Merkel: Auschwitz serve de alerta contra o discurso do ódio
26 de janeiro de 2015
"Entre nós, todos devem poder viver livres e seguros, não importa a religião e a origem", afirma chanceler federal alemã. Cerimônia em Berlim tem participação de sobreviventes.
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A chanceler federal alemã, Angela Merkel, lembrou nesta segunda-feira (26/01), em Berlim, os 70 anos da libertação de Auschwitz, em cerimônia que contou com a presença de duas sobreviventes do campo de concentração.
Merkel disse que a Alemanha tem, perante as milhões de vítimas do nazismo, a obrigação de não deixar o que aconteceu cair no esquecimento. "Não podemos esquecer que somos culpados pelos milhões de vítimas", afirmou. "Auschwitz nos desafia diariamente a moldar nossa convivência pelos princípios da humanidade."
Auschwitz, afirmou Merkel, deve servir de alerta para que as pessoas não adotem um discurso de ódio contra aqueles que buscam uma nova vida na Alemanha. "Entre nós, todos devem poder viver livres e seguros, não importa a religião e a origem", afirmou a chanceler, numa declaração que soa como uma mensagem indireta aos manifestantes do movimento Pegida, que critica a "islamização" da Alemanha.
Merkel disse ainda ser "uma vergonha" que hoje na Alemanha pessoas sejam ameaçadas ou atacadas quando se identificam como judias ou com Israel. Segundo ela, é "uma mácula" para o país que sinagogas e instituições judaicas ainda tenham que ser protegidas pela polícia.
Sobreviventes visitam campo
Nesta segunda-feira, sobreviventes visitaram Auschwitz, na Polônia, onde rezaram e prestaram homenagens a parentes e amigos que morreram no local. Para alguns, foi o primeiro retorno ao local desde o fim da Segunda Guerra Mundial.
"As estatísticas esmagadoras não são as histórias a serem contadas. As histórias só poderiam ser contadas pelas vítimas. Infelizmente suas vozes foram silenciadas por gás e crematórios. Por isso, nós, sobreviventes, estamos aqui, para falar por eles e honrar a memória do seu sofrimento", disse Marcel Tuchman, de 93 anos, sobrevivente de Auschwitz.
O drama das crianças de Auschwitz
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Por ocasião do Dia Internacional da Lembrança do Holocausto, celebrado em 27 de janeiro, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, pediu que a comunidade internacional dobre os esforços pela tolerância.
"Nós estamos comprometidos com a proteção dos mais vulneráveis, com a promoção dos direitos humanos básicos e com a liberdade, dignidade e valor para cada um dos seres humanos", disse Ban.
Em 27 de janeiro de 1945, o Exército soviético libertou os sobreviventes do campo de concentração de Auschwitz. Mais de 1,1 milhão de pessoas foram mortas no local, em sua maioria judeus.
A arte e os horrores de Auschwitz
Exposição em Berlim mostra a obra de artistas que sobreviveram aos campos de concentração nazistas. Além de documentar atrocidades, eles fizeram arte.
Foto: Staatliches Museum Auschwitz-Birkenau in Oœwiêcim
Os artistas esquecidos
Enquanto a chamada "arte degenerada" dos artistas perseguidos pelo nazismo desperta atenção, quase ninguém conhece o trabalho dos artistas que estavam em campos de concentração. Pintores como Waldemar Nowakowski (foto) estão quase esquecidos. Por isso a importância do livro e da exposição "A morte não tem a última palavra", a ser aberta no prédio do Bundestag em Berlim, a partir de 27 de janeiro.
Foto: Staatliches Museum Auschwitz-Birkenau in Oœwiêcim
Horrores de Theresienstadt em gravura
Por mais de 15 anos, o autor, curador e historiador de arte Jürgen Kaumkötter se dedicou à arte dos perseguidos entre 1933 e 1945. Para isso, não considerou apenas quadros que surgiram nessa época, mas também aqueles que tematizaram os acontecimentos em retrospecto. Leo Haas executou esta gravura sobre Theresienstadt em 1947. Mas há também obras feitas no campo de concentração.
