Ressurgimento da heroína, sobretudo nos EUA e na Europa, é o principal fator para primeiro incremento registrado em seis anos. Em 2014, quase 250 milhões de pessoas consumiram ao menos um tipo de droga.
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O número de dependentes químicos no mundo aumentou pela primeira vez em seis anos, aponta um relatório divulgado pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes (UNODC) nesta quinta-feira (23/06).
A quantidade de dependentes passou de 27 milhões em 2013 para 29 milhões em 2014. O crescimento se deve, principalmente, ao ressurgimento da heroína como uma droga popular. Segundo especialistas, o entorpecente se tornou uma epidemia nos Estados Unidos. Na Europa, também foi registrado um aumento no consumo.
"A heroína continua sendo a droga que mais mata pessoas, e seu ressurgimento deve ser abordado com urgência", afirmou o diretor da UNODC, Yuri Fedotov.
O número de usuários de heroína nos Estados Unidos chegou a cerca de 1 milhão, o maior já registrado em 20 anos. Desde 2000, as mortes relacionadas à droga quintuplicaram no país.
Segundo a agência da ONU, o ressurgimento da heroína nos EUA pode estar relacionado a uma mudança na legislação que dificultou o consumo de outros opiáceos e à facilidade de acesso a esse tipo de entorpecente no mercado negro, além de seu baixo valor de venda.
A UNODC também alertou que os primeiros sinais do ressurgimento da heroína já são observados na Europa, principalmente na França, Alemanha e Itália.
Maconha é mais usada
Em todo mundo, 207 mil pessoas morreram devido ao consumo de drogas em 2014. A taxa de mortalidade é 15 vezes maior entre consumidores de drogas injetáveis do que entre não usuários na mesma faixa etária.
O relatório anual sobre drogas alertou que a injeção de heroína ou outros opiáceos representa um risco elevado à saúde não só por overdoses, mas também devido ao contágio de doenças com a aids e a hepatite C. Entre os 12 milhões de usuários de drogas injetáveis, 14% são portadores do vírus HIV.
O relatório aponta ainda que quase 250 milhões de pessoas entre 15 e 64 anos consumiram pelo menos um tipo de droga em 2014. A maconha continua sendo a substância ilegal mais usada no mundo, com 183 milhões de consumidores, seguida de drogas sintéticas, incluindo anfetaminas e ecstasy, com 55 milhões.
Embora um terço dos usuários de drogas sejam mulheres, entre as pessoas em tratamento apenas uma em cada cinco é de sexo feminino. Esse número mostra que o acesso a esse tipo de terapia é mais restrito para as mulheres.
CN/efe/rtr/dpa/ots
Drogas com passado alemão
Muitos entorpecentes produzidos hoje em laboratórios clandestinos espalhados pelo mundo são criações de cientistas, militares e empresas da Alemanha.
Na Segunda Guerra
Nas campanhas na Polônia, em 1939, e na França, em 1940, Hitler enviou soldados drogados para o front. Na ocupação da França, teriam sido dados às tropas 35 milhões de comprimidos de Pervitin, que tinha o apelido de "chocolate de tanque" ou "pílula de Hermann Göring". A substância ativa, metanfetamina, é um estimulante do sistema nervoso central. Mas também os Aliados dopavam seus soldados.
Foto: picture-alliance/dpa-Bildarchiv
Alerta, destemido e sem fome
A droga foi produzida por um japonês, inicialmente em forma líquida. Químicos da fábrica berlinense Temmler aperfeiçoaram o produto e o patentearam em 1937. Um ano mais tarde o medicamento era lançado no mercado. Ele era usado contra cansaço, sensação de fome e sede e medo. Hoje em dia, o Pervitin é comercializado ilegalmente sob novo nome: Crystal Meth.
High Hitler?
Historiadores divergem se Adolf Hitler era dependente de Pervitin. Nas anotações de seu médico pessoal, Theodor Morell, aparece um "X" com frequência. Nunca foi esclarecido o que ele significa. Sabe-se, no entanto, que Hitler recebia medicamentos fortes, a maioria provavelmente muito aquém das atuais leis de combate às drogas.
Foto: picture alliance/Mary Evans Picture Library
"Milagrosa" heroína
A criatividade dos produtores de drogas na Alemanha já havia começado muito mais cedo. "Fim à tosse graças à heroína", era o slogan da fabricante alemã Bayer no final do século 19 para o seu sucesso de vendas. Em pouco tempo, a heroína passou a ser prescrita contra epilepsia, asma, esquizofrenia e doenças cardíacas, mesmo em crianças. Como efeito colateral, a Bayer apontava prisão de ventre.
Pai da aspirina e da heroína
O químico e farmacêutico Felix Hoffmann é celebrado especialmente como o inventor da aspirina. Sua segunda grande descoberta aconteceu quase por acaso, enquanto experimentava com ácido acético. Ele resolveu combinar este ácido com morfina, obtido do suco da papoula usada para produzir ópio, criando assim a heroína. O produto só se tornaria ilegal na Alemanha em 1971.
Cocaína para oftalmologistas
Já desde 1862, a alemã Merck fabricava cocaína, usada na época pelos oftalmologistas como anestésico local. Ao pesquisar folhas de coca da América do Sul, o químico Albert Niemann havia isolado um alcaloide, que chamou de cocaína. Niemann morreu pouco depois de sua descoberta, vítima de um problema pulmonar.
Foto: Merck Corporate History
Freud e cocaína
Sigmund Freud consumia cocaína para fins científicos. Em seus "Escritos sobre a cocaína", o pai da psicanálise escreveu que ela não traz inconvenientes. Segundo ele, a substância transmite euforia, energia para viver, e motiva a trabalhar. Seu entusiasmo, no entanto, acabou com a morte de um amigo por causa da droga. Naquele tempo, a cocaína era prescrita contra dor de cabeça e dor no estômago.
Foto: Hans Casparius/Hulton Archive/Getty Images
O barato do Ecstasy
Embora o americano Alexander Shulgin seja considerado o inventor da pílula Ecstasy, a receita para sua produção estava em mãos da fabricante alemã Merck. Em 1912, foi dada entrada para a patente de uma substância oleosa sem cor chamada metilenodioximetanfetamina (MDMA ). Na época, os químicos consideraram que ela não teria valor comercial.
Foto: picture-alliance/epa/Barbara Walton
Efeitos de longo prazo
Os efeitos destas descobertas são implacáveis. As Nações Unidas calculam que em 2013 morreram 190 mil pessoas no mundo devido ao consumo de drogas ilegais. Em relação a bebidas alcoólicas, que não são proibidas, os números são mais impressionantes: a Organização Mundial da Saúde estima que em 2012 5,9% de todos os casos de morte no mundo (3,3 milhões) foram uma consequência do consumo de álcool.