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Ato distribui mil placas com nome de Marielle no Rio

15 de outubro de 2018

Nos sete meses do assassinato da vereadora, manifestantes condenam a destruição, por candidatos do PSL, de uma sinalização simbólica em homenagem à parlamentar. Familiares de Marielle participam do ato na Cinelândia.

Protesto em homenagem a Marielle Franco na Cinelândia, no Rio de Janeiro
Financiadas por vaquinha virtual, mil placas foram distribuídas na CinelândiaFoto: Getty Images/AFP/C. de Souza

Manifestantes foram às ruas neste domingo (14/10) na Cinelândia, no centro do Rio, para um ato em homenagem a Marielle Franco, morta a tiros há exatos sete meses. O protesto ainda condenou a destruição de uma placa com o nome da vereadora, divulgada por dois candidatos do PSL.

Em frente à Câmara dos Vereadores, os organizadores distribuíram aos manifestantes mil novas tabuletas com o nome da vereadora do Psol, que imitam sinalizações oficiais com nome de rua, mas são simbólicas, no mesmo bairro onde uma dessas placas foi destruída.

Segundo o jornal O Globo, cada pessoa tinha direito a retirar um exemplar, e aqueles que o receberam foram orientados a deixar o local com a placa escondida dentro de um envelope, também distribuído pelos organizadores do ato, para evitar represálias.

Após receberam as sinalizações, os manifestantes montaram um mosaico humano nas ruas da Cinelândia que formava o nome da vereadora assassinada e só podia ser visualizado do céu.

Mosaico humano com o nome de Marielle só pôde ser visto do altoFoto: picture-alliance/AP Photo/F. Proner

O ato foi uma iniciativa do site de humor Sensacionalista, que criou uma campanha de financiamento coletivo a fim de arrecadar 2 mil reais para confeccionar 100 placas em homenagem a Marielle. "Eles rasgam uma, nós fazemos 100", dizia a página em um site de vaquinha virtual.

A meta foi atingida em 20 minutos. Até a última atualização desta reportagem, mais de 42 mil reais tinham sido arrecadados, com doações realizadas por quase 1.700 pessoas. Segundo os organizadores, o valor excedente será doado para causas apoiadas por Marielle.

Segundo O Globo, milhares de pessoas participaram da manifestação neste domingo, entre eles a viúva da parlamentar carioca, Mônica Benício, e os pais, Marinete da Silva e Antonio Francisco da Silva Neto. Famosos e políticos, como o deputado estadual Marcelo Freixo (Psol) e a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB), também estiveram no local.

Durante o ato, houve ainda protestos contra o candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PSL) e gritos de apoio a seu adversário no segundo turno, Fernando Haddad (PT). Sem microfone, os manifestantes gritavam palavras de ordem como "ele não", "ditadura nunca mais", "fascistas não passarão", "quem mexeu com Marielle atiçou o formigueiro".

Os pais de Marielle, Marinete e Antonio da Silva, ao lado do deputado Marcelo Freixo (à esq.)Foto: picture-alliance/AP Photo/L. Correa

Para a mãe de Marielle, mobilizações como essa mantêm vivas as causas defendidas pela filha. "Eu achei lindo. Quando chegamos aqui já tinha uma fila enorme. É muito gratificante. É um dia de muita dor, de muita tristeza, mas vamos resistir", disse Marinete da Silva.

"Cada dia que um público vem se manifestar em memória da minha filha mostra que eles sabem que ela existe e que vai continuar existindo. E resistindo também – a gente precisa – nos fortalece bastante", acrescentou a mãe.

A viúva da vereadora, por sua vez, falou com os presentes da escadaria da Câmara, tendo suas palavras repetidas frase por frase pelos manifestantes mais próximos para que todos pudessem ouvir.

"Vamos embora em segurança, porque a violência só gera mais violência, e essa não é a sociedade que queremos. Vamos mostrar nas urnas que o amor sempre vence", afirmou Mônica Benício. "As placas não devem ser coladas em cima de outras placas nas ruas. Guardem como memória, como resistência. Vocês são os legados de Marielle."

Em forma de protesto, ela chegou a colocar novamente uma placa com o nome da vereadora no mesmo local de onde outra fora retirada, na esquina da Câmara dos Vereadores, mas depois a descolou.

A viúva de Marielle, Mônica Benício, recoloca placa destruída por então candidatos do PSLFoto: Getty Images/AFP/C. de Souza

Uma tabuleta simbólica com o nome de Marielle foi quebrada pelos então candidatos a deputado estadual Rodrigo Amorim e a deputado federal Daniel Oliveira, ambos eleitos pelo PSL, alegando que a placa foi colada ilegalmente em cima da sinalização original, na Praça Floriano.

"Cumprindo nosso dever cívico, removemos a depredação e restauramos a placa em homenagem ao grande marechal", afirmou Amorim em sua página no Facebook. "Preparem-se, esquerdopatas: no que depender de nós, seus dias estão contados."

Dias depois, os candidatos levaram a placa a um ato político para apoiadores em Petrópolis. O ato foi registrado em um vídeo postado nas redes sociais, no qual Amorim e Silveira exibem a placa quebrada ao meio. Eles foram fotografados com os pedaços da tabuleta nas mãos, e as imagens se espalharam nas redes.

Manifestantes formaram fila no centro do Rio para receber as placas em homenagem a MarielleFoto: Getty Images/AFP/C. de Souza

Homenagem no carnaval

Também neste domingo, a escola de samba Estação Primeira de Mangueira anunciou que seu samba-enredo para o carnaval de 2019 fará uma homenagem a Marielle.

O enredo da escola, História para ninar gente grande, de autoria do carnavalesco Leandro Vieira, tem como tema a "história que a história não conta". O samba recebeu o título Eu quero um Brasil que não está no retrato. No refrão, o nome da vereadora é mencionado: "Brasil, chegou a vez de ouvir as Marias, Mahins, Marielles, Malês".

"Fomos campeões na Mangueira. Pela memória de Marielle e Anderson e toda luta que ainda virá. São verde e rosa as multidões", escreveu Tomaz Miranda, um dos autores da música, no Facebook, em referência às cores da Mangueira.

Marielle, de 38 anos, e o motorista Anderson Gomes, de 39, foram assassinados em 14 de março no bairro do Estácio, região central do Rio, quando saíam de um evento no qual a vereadora palestrou. O carro foi alvejado por vários disparos, dos quais quatro atingiram a cabeça de Marielle.

Além de defender os direitos das mulheres e a inclusão social, Marielle criticava a violência policial e milícias. A morte da vereadora levou multidões às ruas no mundo todo para manifestar solidariedade e cobrar explicações.

EK/abr/ots

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