista desaparecido prometeram recompensa de 25 mil dólares por informações sobre o seu paradeiro.
Em outras cidades ucranianas, também foram registrados relatos sobre ativistas desaparecidos. Vitali Portnikov, jornalista influente e membro do conselho de coordenação do movimento oposicionista, fugiu da Ucrânia. Ele teria sido informado de que se tornaria "o novo Georgi Gongadse".
Gongadse era um jornalista de Kiev crítico do governo, que foi raptado pela polícia e morto numa floresta, no segundo semestre de 2000 – um caso que provocou uma profunda crise política.
"Esquadrões da morte"?
Alguns especialistas já falam de "esquadrões da morte", formados por policiais e criminosos. Sua tarefa: raptar ativistas particularmente engajados, espancá-los e até matá-los. Supõe-se que isso tudo sirva para intimidar os manifestantes. Alguns acreditam que o serviço de inteligência russo estaria por trás disso. Mas, também aqui, há apenas indícios e nenhuma prova.
"Esquadrões da morte" é antes de tudo um termo que, até agora, era menos conhecido na Ucrânia e mais em Belarus. Principalmente na década de 1990, diversos jornalistas e políticos oposicionistas desapareceram sem deixar vestígios naquele país. Ao menos em um caso, ficou provado em tribunal que um agente do serviço secreto de Belarus estava por trás do assassinato de um jornalista.