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SaúdeAustrália

Austrália volta a cancelar visto de Djokovic

14 de janeiro de 2022

Decisão foi tomada pelo ministro da Imigração do país e abre caminho para que tenista seja deportado. Djokovic ainda pode recorrer, mas novo cancelamento complica suas chances de participar do Aberto da Austrália.

Novak Djokovic
Djokovic, número um do tênis mundial, chegou a Melbourne em 5 de janeiro para disputar o Aberto da AustráliaFoto: GREG WOOD/AFP

O ministro australiano da Imigração, Alex Hawke, determinou nesta sexta-feira (14/01) o cancelamento do visto do tenista Novak Djokovic, abrindo caminho para que o sérvio seja deportado. Essa é a segunda vez que Djokovic tem o visto cancelado pelas autoridades australianas.

Caso seja mesmo deportado, Djokovic poderá ser impedido de entrar na Austrália por até três anos. "Hoje eu exerci meu poder de cancelar o visto do senhor Novak Djokovic por motivos de saúde e ordem, com base no interesse público", disse Hawke em comunicado.

A nova decisão marca uma reviravolta no imbróglio entre as autoridades australianas e Djokovic. Na última segunda-feira, o tenista havia obtido uma vitória num tribunal para permanecer no país, depois que um juiz entendeu que as circunstâncias do primeiro cancelamento do visto de Djokovic na semana passada não "haviam sido razoáveis" e reverteu a decisão das autoridades australianas.

Depois disso, parecia que o tenista poderia finalmente disputar o Aberto da Austrália, razão da sua viagem ao país. Na quinta-feira, Djokovic chegou a ser incluído no sorteio do torneio. Ele jogaria contra o compatriota Miomir Kecmanovic na competição que tem início na segunda-feira.

Djokovic ainda pode recorrer nos tribunais para reverter o novo cancelamento, mas o prazo exíguo coloca novamente sua participação no torneio em dúvida.

O caso já gerou tensões diplomáticas entre a Austrália e a Sérvia, terra natal do tenista, e foi acompanhado de perto pela imprensa mundial.

Imbróglio

Djokovic, número um do tênis mundial, chegou a Melbourne em 5 de janeiro para disputar o Aberto da Austrália. Ele venceu as últimas três edições do torneio e um total de nove vezes.

Cético da vacinação, ele viajou sem apresentar comprovante de imunização, amparado apenas por uma isenção médica que havia sido concedida pelos organizadores do torneio e autoridades estaduais de Melbourne. O governo federal, responsável pelas fronteiras internacionais e pelos vistos, não participou do processo de isenção. Para obter sua isenção, Djokovic argumentara que havia tido covid-19 em 16 dezembro e que havia se recuperado.

Sérvios protestam em Melbourne. Caso gerou crise entre Austrália e SérviaFoto: Hamish Blair/AP/picture alliance

O anúncio da isenção, feito pelo próprio atleta em suas redes sociais, imediatamente provocou críticas na Austrália, onde mais de 90% das pessoas com mais de 16 anos receberam duas doses de vacina contra a covid-19. Melbourne também teve o lockdown mais longo do mundo para conter o coronavírus, e recentemente um surto da nova variante ômicron levou os números de casos a níveis recordes.

Antes mesmo de Djokovic desembarcar em Melbourne, as autoridades federais do país avisaram que ele precisaria justificar essa isenção, ou seria colocado "no próximo avião para casa". Após o desembarque, o tenista teve sua entrada no país recusada e ficou retido no aeroporto de Melbourne sob a alegação de não ter mostrado "evidências adequadas para atender aos requisitos de entrada no país".

Depois de permanecer oito horas no aeroporto e ter seu visto cancelado, Djokovic foi colocado em um hotel especial da imigração australiana.

Outra tenista que pretendia disputar a competição, a tcheca Renata Voracova, também foi barrada ao tentar entrar na Austrália na semana passada e teve seu visto cancelado. Assim como Djokovic, ela não apresentou comprovante de vacinação.

Na última segunda-feira, Djokovic ganhou tempo ao conseguir reverter o cancelamento do visto nos tribunais. O juiz do caso entendeu que o governo australiano não respeitou um prazo concedido inicialmente a Djokovic para que o tenista apresentasse sua defesa.

No entanto, mesmo perdendo a disputa judicial, o governo australiano avisou que ainda tinha poder para cancelar o visto de Djokovic por meio de uma medida executiva. Foi o que finalmente aconteceu nesta sexta-feira.

Nos últimos dias, o caso ainda teve episódios que levantaram novas dúvidas sobre a isenção médica concedida ao tenista. Na terça-feira, as autoridades australianas informaram que estavam investigando Djokovic por suspeita de mentir em seu formulário de entrada no país.

Pela regras australianas para conter a pandemia, passageiros com destino ao país da Oceania devem evitar visitar outros países além do local de origem nas duas semanas anteriores ao deslocamento para a Austrália.

Djokovic informou no documento que não havia viajado para nenhum outro país além do local de origem do seu voo, a Espanha. No entanto, suas próprias publicações nas redes sociais desmentiram a informação, mostrando que ele esteve na Sérvia durante o Natal.

Para piorar, Djokovic participou de vários eventos públicos nos dias imediatamente posteriores à data em que ele teria testado positivo para covid-19. Djokovic  admitiu o erro no documento de viagem, mas culpou seu agente por passar a informação incorreta.

Djokovic pode ter manipulado teste de covid, diz revista

Por fim, também foram levantadas dúvidas sobre o próprio diagnóstico positivo para covid-19 apresentado pelo atleta para conseguir sua isenção de vacinação. Na terça-feira, reportagem da revista Der Spiegel apontou a suspeita de que a data do teste tenha sido forjada.

De acordo com a documentação repassada pela equipe jurídica do atleta, ele teria testado positivo para covid-19 no dia 16 de dezembro de 2021, o que permitiria o ingresso na Austrália mesmo sem a vacina.

Mas, de acordo com a Der Spiegel, vários indícios, sobretudo na versão digital do resultado do teste, apontam para manipulação. Dados digitais sugerem que o teste não é de 16 de dezembro. Nos resultados, há um carimbo de data e hora de 14h21min, horário da Sérvia, em 26 de dezembro.

Durante sua primeira batalha jurídica contra o governo australiano, Djokovic, que vinha evitando afirmar publicamente se havia sido vacinado ou não, finalmente admitiu que não se imunizou.

Em junho de 2020, ainda na primeira onda de covid-19 na Europa, Djokovic ajudou a organizar um torneio exibição na Sérvia e na Croácia que provocou controvérsia por não incluir regras de distanciamento social ou uso obrigatório de máscaras. Às vésperas de terminar, o evento foi suspenso por conta de um surto de casos de covid entre torcedores, treinadores e jogadores. Pouco depois, Djokovic e sua mulher também testaram positivo para o coronavírus.

jps/lf (ots)

 

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