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"Ato na Sé por Bruno e Dom é continuação do ato por Herzog"

14 de julho de 2022

Ato ecumênico na Catedral da Sé repudiará assassinato de indigenista e de jornalista na Amazônia. Ex-ministro José Carlos Dias diz que luta "é a mesma" da dos anos 1970 e evoca jornalista morto pela ditadura.

Imagem com os rostos de Dom Phillips e Bruno Pereira
"Estaremos reverenciando a memória do Bruno e do Dom e, ao mesmo tempo, celebrando a luta pela democracia, que vem sendo ameaçada com o governo [Jair] Bolsonaro", afirma DiasFoto: Eraldo Peres/AP Photo/picture alliance

Diversas entidades da sociedade civil pretendem reeditar neste sábado (16/07) na Catedral da Sé, em São Paulo, um evento histórico ocorrido no mesmo local em 1975, que repudiou o assassinato do jornalista Vladimir Herzog e fortaleceu o movimento pelo fim da ditadura e pela volta da democracia.

A democracia estará novamente em pauta, desta vez acompanhada da defesa do meio ambiente. O ato ecumênico repudia os assassinatos, em junho, do experiente indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips quando faziam uma expedição no Amazonas.

Um dos organizadores do ato, o advogado criminalista José Carlos Dias, ministro da Justiça de 1999 a 2000, no governo Fernando Henrique Cardoso, e presidente da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos Dom Paulo Evaristo Arns, diz ver semelhanças entre o momento atual e o vivido de 1964 a 1985 no Brasil.

Para ele, a luta "é a mesma" – se, naquele período, lideranças estavam empenhadas na defesa "dos direitos humanos e dos trabalhadores", agora os ataques ao meio ambiente e aos seus defensores também significam direitos humanos "sendo vilipendiados." 

"Estaremos reverenciando a memória do Bruno e do Dom e, ao mesmo tempo, celebrando a luta pela democracia, que vem sendo ameaçada com o governo Bolsonaro", afirma Dias à DW Brasil.

Segundo o manifesto de organização do evento, as mortes de Bruno e Dom não foram "crimes isolados" e ressalta a importância de atentar para a escalada de violência na área: "Honrar a memória desses defensores de direitos humanos exige dar continuidade à sua bem-aventurada missão."

Do ato que começa às 10h00 do sábado deverão participar católicos, anglicanos, metodistas, pentecostais, judeus, muçulmanos, baháis, budistas, espíritas kardecistas, religiosos de matrizes africanas e membros da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Também confirmaram participação representantes de diversos povos indígenas, membros de entidades da sociedade civil e defensores dos direitos humanos.

DW Brasil: O ato político ecumênico traz a memória daquele realizado logo após o jornalista Vladimir Herzog ter sido assassinado nos porões da ditadura. Qual é o inimigo da vez? De que forma ele é semelhante àquele dos anos 1970?

José Carlos Dias: O ato na Catedral de São Paulo é uma continuação, tem uma identidade com o ato ecumênico que foi celebrado em 1975 após a morte do Vladimir Herzog. Por quê? Agora estaremos reverenciando a memória do Bruno e do Dom e, ao mesmo tempo, celebrando a luta pela democracia, que vem sendo ameaçada com o governo Bolsonaro.

Além de pontuar os assassinatos de Bruno e Dom, o ato também deve recordar a memória do cardeal dom Cláudio Hummes, arcebispo emérito de São Paulo, que morreu dias atrás. Em comum os três têm a atuação em prol da Amazônia. Qual é a importância de trazer a floresta, enquanto tema, para o espaço da Igreja?

O ato recorda a memória de dom Cláudio Hummes porque os três tiveram suas trajetórias ligadas à Amazônia. O papa Francisco, em 2015, editou uma encíclica de proteção ao meio ambiente [Laudato si' – sobre o cuidado da casa comum, primeiro documento do tipo, na história do catolicismo, a tratar especificamente sobre o tema] e o dom Cláudio foi designado para ser o cardeal que teria o seu espaço na Amazônia [Hummes atuou como relator do Sínodo dos Bispos para a Região Pan-Amazônica, em 2019, e no ano seguinte, tornou-se o primeiro presidente da recém-fundada Conferência Eclesial da Amazônia]. Ele realizou um trabalho extraordinário. 

Nos anos 1970, religiosos como dom Paulo Evaristo Arns, em São Paulo, e Hummes, então em Santo André, lutavam pelos direitos humanos, em gestos contra a ditadura militar. A tônica atual é a preservação ambiental? 

Aquilo que foi a tônica da luta de dom Paulo Evaristo Arns e de dom Cláudio Hummes nos anos 1970, em defesa dos direitos humanos e dos trabalhadores, é a mesma coisa, é a luta que hoje nós travamos, que nós devemos travar, em defesa do meio ambiente. Ali estão também os direitos humanos, sim, sendo vilipendiados. 

O senhor já foi ministro da Justiça. Como avalia o posicionamento do seu homólogo frente aos assassinatos de Dom e Bruno? E do governo federal como um todo?

A atuação do governo federal absolutamente não é de proteção ao meio ambiente. Ao contrário, [permite] o desmatamento, os incêndios causados na floresta e a falta de proteção aos que lutam pelos direitos dos indígenas, como era o caso de Bruno e de Dom. Isso foi um absoluto descaso. E demonstra o quanto este governo é nocivo ao projeto democrático.

De que forma o ato na Catedral da Sé também deve se posicionar pelos povos indígenas? Representantes indígenas estarão presentes?

Sim, deverão estar presentes representantes indígenas e indigenistas. E também as viúvas daqueles dois mortos [Bruno e Dom] que foram assassinados por estarem lutando pela selva.

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