Autópsias apontam que George Floyd foi morto por asfixia
2 de junho de 2020
Enquanto análise oficial cita problemas preexistentes e uso de drogas como circunstâncias envolvendo a morte do homem negro por policial, exames independentes negam que tais condições tenham contribuído para o óbito.
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Exames de autópsia confirmaram nesta segunda-feira (01/05) que a morte de George Floyd, homem negro que morreu após uma ação policial em Minneapolis, nos EUA, foi, de fato, homicídio por asfixia. Entretanto, as análises oficiais e os exames independentes trazem versões diferentes sobre as causas da morte.
Floyd, de 46 anos, foi detido pela polícia e imobilizado na rua por um policial, que pressionou seu pescoço com o joelho durante vários minutos, apesar de a vítima afirmar várias vezes que não conseguia respirar. Sua morte gerou uma onda de protestos em várias cidades do país, que, em alguns casos, foram marcados por distúrbios nas ruas e confrontos violentos entre manifestantes e policiais.
Um boletim divulgado por autoridades médicas do Condado de Hennepin, que conduziram a autópsia oficial, confirma a conclusão de morte após homicídio divulgada também por uma autópsia independente, mas ambas divergem em relação aos fatores que teriam provocado a morte de Floyd.
"A vítima sofreu parada cardiorrespiratória agravada por compressão do pescoço enquanto era imobilizada pelo agente da lei", afirma o documento. O exame contraria a autópsia inicial apresentada por autoridades de Minneapolis, que afirmou não haver sinais de estrangulamento.
Como "outras condições significantes", que possivelmente teriam contribuído para a morte, o exame aponta que Floyd teria feito uso recente de metanfetamina e teria sofrido intoxicação pelo opioide fentanil, além de sofrer de hipertensão e problemas cardíacos.
No entanto, dois médicos que realizaram exames independentes e dois advogados da família de Floyd disseram que ele não tinha problemas de saúde preexistentes que pudessem ter contribuído para sua morte, além de não terem informações sobre abuso de drogas ou álcool por parte da vítima.
Allecia Wilson, da Universidade do Michigan, uma das médicas que realizaram as autópsias independentes, disse que evidências apontam para "asfixia mecânica" como causa da morte, o que significa que algum tipo de força física interferiu com o suprimento de oxigênio da vítima.
Imagens registradas por pessoas no local mostram não apenas que o policial Derek Chauvin imobilizou Floyd durante cerca de nove minutos, mas que outros dois policiais pressionavam as costas da vítima com os joelhos. O médico Michael Baden, que participou da autópsia independente a pedido da família, afirmou que a ação dos outros policias também impediram Floyd de respirar.
"Podemos ver que, depois de pouco menos de quatro minutos, o Sr. Floyd está sem se movimentar, sem vida", afirmou, ressaltando que a vítima não tinha problemas de saúde anteriores que pudessem ter contribuído para sua morte.
Chauvin foi demitido da polícia e detido na semana passada, acusado de assassinato em terceiro grau e homicídio culposo. Os advogados da família, Antonio Romanucci e Ben Crump, afirmaram que os outros três policiais que participaram da ação juntamente com Chauvin também deveriam ser acusados.
Crump ressaltou que a autópsia independente e as imagens de vídeo deixam claro que Floyd estava morto quando estava deitado no chão, com os policiais sobre seu corpo. "A ambulância foi seu carro fúnebre", afirmou.
Milhares se manifestaram nos Estados Unidos e até no Canadá contra o maltrato sistêmico de negros pela polícia, redundando em confrontações violentas. Trump contribuiu para acirrar os ânimos.
Foto: picture-alliance/AP Photo/J. Cortez
"Não consigo respirar"
Protestos tensos contra décadas de brutalidade policial perante cidadãos negros se alastraram rapidamente de Minneapolis a outras localidades dos Estados Unidos. As manifestações começaram na cidade do centro-oeste após a morte do afro-americano George Floyd, de 46 anos: em 25/05/2020, um policial o algemou e pressionou o joelho em seu pescoço até ele parar de respirar.
