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Ausente, Bolsonaro é principal alvo em último debate

5 de outubro de 2018

Marina diz que ex-capitão "amarelou" ao não comparecer ao encontro, e Meirelles sugere que país corre risco de eleger um novo Collor. Ciro e Alckmin apelam para que eleitores não votem no candidato do PSL.

Candidatos à Presidência em debate promovido pela TV Globo
Candidatos à Presidência no último debate antes do primeiro turno, promovido pela TV Globo Foto: picture-alliance/AP Photo/S. Izquierdo

O último debate entre os presidenciáveis antes do primeiro turno teve como principal personagem um candidato ausente: Jair Bolsonaro (PSL), o líder nas intenções de voto. Sem participar do encontro organizado pela Rede Globo na noite desta quinta-feira (04/10), o ex-capitão foi alvo de ataques de quase todos os sete candidatos que compareceram.

Bolsonaro não participou alegando razões médicas em decorrência da facada que levou há um mês. No entanto, ele concedeu uma entrevista de 25 minutos no mesmo dia à Rede Record, que acabou sendo veiculada no mesmo horário do debate. Nesta semana, o bispo Edir Macedo, que controla a Rede Record, anunciou publicamente apoio a Bolsonaro.

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O fato de ter evitado o encontro com outros candidatos, mas ter falado em outro canal acabou sendo explorado pelos adversários, que também criticaram as posições radicais do candidato e as polêmicas que envolveram membros da sua campanha.

A candidata Marina Silva (Rede) disse que Bolsonaro "amarelou". "Mais uma vez ele amarelou. Deu uma entrevista para a Record e não veio aqui debater conosco", afirmou Marina.

Henrique Meirelles (MDB) e Ciro Gomes (PDT) levantaram dúvidas quanto à capacidade de um candidato que não comparece para discutir propostas. Meirelles também sugeriu que a ascensão de Bolsonaro e a busca por um "um salvador da pátria" é semelhante à que resultou na eleição de Fernando Collor em 1989.

"Se alguém se esconde, se alguém não aparece e só vai dar entrevista numa situação de controle, amigável, significa que essa pessoa não tem condições de administrar o país", disse o candidato do MDB.

Ciro destacou os conflitos no núcleo da campanha de Bolsonaro. "Assusta ver uma equipe de três pessoas – Bolsonaro, Mourão e Paulo Guedes – brigando a dias da eleição. Você imagina que isso vai dar certo?", perguntou ele a Meirelles. O emedebista respondeu: "Não vai dar certo." 

Nas últimas semanas, Guedes, o guru econômico de Bolsonaro, e o vice do ex-capitão, general Hamilton Mourão (PRTB), defenderam a recriação da CPMF e criticaram o 13º salário, o que acabou gerando conflitos com o presidenciável do PSL.

Geraldo Alckmin (PSDB) relembrou a derrocada econômica do governo Dilma Rousseff, mas disse que "o caminho também não é o radical de direita, que diz que saúde não precisa de mais dinheiro, que quer imposto novo e não tem sensibilidade com mulheres". "Não acredito que o PT nem o Bolsonaro vão tirar o país da crise", disse.

Guilherme Boulos (PSOL) aproveitou uma pergunta para fazer um discurso sobre os riscos de eleger um candidato que expressa ideias autoritárias e que defende o regime militar.

"Não dá para fingir que está tudo bem. Nós saímos de uma ditadura em que muita gente morreu. Quando eu nasci, estava numa ditadura e não quero que minhas filhas cresçam numa. Ditadura nunca mais", disse Boulos.

Fernando Haddad (PT) criticou Bolsonaro de maneira menos enfática do que os adversários. A ascensão do candidato do PSL – que alcançou 35% das intenções de voto em pesquisa Datafolha divulgada nesta quinta-feira – vem se tornando um dilema para os petistas, que ainda preferem propagandear os feitos do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e planejavam lançar sua artilharia contra o ex-capitão apenas no segundo turno.

