Atual seleção brasileira é mais forte do que a de 2002, diz Élber
28 de fevereiro de 2006DW-WORLD: Qual foi a sua primeira reação, quando recebeu a proposta da DW-WORLD para fazer o blog da Copa?
Giovane Élber: Isso foi muito legal, porque a primeira coisa que eu procurei ao chegar aqui foi colocar a Deutsche Welle em casa, para não perdermos o contato com a língua alemã. Estou muito feliz por ter recebido essa proposta de fazer o blog, porque muitas pessoas acompanham isso. Fico contente em poder transmitir para os torcedores, para as pessoas que acompanham o futebol, um pouco mais sobre a Copa da Mundo e a minha vida.
Para você, esse é um campo novo ou já participou de outros blogs, escrevendo comentários?
Para mim essa é a primeira vez, e primeira vez é sempre aquilo: dá um friozinho na barriga, você não sabe como vai ser. Mas estou muito confiante que será muito bom para os torcedores.
O você espera do bate-bola virtual que vai começar com os usuários da DW-WORLD?
Espero que as pessoas participem, com seus comentários e suas perguntas, que a gente possa ter um bate-papo sobre futebol, sobre a vida e mil e uma coisas. Eu vou tentar transmitir coisas que aconteceram na minha vida como jogador de futebol, talvez alguma curiosidade. Acho que o blog vai ser bastante prestativo às pessoas que acompanham a Deutsche Welle.
A Copa será o assunto central do blog. Você já sente a febre da Mundial chegando aí no Brasil?
Posso lhe dizer que no Brasil é quase como na Alemanha, onde todos vão estar mobilizados para a Copa do Mundo. Aqui só se fala em Copa do Mundo, tudo quanto é loja vende artigos do Mundial. Está todo mundo na expectativa de que possa ser a Copa mais linda que já foi disputada até agora.
Quais são as seleções favoritas ao título? O Brasil ganha o hexa?
As seleções favoritas para mim são sempre as mesmas: Brasil, sem dúvida, depois vem a Argentina, Inglaterra, Alemanha, que jogando em casa é uma seleção muito forte, Portugal, que sob o comando do Felipão, pode dar trabalho e ser uma surpresa, e depois as seleções da África, que uma ou outra pode se destacar e chegar às oitavas ou quartas-de-final.
Leia mais: A opinião de Élber sobre os adversários do Brasil na primeira fase
Qual é o adversário mais difícil para o Brasil na primeira fase: Croácia, Austrália ou Japão?
Eu creio que é a Croácia, porque tem muitos jogadores experientes, que atuam em ligas européias, na Bundesliga – como o Kovac – ou na Itália. Acho que essa é a seleção que vai dar mais trabalho para o Brasil na primeira fase.
O Japão de Zico não tem chance contra o Brasil?
O Japão é o franco-atirador. Está na Copa do Mundo, espera passar da primeira fase, não tem nada a perder. Então, não vai estar tanto sob pressão como a Croácia e o Brasil. Mas o Japão de Zico já mostrou na Copa das Confederações, até para o Brasil, que não há mais adversário fácil no futebol.
A atual seleção brasileira é mais forte do que a de 2002?
Olha, é mais forte. Tanto os jogadores que estão jogando quanto os que estão na reserva têm condições de atuar na seleção. Mas como o treinador só pode escalar 11, os outros têm de esperar sua oportunidade. É uma seleção que tem muita figurinha carimbada, como o Ronaldinho, Ronaldo, Kaká, Robinho e Adriano. Agora, tem que achar um sistema certo para a seleção não ser surpreendida por outras equipes bem esquematizadas taticamente.
O excesso de bons jogadores na seleção brasileira só traz vantagem ou pode virar um problema para Parreira?
Não acredito que vá criar problema. São jogadores conscientes de que a Copa do Mundo é a maior vitrine do futebol mundial, já passaram por outra copa, com exceção de alguns poucos. Cada um sabe qual é o seu papel e valor na seleção.
Parreira tem à sua mão um leque de oportunidades que pode usar da melhor maneira possível. É claro que um Ronaldinho ou Ronaldo quer sempre estar jogando. Mas acho que é tudo uma questão da fase e do momento. Tem que estar bem para jogar, senão deve dar lugar a outro jogador.
Cafu, que acaba de ser operado e está com 35 anos, é indispensável à seleção brasileira?