Foto: picture-alliance/newscom/C. Sipkin
De pacífico a violento
No sábado, os protestos foram basicamente pacíficos, mas se tornaram violentos com o avançar da noite. Em Washington, a Guarda Nacional foi mobilizada diante da Casa Branca. Tiroteios no centro de Indianápolis deixaram pelo menos um morto: segundo a polícia, não havia agentes envolvidos. Policiais ficaram feridos em Filadélfia. Em Nova York, dois veículos da polícia avançaram contra uma multidão.
Foto: picture-alliance/ZUMA/J. Mallin
Saques e destruição
Em Los Angeles, manifestantes enfrentaram com brados de "Black Lives Matter!" (Vidas negras importam) os agentes da lei armados de cassetetes e revólveres com balas de borracha. Na cidade, assim como em Atlanta, Nova York, Chicago e Minneapolis, os protestos se transformaram em revoltas de massa, com saques e destruição de estabelecimentos comercias.
Foto: picture-alliance/AP Photo/C. Pizello
Provocador de Estado
O então presidente Donald Trump ameaçou enviar militares para abafar os protestos: "Minha administração vai parar a violência de massa, e de uma vez só", anunciou, acirrando as tensões nos EUA. Apesar de ele ter culpado supostos grupos de extrema esquerda pelas agitações, o governador de Minnesota, Tim Walz, citou diversos relatos de que supremacistas brancos estariam incitando o conflito.
Foto: picture-alliance/ZUMA/K. Birmingham
Mídia na mira da polícia
Diversos jornalistas que cobriam os protestos foram atacados por policiais. Na sexta-feira (29/05), o correspondente da CNN Omar Jimenez e sua equipe foram presos em Minneapolis. A polícia local também atirou na direção de Stefan Simons, da DW, quando ele se preparava para transmitir ao vivo, na noite de sábado. Outros repórteres foram alvejados com projéteis ou detidos quando estavam no ar.
Foto: Getty Images/S. Olson
Além das fronteiras
As manifestações chegaram até o Canadá: no sábado milhares marcharam pelas ruas de Vancouver e Toronto. Nesta cidade, os participantes também lembraram a morte da afro-canadense Regis Korchinski-Paquet, de 29 anos, na quarta-feira (27/05), caída da varanda de seu apartamento no 24º andar, onde se encontrava só com policiais.
Foto: picture-alliance/NurPhoto/A. Shivaani
#GeorgeFloyd
Milhares também desfilaram diante da embaixada dos Estados Unidos em Berlim, manifestando indignação contra o homicídio de Floyd e o racismo sistêmico.
Foto: picture-alliance/AP Photo/M:.Schreiber
Casa Branca cercada
A Força Nacional fez um cordão de isolamento, no domingo, para proteger a Casa Branca. O presidente Trump chegou a ser levado para um bunker na sede do Executivo, que foi alvo de manifestações por dias.
Foto: Reuters/J. Ernst
Soldados em Washington
Após Trump anunciar o uso de soldados para conter as manifestações, o Pentágono deslocou cerca de 1.600 militares para a área de Washington para apoiar as forças de segurança da capital caso seja necessário, diante dos protestos que marcaram uma semana da morte de Floyd. Na Alemanha, o ministro do Exterior, Heiko Maas, criticou a ameaça de Trump de usar militares armados contra os manifestantes.
Foto: Getty Images/AFP/W. McNamee
Recado de Obama
No dia em que a procuradoria endureceu as acusações contras os quatro policias envolvidos na ação, o ex-presidente dos EUA Barack Obama disse que protestos refletem "mudança de mentalidade" no país e incentivou os jovens a continuar realizando as manifestações. "Espero que (os jovens) sintam esperança, ao mesmo tempo que estão indignados, porque eles têm o poder de mudar as coisas", afirmou.
Foto: Reuters/J. Skipper
Funeral reúne centenas em Minneapolis
Centenas participaram de uma cerimônia fúnebre em homenagem a George Floyd em 04/06. Elas ficaram em silêncio por 8 minutos e 46 segundos, tempo em que Floyd ficou com o pescoço prensado pelo joelho de um policial. "É hora de nos levantarmos em nome de Floyd e dizer: tirem o seu joelho dos nossos pescoços", afirmou o reverendo e ativista pelos direitos civis Al Sharpton (foto) durante o funeral.