Auditor da Fifa pede demissão em protesto a reforma
14 de maio de 2016
Presidente do Comitê de Auditoria da entidade, Domenico Scala, reage à decisão que permite ao Conselho da Federação Internacional de Futebol nomear ou afastar membros das próprias instâncias de controle.
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O suíço Domenico Scala, presidente do Comitê de Auditoria da Fifa, pediu demissão neste sábado (14/05), descrevendo sua saída como um "grito de alerta" para aqueles que trabalham na reforma da organização.
Scala reage, assim, a uma decisão do congresso anual da Fifa, na Cidade do México na última sexta-feira, que permite ao Conselho da entidade – liderado pelo presidente da Federação, Gianni Infantino – nomear ou afastar os membros das próprias instâncias de controle, como o Comitê de Ética e o Comitê de Auditora.
"Estou consternado com essa decisão", escreveu Scala em nota de renúncia. "Daqui por diante, será possível que o Conselho impeça investigações contra membros individuais a qualquer momento através da demissão de membros da comissão responsável, ou mantê-los subservientes por meio da ameaça de demissão", declarou o suíço.
"Assim, os grêmios são, de fato, furtados de sua independência e estão ameaçados de se tornar cumpridores de ordens daqueles que, na verdade, deveriam monitorar", acrescentou Scala em seu comunicado.
Derrota sensível para Infantino
Com a saída de Scala, a Fifa – que depois de muitos escândalos ainda luta por sua reputação – perde o arquiteto de sua agenda de reformas. Scala vinha monitorando a federação desde 2012, quando o então presidente da entidade, Sepp Blatter, decidiu empreender uma série de medidas para combater a corrupção. Para o atual presidente da Fifa, a saída de Scala é, portanto, uma sensível derrota.
Em discurso na sexta-feira, Infantino havia declarado que a crise de corrupção na Fifa estaria encerrada. Posteriormente, ele defendeu os novos poderes do Conselho para remover pessoas que monitoram a federação.
Nesta sexta-feira, o anúncio de que a senegalesa Fatma Samoura vai ser a primeira secretária-geral de uma instituição tradicionalmente dominada por homens havia sido motivo de surpresa. No mesmo dia, a Fifa também informou ter agora dois novos membros nos seus quadros de federações, Gibraltar e Kosovo.
CA/ap/afp/dpa/dw
O escândalo de corrupção na Fifa
A entidade máxima do futebol vive a maior crise de sua história, pressionada por investigações nos Estados Unidos e na Suíça sobre corrupção envolvendo seus membros. Entenda o caso.
A Fifa começou a viver, um dia antes da abertura de seu congresso anual em Zurique, a maior crise de sua história. A Justiça americana indiciou por corrupção e lavagem de dinheiro 14 pessoas ligadas à entidade, sete delas foram presas pela polícia suíça. Entre os detidos, o ex-presidente da CBF José Maria Martin. Joseph Blatter não foi indiciado, mas o escândalo o colocou sob pressão.
Foto: Reuters/A. Wiegmann
Os detidos
Sete cartolas foram presos, seis deles funcionários diretamente ligados à Fifa. Os de maior destaque são: José Maria Marin, ex-presidente da CBF, e os vice-presidentes da Fifa Eugenio Figueredo e Jeffrey Webb. Também foram detidos os dirigentes esportivos Eduardo Li (Costa Rica), Julio Rocha (Nicarágua), Rafael Esquivel (Venezuela) e Costas Takkas (Reino Unido).
Foto: picture-alliance/epa
O esquema
Cartolas, sobretudo de federações da América Latina, vendiam direitos de propaganda e transmissão de competições a empresas de marketing esportivo, que conseguiam o apoio deles com propina. Essas empresas, depois, revendiam o direito de transmissão a emissoras. O esquema, segundo a Justiça americana, teria movimentado mais de 150 milhões de dólares em dinheiro sujo ao longo de 24 anos.
Foto: Getty Images/AFP/D. Emmert
O modelo de negócios da Fifa
Como associação de utilidade pública sem fins não lucrativos, a Fifa se compromete a reinvestir no futebol todos os seus lucros. Seu modelo comercial é simples: ela lucra com a exploração, sobretudo, da Copa do Mundo – o país-sede lhe garante isenção de impostos. A fatia mais gorda das rendas da Fifa são os direitos de transmissão televisiva e os patrocínios oficiais ao Mundial.
Foto: Reuters/R. Sprich
Jurisdição sobre o caso
Os Estados Unidos têm jurisdição sobre o caso porque boa parte da propina foi paga ou recebida usando instituições americanas, como os bancos Delta, JP Morgan Chase, Citibank e Bank of America. Além disso, o dinheiro sujo teria sido movimentado em filiais nos EUA de instituições estrangeiras, como os brasileiros Itaú e Banco do Brasil. Na foto, investigadores apresentam caso à imprensa.
Foto: picture-alliance/epa/J. Lane
Brasileiros na mira
O Brasil tem dois envolvidos além de Marin (foto): o dono da empresa de marketing Traffic, José Hawilla, e o intermediário José Margulies (argentino naturalizado brasileiro). A Copa do Brasil e o contrato da CBF com a Nike estão sob investigação. Marin, que presidiu a CBF entre 2012 e 2015, aparece em dois dos 12 esquemas listados. Ele teria recebido, só da Traffic, 2 milhões de reais por ano.
Foto: dapd
A investigação
O FBI (a polícia federal americana) começou a investigação sobre a Fifa há três anos. O processo teve início devido à escolha de Rússia e Catar como países-sede das Copas de 2018 e 2022, mas acabou expandida para analisar os acordos da entidade nos últimos 20 anos. Os Mundiais, então, acabaram sendo deixados de lado na investigação.
Foto: picture-alliance/dpa/P. B. Kraemer
Copas da Rússia e do Catar
O Ministério Público da Suíça anunciou ter aberto uma investigação criminal sobre um possível esquema de corrupção e lavagem de dinheiro envolvendo as escolhas das sedes das Copas de 2018 e 2022, que ocorrerão na Rússia e no Catar (foto). A investigação corre paralelamente ao processo judicial aberto nos Estados Unidos. Os nomes dos investigados não foram divulgados.