Ato em Hong Kong lembra massacre na Praça da Paz Celestial
4 de junho de 2019
Dezenas de milhares se reúnem em Hong Kong para lembrar os 30 anos da repressão sangrenta da China contra manifestantes pró-democracia.
Anúncio
Dezenas de milhares de pessoas realizaram na noite desta terça-feira (04/06) uma vigília à luz de velas em Hong Kong para lembrar os 30 anos da repressão sangrenta por parte das forças de segurança chinesas contra manifestantes pró-democracia na Praça da Paz Celestial, também conhecida por Praça Tiananmen, em Pequim.
Os manifestantes se reuniram no parque Victoria, localizado no centro financeiro da cidade. Enquanto alguns seguravam velas e cartazes, outros se aglomeravam ao lado de uma réplica da estátua da Deusa da Democracia, erguida na Praça da Paz Celestial, em Pequim, durante as manifestações de 1989.
Ao mesmo tempo que dezenas de milhares de pessoas participavam em Hong Kong da vigília anual, muitos entoando gritos como "acabem com a ditadura do partido único" e "construam uma China democrática", censores nas companhias de internet chinesas disseram que ferramentas para detectar e bloquear conteúdo relacionado à repressão de 1989 atingiram um grau de rigor sem precedentes.
Na antiga colônia britânica Hong Kong, devolvida à China em 1997 sob o lema "um país, dois sistemas distintos", o que garante direitos e liberdades não vistos na parte continental chinesa, os organizadores disseram que 180 mil pessoas se juntaram à vigília, que ocorreu de forma pacífica. A polícia estimou a participação em 37 mil.
As autoridades da China continental, onde a lembrança da repressão permanece tabu, reforçaram a segurança no entorno da Praça da Paz Celestial. O governo em Pequim nunca informou o número de mortos pela violência em 1989, porém, grupos de direitos humanos e testemunhas dizem que chegam a milhares.
"É muito importante que as pessoas em Hong Kong continuem recordando a tragédia de 4 de junho e, de fato, preservem a memória", afirmou Richard Tsoi, vice-presidente da Aliança Hong Kong em Apoio aos Movimentos Patrióticos Democráticos da China. "E não deixem que a autoridade chinesa tente apagar a memória de toda a nação."
O ativista pró-democracia de Hong Kong e clérigo batista Chu Yiu-ming, que estava na casa dos 40 anos quando se juntou aos manifestantes em volta da Praça da Paz Celestial, em 1989, pouco antes da repressão sangrenta eclodir, foi dominado pela emoção. "Eu juro que, enquanto alguém sofrer e for humilhado, eu tenho que falar disso", disse Chu.
Nesta terça-feira, turistas lotaram mais cedo a Praça da Paz Celestial, em meio a uma segurança mais forte do que a habitual. A maioria dos visitantes questionados pela agência de notícias Reuters disse não saber da repressão sangrenta contra os protestos liderados por estudantes há 30 anos ou não querer discutir o assunto.
O aniversário da repressão não é tratado abertamente na China e não é lembrado formalmente pelo governo. A vigília em Hong Kong é a maior realizada em solo chinês. Pequenas manifestações são realizadas também no antigo território português de Macau e na ilha autogovernada de Taiwan, que a China alega ser seu território.
Na capital do Taiwan, Taipei, algumas centenas de pessoas se reuniram na Praça da Liberdade para um evento marcado por documentários, discursos e uma dança dedicada às mães daqueles que foram mortos na repressão realizada na Praça da Paz Celestial.
FC/rtr/ap/dpa
______________
A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas. Siga-nos noFacebook | Twitter | YouTube
Autoridades chinesas tentaram censurar todas as fotos ligadas aos eventos de junho de 1989, em Pequim. Mas jornalistas como o fotógrafo Jeff Widener conseguiram captar imagens históricas.
Foto: Jeff Widener/AP
Deusa da Democracia
Enquanto o sol nasce sobre a Praça da Paz Celestial (Tiananmen), em Pequim, em 4 de junho de 1989, manifestantes constroem a "Deusa da Democracia" – uma estátua de dez metros de altura, feita de espuma e papel machê sobre uma armação de metal. Pela manhã, soldados apoiados por tanques e carros blindados derrubam a estátua, posicionada diante do retrato de Mao Tsé-tung na Cidade Proibida.