Acho que, até a Copa, o Cafu vai estar 100% recuperado. Eu tive uma cirurgia semelhante à que ele fez e, em dez dias, estava jogando pelo Bayern de Munique na Copa dos Campões contra o Real Madrid. Ele vai estar com todo vapor na Copa, inclusive com a vantagem de ter tido esse período de descanso entre aspas, como ele mesmo disse, enquanto os outros estão jogando.
Leia mais: A Alemanha consegue ficar com o título em casa?
Vários jogadores da seleção alemã estão fora de forma a cem dias do torneio. O time de Klinsmann tem chances de ganhar o título em casa?
Sempre o forte da seleção alemã foi seu conjunto e o jogo compacto. E o Klinsmann conseguiu achar esse conjunto, com jogadores que tem na Bundesliga. Teve algum sucesso em amistosos, mas a Copa é outra coisa. O ponto fraco da equipe é a defesa, embora tradicionalmente a Alemanha tenha sido forte nesse setor. Mas do meio para frente, jogadores como Ballack, Klose, Kuranyi e Podolski podem decidir uma partida.
O Kuranyi ainda tem lugar garantido no ataque alemão? Ele não foi convocado para o amistoso contra a Itália.
Acho que um jogador como o Kuranyi, o Klinsmann tem que levar. Ele tem muita experiência, de atuar em Copa dos Campeões, joga no Schalke, vivendo pressão e tem plenas condições para jogar na seleção da Alemanha.
E o Ballack, essa vai ser a Copa dele?
O Ballack atravessa um bom momento, tirando o fato de não saber se fica ou não no Bayern de Munique. Mas ele é um profissional e sabe deixar esses problemas de lado e olhar só para o time, só para sua seleção. Ele pode ajudar muito os jovens que estão entrando na equipe, como o Podolski. Ele vai ser muito útil ao Klinsmann e à seleção alemã.
Se você tivesse que dar um conselho ao Ballack, diria a ele que fique no Bayern ou que procure outro clube?
Eu diria para ele ficar. Depois de sair de Munique, vi que são poucos os clubes que trabalham com tanto profissionalismo como o Bayern. É um clube de ponta. Mas se o Ballack quiser se enfronhar numa outra cultura, ir para o Real Madrid ou Manchester, se houver uma oferta, é coisa de se pensar. Talvez, até fosse bom para o futebol alemão se ele atuasse fora da Alemanha, o que quase não acontece, desde os tempos em que Klinsmann, Matthäus e Hässler jogavam no exterior.
O que acontece se Ballack desfalcar a Alemanha num jogo decisivo na Copa?
Daí a Alemanha sofre muito, porque ele é a peça principal do esquema alemão. Se ele não estiver 100% na Copa do Mundo, ou por um ou outro motivo não atuar em algumas partidas, todo o esquema alemão vai sentir o peso. O esquema tático, o meio-campo, tem a cara dele.
O que você acha do trabalho feito por Klinsmann, com seu estilo um tanto heterodoxo e polêmico?
Acho excelente. Ele está tirando o máximo do grupo que tem na mão. Tenta introduzir aos poucos na seleção coisas novas, que aprendeu na Itália, na Inglaterra e até nos EUA. Claro que é um choque, como é um choque no Brasil o Lothar Matthäus, no Atlético Paranaense, fazer um treino de manhã no dia do jogo. No Cruzeiro também fazemos muitas das coisas que o Klinsmann faz com a equipe alemã, e eu acho que isso é válido para o jogador. O que ele tem de fazer é arrumar a defesa e parar com a rotação de goleiros. Ele deve definir o número um, para dar tranqüilidade ao goleiro e aos jogadores da defesa.
Como avalia o estágio atual dos preparativos para a Copa em termos de organização? A questão da segurança nos estádios e o avanço da gripe aviária, como ameaçam o torneio?
As notícias sobre a gripe aviária chocaram um pouco, porque as pessoas acompanham isso. Mas esperamos que até a Copa esse problema tenha sido resolvido. Sabe-se que os alemães fazem tudo bem organizado e os brasileiros vêem os preparativos com bons olhos. A segurança sempre é um assunto polêmico em grandes eventos, mas no Brasil se fala mais da beleza dos estádios novos, que são mostrados nos jogos da Bundesliga. Nos fins de semana também são mostradas reportagens sobre as cidades da Copa. A Alemanha está sendo muito bem divulgada.
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A partir de 3 de março, Giovane Elber vai escrever um blog sobre a Copa 2006 no site da DW-WORLD.