Foto: Bürgerstiftung für verfolgte Künste – Else-Lasker-Schüler- Zentrum – Kunstsammlung Gerhard Schneider
Pinturas no "museu do campo"
É sabido que artistas pintaram em Theresienstadt. Mas também em Auschwitz 1 houve um "museu do campo". Lá havia lápis, papel, pincéis à disposição dos artistas, para que executassem encomendas para a SS. Outros motivos surgiram secretamente. Em contrapartida, praticamente não há obras de arte oriundas de Auschwitz 2. Na foto: "Autorretrado de Marian Ruzamski", de 1943/44.
Foto: Staatliches Museum Auschwitz-Birkenau in Oœwiêcim
Imagem de sonhos em Auschwitz
O artista Jan Markiel criou esse retrato, em 1944, sem os materiais que tinha oficialmente à disposição em Auschwitz 1. A filha do padeiro do vilarejo próximo de Jawiszowice ajudou o prisioneiro trazendo pão e intermediando mensagens para a resistência. A têmpera utilizada pelo artista veio de pigmentos raspados da parede. O tecido grosso dos colchões de palha serviu como tela.
Foto: Staatliches Museum Auschwitz-Birkenau in Oœwiêcim
Testemunha dos crematórios
Em 1942, aos 13 anos, Yehuda Bacon (na foto, à dir.) veio para Theresienstadt e, em dezembro de 1943, para Auschwitz-Birkenau. Ele foi utilizado como mensageiro – podendo se aquecer nos fornos dos crematórios no inverno. O que testemunhou, ele relatou não somente durante o célebre Julgamento de Auschwitz em Frankfurt, mas também expressou nos desenhos que executou após a guerra.
Foto: Bürgerstiftung für verfolgte Künste – Else- Lasker-Schüler-Zentrum – Kunstsammlung Gerhard Schneider
Símbolo da morte
Yehuda Bacon mostrou esse desenho aos juízes em Frankfurt, como prova dos crimes cometidos em Auschwitz: chaminés retangulares dos crematórios, um chuveiro, pessoas que são apenas esboços. Para o historiador da arte Kaumkötter, esse desenho é um símbolo da morte nas câmaras de gás e da sepultura nos céus. Trata-se não somente de um testemunho, mas também de uma grande obra de arte.
Foto: Yehuda Bacon
A segunda geração
Michel Kichka é um dos cartunistas mais influentes de Israel. Em 2014, ele publicou a novela gráfica "Segunda geração – o que o meu pai nunca me contou", sobre o menino Kichka e o seu pai, sobrevivente de Auschwitz. Os traumas do pai passaram para o filho. Somente quanto ouve o pai contar piadas sobre o campo, Kichka consegue superar seus pesadelos.
Foto: Egmont Graphic Novel
Metáforas do Holocausto
Também os pais da artista israelense Sigalit Landau são sobreviventes do Holocausto, e o professor de desenho dela foi Yehuda Bacon, que trabalha até hoje como artista e professor de arte em Israel. Os trabalhos de Landau são repletos de alusões metafóricas ao Holocausto, como estes sapatos, que logo lembram a montanha de calçados que ainda hoje pode ser vista na exposição permanente de Auschwitz.
Foto: Sigalit Landau
A morte não tem a última palavra
Sigalit Landau coletou cem pares de sapatos em Israel e os afundou no Mar Morto. O mar os envolveu com uma camada de sal curativa – eles se tornaram símbolo da vida, em vez da morte. O desejo da artista era mostrá-los em Berlim, como sinal de que a esperança derrota o desespero. A mostra "A morte não tem a última palavra" está em cartaz até o dia 27 de fevereiro no prédio do Bundestag, em Berlim.