1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Religião

DW/Agências (ca)31 de janeiro de 2009

Anúncio de reabilitação do bispo britânico ultraconservador Richard Williamson pelo papa Bento 16 provoca tensão nas relações entre Igreja Católica e representantes da comunidade judaica.

Bento 16 reiterou aproximação entre católicos e judeusFoto: AP

Pouco antes do anúncio pelo papa, há uma semana, da retirada das excomunhões do bispo britânico Richard Williamson e de três outros bispos lefrevistas da fraternidade ultraconservadora Sociedade de São Pio 10, que rejeita modernizações na doutrina católica, Williamson havia negado publicamente o Holocausto de seis milhões de judeus pelo regime de Hitler e a existência de câmaras de gás para extermínio das vítimas do regime nazista, em declarações à TV sueca, transmitidas na quarta-feira (21/01).

Na última sexta-feira (30/01), o controverso bispo, que vive na Argentina, desculpou-se perante o papa pela "dor" que suas declarações teriam provocado. Em entrevista à edição deste sábado do jornal italiano La Repubblica, o cardeal Giovanni Battista Re, prefeito da Congregação para os Bispos do Vaticano, afirmou que as desculpas de Williamson teriam sido um primeiro passo.

O cardeal Re acresceu que Williamson teria ainda que se posicionar por suas declarações sobre o Holocausto. Segundo o prefeito da Congregação para os Bispos, as desculpas de Williamson não seriam, absolutamente, suficientes para encerrar o caso.

"Solidariedade indiscutível com os irmãos judeus".

Knobloch exige distanciamento de bispoFoto: picture-alliance/ dpa

O anúncio da reabilitação dos bispos ultraconservadores provocou duras críticas por parte de teólogos católicos e uma grande desavença com representantes da comunidade judaica. Na audiência pública da última quarta-feira (28/01), o papa Bento 16 reiterou sua "solidariedade indiscutível com os irmãos judeus". O papa disse ainda que a lembrança do Holocausto seria uma advertência contra o perigo de que o genocídio contra os judeus venha a ser esquecido.

A presidente do Conselho Central dos Judeus na Alemanha, Charlotte Knobloch, declarou na última sexta-feira que somente aceitaria a solidariedade com os judeus anunciada por Bento 16, se o bispo que nega o Holocausto, Richard Williamson, fosse chamado a prestar contas por suas declarações.

Knobloch exige ainda que o bispo da Sociedade de São Pio 10 não exerça mais suas funções como clérigo. "Para mim, reintegrar alguém, que nega o Holocausto, numa religião à qual ele não pertence mais de forma alguma, é algo inaceitável", afirmou a representante da comunidade judaica alemã.

Intenção da Santa Sé foi outra

O arcebispo Robert Zollitsch, presidente da Conferência dos Bispos Alemães, demonstrou compreensão pela indignação da comunidade judaica. Zollitsch afirmou que teria certeza de que Williamson retiraria e se desculparia por suas declarações inaceitáveis, caso realmente queira continuar na Igreja Católica.

O arcebispo de Freiburg afirmou ainda estar muito infeliz com o ocorrido. Zollitsch afirmou que a Santa Sé, certamente, não teria tomado conhecimento das declarações de Williamson e que a reabilitação do bispo ultraconservador tomou um aspecto completamente diferente da intenção positiva pensada pelo Vaticano.

Impossibilidade de reconciliação

Para o teólogo Hans-Peter Heinz, que desde 1974 dirige o grupo de discussão "Judeus e Cristãos" no Comitê Central dos Católicos Alemães, o caso Williamson prejudica as relações entre judeus e católicos em dimensões não mais vistas nos últimos anos. Em sua opinião, é evidente o antissemitismo na ala católica de direita da Sociedade de São Pio 10.

Williamson negou Holocausto em declarações à TV sueca

Heinz afirmou que esse antissemitismo não é latente, mas aberto. Como exemplo, ele citou uma declaração do site da congregação, publicada em 19 de janeiro último: "Os judeus dos nossos dias não são mais os novos antigos irmãos da fé, como o papa afirmou na sua visita à sinagoga em Roma, em 1986. Enquanto não tiverem se distanciado da culpa de seus pais através do reconhecimento da divindade de Cristo e do batismo, eles serão os corresponsáveis pela morte de Deus".

Hans Maier, ex-secretário de Cultura da Baviera e filósofo católico, afirmou que enquanto Williamson não retirar suas declarações não poderá haver reconciliação com a Sociedade de São Pio 10.

Segundo a revista alemã Der Spiegel, a reabilitação do bispo Richard Williamson levou o ministro israelense de Assuntos Religiosos, Yitzhak Cohen, a ameaçar o Vaticano com o corte das relações diplomáticas com Israel. A revista alemã noticiou que Cohen aconselhou o Vaticano a "romper completamente a ligação com uma sociedade em que negadores do Holocausto e antissemitas são membros".

Pular a seção Mais sobre este assunto