Com contingente adicional, número de soldados australianos estacionados no país para ajudar no combate ao "Estado Islâmico" chegará a 500. Decisão vem após início da maior ofensiva do governo iraquiano contra jihadistas.
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O governo da Austrália anunciou nesta terça-feira (03/03) que vai enviar 300 soldados adicionais ao Iraque em missão conjunta com a Nova Zelândia, para ajudar a recuperar o território ocupado pelo grupo terrorista "Estado Islâmico" (EI).
O passo veio após a decisão da Nova Zelândia, na semana passada, de disponibilizar 140 soldados adicionais, que, apesar de não participarem de lutas, irão preparar o Exército iraquiano para combater os jihadistas. Os soldados australianos também devem ajudar a treinar os militares iraquianos.
O primeiro-ministro australiano, Tony Abbott, disse que a decisão de Camberra veio após um pedido formal dos governos do Iraque e dos EUA e que a missão deve durar dois anos.
"Quero salientar que não foi fácil tomar essa decisão. Afinal de contas, cabe ao Iraque derrotar o culto da morte ["Estado Islâmico"], mas não quereremos deixar os iraquianos sozinhos", declarou Abbott.
A missão dos soldados australianos deverá ter início em maio. Com o contingente adicional, o número de soldados australianos estacionados no Iraque para combater o EI chegará a 500. No ano passado, além de 200 soldados, a Austrália também enviou 400 funcionários das Forças Aéreas ao Iraque.
Tikrit e Mossul
A medida veio na esteira do início da maior ofensiva do governo iraquiano para retomar posições conquistadas pelos radicais islâmicos no país. Apoiados por ataques aéreos, cerca de 30 mil soldados iraquianos e milicianos tentam retomar Tikrit e seus arredores – cidade natal do ex-ditador Saddam Hussein e um dos bastiões do EI.
A operação para a retomada de Tikrit teve início nesta segunda-feira, após ser anunciada pelo primeiro-ministro iraquiano na noite anterior. Após meses de lutas, tropas do governo apoiadas por bombardeios aéreos, milícias xiitas e curdos peshmerga não conseguiram superar a resistência dos jihadistas na cidade.
De acordo com autoridades iraquianas, a retomada de Tikrit poderá ser um passo rumo à recuperação de Mossul, segunda maior cidade do Iraque e principal bastião dos jihadistas no Iraque.
"Estado Islâmico": de militância sunita a califado
Origens do grupo jihadista remontam à invasão do Iraque, em 2003. Nascido como oposição ao domínio xiita e inicialmente um braço da Al Qaeda, EI passou por mudanças e virou uma ameaça internacional.
Foto: picture-alliance/AP Photo
A origem do "Estado Islâmico"
A trajetória do "Estado Islâmico" (EI) começou em 2003, com a derrubada do ditador iraquiano Saddam Hussein pelos EUA. O grupo sunita surgiu a partir da união de diversas organizações extremistas, leais ao antigo regime, que lutavam contra a ocupação americana e contra a ascensão dos xiitas ao governo iraquiano.
Foto: picture-alliance/AP Photo
Braço da Al Qaeda
A insurreição se tornou cada vez mais radical, à medida que fundamentalistas islâmicos liderados pelo jordaniano Abu Musab al Zarqawi, fundador da Al Qaeda no Iraque (AQI), infiltraram suas alas. Os militantes liderados por Zarqawi eram tão cruéis que tribos sunitas no Iraque ocidental se voltaram contra eles e se aliaram às forças americanas, no que ficou conhecido como "Despertar Sunita".
Foto: AP
Aparente contenção
Em junho de 2006, as Forças Armadas dos EUA mataram Zarqawi numa ofensiva aérea e ele foi sucedido por Abu Ayyub al-Masri e Abu Omar al-Bagdadi. A AQI mudou de nome para Estado Islâmico do Iraque (EII). No ano seguinte, Washington intensificou sua presença militar no país. Masri e Bagdadi foram mortos em 2010.
Foto: AP
Volta dos jihadistas
Após a retirada das tropas dos EUA do Iraque, efetuada entre junho de 2009 e dezembro de 2011, os jihadistas começaram a se reagrupar, tendo como novo líder Abu Bakr al-Bagdadi, que teria convivido e atuado com Zarqawi no Afeganistão. Ele rebatizou o grupo militante sunita como Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL).
Foto: picture alliance/dpa
Ruptura com Al Qaeda
Em 2011, quando a Síria mergulhou na guerra civil, o EIIL atravessou a fronteira para participar da luta contra o presidente Bashar al-Assad. Os jihadistas tentaram se fundir com a Frente Al Nusrah, outro grupo da Síria associado à Al Qaeda. Isso provocou uma ruptura entre o EIIL e a central da Al Qaeda no Paquistão, pois o líder desta, Ayman al-Zawahiri, rejeitou a manobra.
Foto: dapd
Ascensão do "Estado Islâmico"
Apesar do racha com a Al Qaeda, o EIIL fez conquistas significativas na Síria, combatendo tanto as forças de Assad quanto rebeldes moderados. Após estabelecer uma base militar no nordeste do país, lançou uma ofensiva contra o Iraque, tomando sua segunda maior cidade, Mossul, em 10 de junho de 2014. Nesse momento o grupo já havia sido novamente rebatizado, desta vez como "Estado Islâmico".
Foto: picture alliance / AP Photo
Importância de Mossul
A tomada da metrópole iraquiana Mossul foi significativa, tanto do ponto de vista econômico quanto estratégico. Ela é uma importante rota de exportação de petróleo e ponto de convergência dos caminhos para a Síria. Mas a conquista da cidade é vista como apenas uma etapa para os extremistas, que pretenderiam avançar a partir dela.
Foto: Getty Images
Atual abrangência do EI
Além das áreas atingidas pela guerra civil na Síria, o EI avançou continuamente pelo norte e oeste iraquianos, enquanto as forças federais de segurança entravam em colapso. No fim de junho, a organização declarou um "Estado Islâmico" que atravessa a fronteira sírio-iraquiana e tem Abu Bakr al-Bagdadi como "califa".
Foto: Reuters
As leis do "califado"
Abu Bakr al-Bagdadi impôs uma forma implacável da charia, a lei tradicional islâmica, com penas que incluem mutilações e execuções públicas. Membros de minorias religiosas, como cristãos e yazidis, deixaram a região do "califado" após serem colocados diante da opção: converter-se ao islã sunita, pagar um imposto ou serem executados. Os xiitas também eram alvo de perseguição.
Foto: Reuters
Guerra contra o patrimônio histórico
O EI destruiu tesouros arqueológicos milenares em cidades como Palmira (foto), na Síria, ou Mossul, Hatra e Nínive, no Iraque. Eles diziam que esculturas antigas entram em contradição com sua interpretação radical dos princípios do Islã. Especialistas afirmam, porém, que o grupo faturou alto no mercado internacional com a venda ilegal de estátuas menores, enquanto as maiores eram destruídas.
Foto: Fotolia/bbbar
Ameaça terrorista
Durante suas ofensivas armadas, o "Estado Islâmico" saqueou centenas de milhões de dólares em dinheiro e ocupou diversos campos petrolíferos no Iraque e na Síria. Seus militantes também se apossaram do armamento militar de fabricação americana das forças governamentais iraquianas, obtendo, assim, poder de fogo adicional.