Foto: Jeff Widener/AP
Uma policial canta
Nos tensos dias anteriores ao massacre ordenado pelo governo chinês, moradores locais deram presentes aos soldados e oficiais de polícia. Militares até entoaram canções patrióticas junto com os manifestantes. Na foto, uma policial canta em voz alta na Praça da Paz Celestial, poucos dias antes de as tropas governamentais retomarem o controle sobre a área e esmagarem o movimento democrático.
Foto: Jeff Widener/AP
Confronto
Uma mulher envolve-se num confronto entre ativistas pró-democracia e soldados do Exército de Libertação Popular, próximo ao Grande Salão do Povo, em 3 de junho, horas antes de uma das mais sangrentas operações de repressão militar do século 20. Naquela mesma noite, o Exército abriu fogo contra civis desarmados e que ocupavam a Praça da Paz Celestial.
Foto: Jeff Widener/AP
Armas apreendidas
Milhares de manifestantes cercam um ônibus em que estão expostas armas apreendidas poucos dias antes. Durante a imposição da lei marcial, soldados e civis executam um jogo de "toma lá, dá cá": por vezes os manifestantes oferecem presentes aos soldados, por outras, as tropas recuam.
Foto: Jeff Widener/AP
Luta pela democracia
Na noite de 3 junho, um grupo de ativistas intercepta um veículo blindado para transporte de pessoal, às portas do Grande Salão do Povo. O carro acabara de atravessar as barricadas erigidas pelos civis, visando deter o avanço dos veículos militares. Ao mesmo tempo, não muito longe dali, soldados preparavam-se para abrir fogo sobre os manifestantes.
Foto: Jeff Widener/AP
Salvo por uma câmera
Na mesma noite, manifestantes atearam fogo a um veículo blindado na Avenida Chang'an, nas proximidades da Praça da Paz Celestial. Esta imagem foi a última feita pelo fotógrafo Jeff Widener, antes de ser atingido no rosto por um tijolo perdido, atirado por um dos ativistas. Embora ele tenha sofrido uma séria concussão, sua câmera de titânio Nikon F3 absorveu o choque, salvando-lhe a vida.
Foto: Jeff Widener/AP
O massacre
Em 4 de junho, após o brutal massacre do movimento democrático liderado por estudantes, um caminhão do Exército de Libertação Popular patrulha a Avenida Chang'an, diante do Beijing Hotel. Naquele mesmo dia, um veículo semelhante, cheio de soldados, disparara contra turistas no saguão desse hotel.
Foto: Jeff Widener/AP
O homem dos tanques
Sozinho, carregando sacolas de compras, um homem caminha pelo centro da Avenida Chang'an, detendo temporariamente o avanço dos tanques chineses, no dia seguinte ao massacre. Um quarto de século mais tarde, o destino desse homem continua um mistério. A imagem tornou-se símbolo dos eventos na Praça da Paz Celestial.
Foto: Jeff Widener/AP
Heróis derrubados
Em 5 de junho, na mesma Avenida Chang'an, um grupo mostra uma foto de ativistas no necrotério local, mortos pelos tiros dos soldados da 38ª divisão, durante a retomada da Praça da Paz Celestial. Os militares usaram balas dundum, que se expandem ao atingir a vítima, causando ferimentos grandes e dolorosos. Segundo dados da Anistia Internacional, foram mortos pelo menos 300 civis.
Foto: Jeff Widener/AP
Varredoras
Duas trabalhadoras varrem em torno dos restos de um ônibus incendiado, na Avenida Chang'an. Os protestos resultaram no incêndio de vários ônibus e veículos militares, matando e ferindo um grande número de soldados.
Foto: Jeff Widener/AP
Protegendo Mao
Ao lado de um tanque, soldados prestam guarda na entrada da Cidade Proibida, na ocupada Praça da Paz Celestial, alguns dias após o fim da revolta liderada pelos estudantes chineses.
Foto: Jeff Widener/AP
Parceiros da fotografia
Os fotógrafos Jeff Widener (esq.) e Liu Heung Shing, ambos da agência de notícias Associated Press, posam diante da Cidade Proibida, em Pequim, no final de maio de 1989, poucos dias antes do massacre da Praça da Paz Celestial.