Protesto leva cerca de mil pessoas ao centro de Lisboa, em resposta às manifestações antirracismo após morte de George Floyd. Participantes gritam slogans como "a polícia quer respeito" e "policial bom é policial vivo".
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Cerca de mil pessoas foram às ruas de Lisboa neste sábado (27/06) para negar que haja racismo em Portugal sob o lema "Portugal não é racista".
Convocada pelo partido de ultradireita Chega, a marcha percorreu o centro da capital portuguesa, terminando na Praça do Comércio. Muitos dos manifestantes portavam a bandeira de Portugal e foram instruídos pelos organizadores a respeitar as normas de segurança, incluindo distanciamento e uso de máscaras.
O ato foi convocado como uma resposta às manifestações promovidas após a morte de George Floyd pela polícia nos Estados Unidos, denunciando racismo e violência policial em Portugal.
Os participantes gritaram slogans como "a polícia quer respeito", "políticos elitistas, Portugal não é racista" e "policial bom é policial vivo".
"Queremos combater a ideia segundo a qual os portugueses são racistas e as forças policiais, criminosas", explicou o deputado André Ventura, líder do partido Chega, que entrou no Parlamento português nas eleições de outubro do ano passado.
"Ninguém nos pode dar lições de história. Temos 500 anos de história, de vínculos com outros povos", ressaltou Ventura ao discursar diante dos manifestantes. Advogado de 37 anos e ex-comentarista de futebol, ele é o único representante do Chega no Parlamento português e regularmente provoca controvérsias com seus comentários contra minorias étnicas.
Em janeiro, Ventura disse que uma deputada negra com dupla cidadania luso-guineense deveria ser "devolvida ao seu próprio país", depois que ela propôs que itens nos museus portugueses fossem
enviados de volta aos seus países de origem.
Um mês depois, Ventura negou que o atacante do Porto Moussa Marega, que abandonou uma partida de futebol após insultos racistas das arquibancadas, tenha sido vítima de racismo.
"Portugal sempre acolheu outros povos", afirmou Jorge Rodrigues, um dos manifestantes. Proveniente de Faro, no sul do país, ele usava uma máscara nas cores verde e vermelho, da bandeira de Portugal.
"É a esquerda radical que transmite essa imagem errada de país racista", disse à agência de notícias AFP, Leonel Neves, um comerciante de 63 anos que disse estar numa manifestação pela primeira vez.
Uma pesquisa divulgada também neste sábado pelo jornal Público revela que 62% dos portugueses manifestam alguma forma de racismo. Realizada pelo European Social Survey (ESS), a sondagem ouviu 1.055 portugueses.
Milhares se manifestaram nos Estados Unidos e até no Canadá contra o maltrato sistêmico de negros pela polícia, redundando em confrontações violentas. Trump contribuiu para acirrar os ânimos.
Foto: picture-alliance/AP Photo/J. Cortez
"Não consigo respirar"
Protestos tensos contra décadas de brutalidade policial perante cidadãos negros se alastraram rapidamente de Minneapolis a outras localidades dos Estados Unidos. As manifestações começaram na cidade do centro-oeste após a morte do afro-americano George Floyd, de 46 anos: em 25/05/2020, um policial o algemou e pressionou o joelho em seu pescoço até ele parar de respirar.
Foto: picture-alliance/newscom/C. Sipkin
De pacífico a violento
No sábado, os protestos foram basicamente pacíficos, mas se tornaram violentos com o avançar da noite. Em Washington, a Guarda Nacional foi mobilizada diante da Casa Branca. Tiroteios no centro de Indianápolis deixaram pelo menos um morto: segundo a polícia, não havia agentes envolvidos. Policiais ficaram feridos em Filadélfia. Em Nova York, dois veículos da polícia avançaram contra uma multidão.
Foto: picture-alliance/ZUMA/J. Mallin
Saques e destruição
Em Los Angeles, manifestantes enfrentaram com brados de "Black Lives Matter!" (Vidas negras importam) os agentes da lei armados de cassetetes e revólveres com balas de borracha. Na cidade, assim como em Atlanta, Nova York, Chicago e Minneapolis, os protestos se transformaram em revoltas de massa, com saques e destruição de estabelecimentos comercias.
Foto: picture-alliance/AP Photo/C. Pizello
Provocador de Estado
O então presidente Donald Trump ameaçou enviar militares para abafar os protestos: "Minha administração vai parar a violência de massa, e de uma vez só", anunciou, acirrando as tensões nos EUA. Apesar de ele ter culpado supostos grupos de extrema esquerda pelas agitações, o governador de Minnesota, Tim Walz, citou diversos relatos de que supremacistas brancos estariam incitando o conflito.
Foto: picture-alliance/ZUMA/K. Birmingham
Mídia na mira da polícia
Diversos jornalistas que cobriam os protestos foram atacados por policiais. Na sexta-feira (29/05), o correspondente da CNN Omar Jimenez e sua equipe foram presos em Minneapolis. A polícia local também atirou na direção de Stefan Simons, da DW, quando ele se preparava para transmitir ao vivo, na noite de sábado. Outros repórteres foram alvejados com projéteis ou detidos quando estavam no ar.
Foto: Getty Images/S. Olson
Além das fronteiras
As manifestações chegaram até o Canadá: no sábado milhares marcharam pelas ruas de Vancouver e Toronto. Nesta cidade, os participantes também lembraram a morte da afro-canadense Regis Korchinski-Paquet, de 29 anos, na quarta-feira (27/05), caída da varanda de seu apartamento no 24º andar, onde se encontrava só com policiais.
Foto: picture-alliance/NurPhoto/A. Shivaani
#GeorgeFloyd
Milhares também desfilaram diante da embaixada dos Estados Unidos em Berlim, manifestando indignação contra o homicídio de Floyd e o racismo sistêmico.
Foto: picture-alliance/AP Photo/M:.Schreiber
Casa Branca cercada
A Força Nacional fez um cordão de isolamento, no domingo, para proteger a Casa Branca. O presidente Trump chegou a ser levado para um bunker na sede do Executivo, que foi alvo de manifestações por dias.
Foto: Reuters/J. Ernst
Soldados em Washington
Após Trump anunciar o uso de soldados para conter as manifestações, o Pentágono deslocou cerca de 1.600 militares para a área de Washington para apoiar as forças de segurança da capital caso seja necessário, diante dos protestos que marcaram uma semana da morte de Floyd. Na Alemanha, o ministro do Exterior, Heiko Maas, criticou a ameaça de Trump de usar militares armados contra os manifestantes.
Foto: Getty Images/AFP/W. McNamee
Recado de Obama
No dia em que a procuradoria endureceu as acusações contras os quatro policias envolvidos na ação, o ex-presidente dos EUA Barack Obama disse que protestos refletem "mudança de mentalidade" no país e incentivou os jovens a continuar realizando as manifestações. "Espero que (os jovens) sintam esperança, ao mesmo tempo que estão indignados, porque eles têm o poder de mudar as coisas", afirmou.
Foto: Reuters/J. Skipper
Funeral reúne centenas em Minneapolis
Centenas participaram de uma cerimônia fúnebre em homenagem a George Floyd em 04/06. Elas ficaram em silêncio por 8 minutos e 46 segundos, tempo em que Floyd ficou com o pescoço prensado pelo joelho de um policial. "É hora de nos levantarmos em nome de Floyd e dizer: tirem o seu joelho dos nossos pescoços", afirmou o reverendo e ativista pelos direitos civis Al Sharpton (foto) durante o funeral.