Em uma de suas falas, Haddad disse que o candidato do PSL "veio com a ideia de cortar 13º, abono de férias, cobrar Imposto de Renda dos pobres que são isentos, cortar o Bolsa Família e introduzir a CPMF".

Apenas o candidato Alvaro Dias (Podemos), que fez uma campanha monotemática associando o PT à corrupção, não direcionou ataques a Bolsonaro. A atitude de Dias de preservar Bolsonaro, em contraste com outros candidatos, pareceu sinalizar que ele está disposto a apoiar o ex-capitão no segundo turno.

Enquanto o debate era transmitido pela TV Globo, Bolsonaro publicou uma foto no Instagram demonstrando não se importar com o evento entre os outros candidatos. Na imagem, ele aparece em casa, em frente a um televisor sintonizado no SBT. "Dando uma conferida no show ao vivo do apresentador e comediante Danillo Gentili. kkkkk", escreveu na legenda.

Ao longo do debate, várias duplas de candidatos fizeram "dobradinhas" para criticar Bolsonaro, entre eles Marina, Ciro e Meirelles. Eles também debateram o processo de polarização nas eleições e a radicalização de parte do eleitorado. "Ódio não gera emprego", disse Meirelles. "Precisamos parar com essa ideia de que decidimos em função do medo e do ódio", afirmou Marina.

Ciro apontou que as ações da fábrica de armas Taurus cresceram 180% nos últimos 60 dias com a ascensão de Bolsonaro, que defende o armamento da população. "Tem várias pessoas associadas à turma do Bolsonaro ganhando dinheiro com a evolução das pesquisas", disse. "Queria tirar a máscara dele na frente de todo mundo aqui."

Embates paralelos

Também ocorreram alguns embates paralelos entre Boulos, Alckmin, Haddad, Marina, Meirelles e Alckmin. O candidato do MDB chegou a dizer a Boulos: "Eu trabalho, algo que pode parecer estranho para você." 

O líder dos sem-teto devolveu o ataque ao ex-ministro da Fazenda do presidente Michel Temer. "Você deveria falar em desemprego, e não em trabalho. É mais a sua cara."

Em um embate com Haddad, Marina disse que candidato petista "reitera todos os erros cometidos (pelo PT) e ainda faz um elogio". "A gente tem que pensar em um projeto de um país, e não em um projeto de poder. O Brasil está à beira de ir para um esgarçamento sem volta, entre a sua candidatura e a do Bolsonaro."

Haddad discordou, dizendo reconhecer os erros do PT, mas que os acertos são maiores. "Não vou jogar a criança com a água do banho." Ele também defendeu Lula e afirmou que ele é "um preso político". 

Sem se envolver em embates paralelos, Ciro apelou para os eleitores que rejeitam a polarização entre Bolsonaro e Haddad, afirmando ser capaz de vencer qualquer um dos dois no segundo turno, segundo indicam pesquisas.

Cabo Daciolo (Patriota), que em outros encontros se notabilizou pelo comportamento histriônico, não compareceu a este debate. Ele não foi convidado pela Rede Globo. Sem o cabo, coube a Dias assumir o papel de personalidade excêntrica. Logo em sua primeira pergunta, ele se perdeu em divagações e não conseguiu formular uma questão para Meirelles no tempo disponível. A plateia riu.

Dias também mostrou a Haddad um papel que, segundo ele, continha uma pergunta para o ex-presidente Lula, que está preso. "Trouxe a pergunta por escrito para ele levar para o candidato do PT, já que ele o visita toda segunda-feira", disse Dias.

O comportamento do senador foi reprovado por Haddad. "O senhor deveria ter mais compostura. Não respeita tempo, regras. Faz brincadeira com coisa séria", disse. Meirelles, que também se envolveu em um embate com o senador, chegou a dizer que Dias estava "confuso".

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