Autora alemã lança monografia sobre cineasta Nanni Moretti
30 de maio de 2012Nanni Moretti foi o senhor do júri em Cannes, neste maio de 2012. Ele presidiu um seleto grêmio de atores, cineastas e figurinistas, encarregado de decidir em Cannes sobre a Palma de Ouro. O próprio diretor italiano já mereceu a mais importante distinção do mundo do cinema em 2001, por seu filme O quarto do filho.
Antes, em 1994, Moretti já recebera o prêmio de melhor direção do festival francês por Caro diário. A premiação lhe proporcionou o salto decisivo na carreira, pelo menos no tocante à atenção internacional.
Mesmo antes de Cannes, o cineasta já era uma grandeza reconhecida em seu país: Caro diário foi seu sétimo longa-metragem. Moretti estreara em 1976 com Io sono un autarchico (Sou autárquico).
Mais de três décadas de atividade
Hoje, além de ser um dos diretores mais famosos da Itália, ele é considerado uma das cabeças pensantes do cinema nacional e ativista dos direitos civis durante a era Berlusconi. Sua produção mais recente, Habemus Papam, mostra o veterano francês Michel Piccoli como cardeal e papa eleito, em fuga diante da responsabilidade.
Ainda assim, como aponta Charlotte Lorber na introdução de sua monografia, nos países germanófonos "ainda é preciso recorrer a teses de mestrado e doutorado, assim como a ensaios isolados, quando se quer saber mais sobre um dos mais importantes cineastas das últimas três décadas".
Sua própria publicação Die Filme des Nanni Moretti – Erfahrung und Inszenierung von Räumlichkeit und Zeitlichkeit (Os filmes de Nanni Moretti – Experiência e encenação do senso de espaço e tempo), lançada na Alemanha pela Editora Schüren, originou-se de uma dissertação universitária.
Relações no espaço e tempo
Através de uma "perspectiva interpretativa específica", a autora pretende haver escapado do "perigo de uma investigação excessivamente especializada, que necessariamente ignora características elementares do cinema de Moretti". Ainda assim o ensaio em questão permanece um trabalho científico, com todas as vantagens e desvantagens.
A mencionada "perspectiva interpretativa" – baseada nos conceitos "espaço", "tempo" e "movimento" – é aplicada de forma bastante esquemática aos filmes do diretor. Para tal, Charlotte Lorber se apoia na tese de um teórico italiano de cinema.
"É possível ler a relação entre o sujeito e o mundo a partir do posicionamento das figuras dentro das relações de espaço e tempo cinematograficamente construídas, e portanto pode-se também ler o estado atual de uma sociedade." Um ponto de vista válido, e que pode ser aplicado com vantagem, ao abordar as obras de Moretti.
Análise detalhada
Contudo, uma abordagem "sensorial-emotiva" também é possível. "Como o espaço-tempo se expressa, em especial, na forma de movimento, o motivo da viagem é de significado essencial para os filmes de Moretti", prossegue a autora. Em todos os seus filmes, as viagens representam um determinado papel: "mudanças de local, travessia de fronteiras, viagens, no sentido mais amplo, em busca da felicidade, que podem acarretar mudanças mentais e ganho de conhecimentos, mas que também podem ser simplesmente uma fuga da realidade".
Em quase 400 páginas densamente redigidas, a autora analisa detalhadamente filme após filme, colocando em primeiro plano o significado do espaço e do tempo. Ela descreve a reação da crítica local, apresenta as discussões que os filmes de Moretti desencadearam na Itália.
Aprende-se muito sobre os motivos temáticos, sobre as raízes do diretor dentro da sociedade italiana, sobre leitmotive como este: "No nível temporal, chama em especial a atenção o conflito 'infantilidade versus maturidade adulta', no qual estão envolvidos tanto o protagonista quanto a sociedade italiana, como um todo".
Ícone cinematográfico contemporâneo
A publicação de Charlotte Lorber preenche, de fato, uma lacuna no panorama editorial alemão. Pela primeira vez é possível estudar no país esse importante cineasta europeu. Porém, antes de tudo, o interessado deveria assistir os seus filmes. Tarefa nada fácil, no tocante à sua obra de juventude, devido à falta de oferta em DVD.
A imagem do diretor e protagonista de Caro diário, balançando-se para lá e para cá sobre sua Vespa, já se consagrou como ícone do moderno cinema de autor europeu. Um pouco mais dessa "magia" teria feito bem ao livro em questão.
Autor: Jochen Kürten / Augusto Valente
Revisão: Carlos Albuquerque