Atleta afegã compete em Tóquio após fuga secreta de Cabul
3 de setembro de 2021
Zakia Khudadadi participou da estreia do taekwondo em Jogos Paralímpicos. Ela conseguiu fugir do Afeganistão e do domínio do Talibã após apelo feito na internet.
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A atleta afegã Zakia Khudadadi competiu nesta quinta-feira (02/09) nos Jogos Paralímpicos de Tóquio, após conseguir fugir secretamente de Cabul e do domínio do Talibã.
Khudadadi é a primeira atleta do país a competir no evento desde a edição de Atenas, em 2004. Ela não só participou da estreia do taekwondo em Jogos Paralímpicos como da primeira luta, nesta quinta-feira, na categoria K44 até 49 quilos.
A afegã competiu com a atleta Ziyodakhon Isakova, do Uzbequistão, e chegou a vencer a primeira rodada, mas ficou para trás na segunda e acabou perdendo a luta por 17-12.
Ela voltou a competir na repescagem, à noite, mas foi derrotada pela cinco vezes campeã mundial Vikotriia Marchuk, da Ucrânia.
Khudadadi, de 23 anos, ganhou notoriedade em seu país após vencer o Campeonato Africano Internacional de Parataekwondo de 2016. Em agosto, ela postou uma mensagem nas redes sociais pedindo ajuda para deixar o Afeganistão após a tomada de Cabul pelo Talibã.
"Minha intenção é participar dos Jogos Paralímpicos de Tóquio 2020, por favor, pegue minha mão e me ajude. Não permita que os direitos de uma cidadã afegã no movimento paralímpico sejam retirados tão facilmente", disse ela, após todos os voos comerciais serem cancelados.
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Compatriota disputou salto em distância
Outro atleta afegão, Hossain Rasouli competiu na terça-feira no salto em distância, terminando na última colocação. Ele foi prejudicado, pois não pôde competir na categoria na qual estava inicialmente inscrito.
Ambos chegaram muito depois das outras delegações a Tóquio, apenas no sábado passado, quatro dias depois do começo dos Jogos Paralímpicos. Os dois foram retirados secretamente do país via França e somente depois seguiram viagem ao Japão.
Nem Khudadadi nem Rasouli falaram em público desde a chegada, e as autoridades permitiram que eles não comparecessem a entrevistas com repórteres para proteger sua privacidade.
"Deixamos que eles focassem na competição'', disse o porta-voz do Comitê Paralímpico Internacional, Craig Spence. "Vamos agora começar a ter conversas sobre o que vai acontecer em termos da cerimônia de encerramento e para onde eles irão a seguir'', completou.
A cerimônia de encerramento é no domingo. Na abertura, a bandeira do Afeganistão foi conduzida por um voluntário. Depois, os organizadores do evento admitiram que a atitude não foi apenas um ato de solidariedade ao Afeganistão, mas também realizado na esperança de que os dois atletas chegassem a tempo de competir.
Vários países, incluindo a Austrália, foram mencionados como possíveis destinos para os dois competidores.
Pouco mais de duas semanas após os Jogos Olímpicos, o Rio recebe a 15ª Paraolimpíada. Em alguns aspectos, a competição tem números ainda maiores do que as Olimpíadas. Os problemas, porém, são parecidos.
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Mais disputas por medalhas de ouro
Nos Jogos Olímpicos do Rio houve disputa por 306 medalhas de ouro em 17 dias. Já nos Paralímpicos, que vão até 18 de setembro, serão 528 disputas em 12 dias. Isso ocorre porque existem diferentes classificações funcionais dentro de cada esporte, dependendo do grau e tipo de deficiência. São disputadas 23 modalidades esportivas e, entre elas, pela primeira vez, estão a canoagem e triatlo.
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Novos recordes
No Rio estão presentes 4.350 atletas, número é 11 vezes maior que na estreia dos Paralímpicos de 1960, em Roma. Há um recorde também no número de delegações: 176 países. E mais um recorde será batido: o Comitê Paralímpico Internacional (IPC) prevê que 4 bilhões de telespectadores vão assistir aos jogos.
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Múltiplas classes podem confundir
Nos Paralímpicos, não é muito fácil ter uma visão geral de todas as modalidades. Isso porque existem dez classificações nas chamadas classes funcionais. Somente na corrida de 100 metros livres para homens, por exemplo, houve, nos Jogos de 2012, em Londres, 15 campeões paralímpicos. O detentor do recorde na classe T43 é o brasileiro duplo amputado Alan Oliveira, com sensacionais 10,57 segundos.
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Batalha técnica
Cada vez mais as Paralimpíadas se parecem com uma corrida armamentista. Pois os atletas paralímpicos precisam de muito mais equipamentos e suporte técnico que os olímpicos. São 18 toneladas de equipamentos, um total de 15 mil itens, como 1.100 pneus para cadeiras de rodas e 300 pés protéticos. Cem mecânicos de 31 países deverão receber, diariamente, 2 mil pedidos de consertos.
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A vantagem dos países ricos
Além do esporte para pessoas com deficiência nem sempre ser considerado igual em todas as nações, muitas federações nacionais não têm condições de comprar os equipamentos mais caros. É por isso, também, que atletas de países ricos conquistam o maior número de medalhas. A prótese do atleta de salto com vara alemão Markus Rehm, que detém o recorde mundial de 8,40 m, custa cerca de 8 mil euros.
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Falta de dinheiro
Os Jogos Paralímpicos também são caros para os anfitriões. O Brasil, que passa por uma crise econômica, teve que injetar cerca de 215 milhões de reais de recursos públicos no evento, já que o orçamento previsto não era suficiente. O número de voluntários, que era de 25 mil, foi reduzido significativamente. O presidente do IPC, Philip Craven, diz que este momento é o "pior" da história paralímpica.
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Arquibancadas vazias
Um motivo para o rombo no orçamento é a baixa venda de ingressos. Após o fim dos Jogos Olímpicos, o número de entradas vendidas era de apenas 300 mil. Uma campanha nas redes sociais, porém, fez o número saltar para 1,6 milhão na semana da abertura da Paralimpíada. Segundo o IPC, há ainda cerca de 1 milhão de ingressos disponíveis. A Paralimpíada também sofre o risco de ter arquibancadas vazias.
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Doping também nas Paralimpíadas
Karl Quade, chefe da delegação alemã, acredita no trabalho dos atletas, mas diz que "não pode colocar as mãos no fogo quando se trata de doping". Existe o doping físico e também de equipamentos esportivos ("doping tecnológico"). Alguns chegam a trapacear quanto à classe do tipo e grau de deficiência. Ao banir a Rússia por doping estatal, o IPC mostrou um claro sinal de que não tolera o doping.
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Anéis olímpicos?
Em muitos locais do Rio, os anéis olímpicos foram desmontados e substituídos por outra construção: os semiarcos chamados Agitos, o símbolo dos Jogos Paralímpicos. Em vez dos cinco anéis olímpicos, desde 2004 os três Agitos ("Eu movo", em latim) são os símbolos para a competição dos atletas paralímpicos.