Alemães preocupados com terroristas comandados do exterior
Marcel Fürstenau (ca)14 de setembro de 2016
Detenção de três suspeitos chama a atenção para as células que recebem instruções de fora por meio das redes sociais. Internet também é usada para recrutamento e posterior divulgação dos atentados por meio de vídeos.
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Após a prisão, num abrigo de refugiados no norte da Alemanha, de três sírios suspeitos de planejar atos de terrorismo, o presidente do Departamento Federal de Proteção da Constituição (BfV), Hans-Georg Maassen, soou o alerta: "Estamos preocupados com um novo tipo de agressor, que apenas parece agir de forma solitária", afirmou nesta quarta-feira (14/09), em Berlim.
Segundo Maassen, esses potenciais autores de atentados são comandados a partir do exterior por meio de serviços de mensagens instantâneas. "Essa situação é um desafio especial para as autoridades de segurança – como também a detecção de células adormecidas", prosseguiu o presidente do BfV.
Os três sírios detidos esta terça-feira possivelmente formam uma dessas células adormecidas – que aguardam instruções, por exemplo do grupo terrorista "Estado Islâmico" (EI), para agir. Os três – Mahir H. (17 anos), Ibrahim M. (18) e Mohamed A. (26) – foram postos em prisão preventiva nesta quarta-feira, após serem interrogados por juízes de instrução da Corte Federal de Justiça.
A corte, que é a instância superior da jurisdição ordinária, afirmou que os suspeitos não se manifestaram sobre as acusações. O mais jovem dos três suspeitos já havia sido ouvido nesta terça-feira pela BGH.
Uso da internet
Na opinião das autoridades, o trio viajou para a Alemanha a mando do EI, "a fim de executar uma ordem já recebida ou se preparar para novas instruções." O presidente do BfV falou de uma "guerra híbrida". Maassen disse ser uma novidade o chamamento, em redes sociais como Facebook, Whatsapp e Telegram, para a execução de atentados "em que os autores escapam ilesos e incógnitos".
Em círculos de segurança acredita-se num "uso cruzado" da internet. Nesse caso, a rede é plataforma para radicalização, recrutamento, comunicação e controle à distância de potenciais assassinos. Isso também vale para o planejamento e a divulgação dos atentados, como, por exemplo, em forma de mensagens de vídeo. A esse repertório também pertencem instruções de ação e a intermediação de contatos.
Segundo as autoridades de segurança, a cena salafista da Alemanha é muito suscetível aos contatos externor pela internet. A cena passa por um rápido crescimento. De acordo com o órgão de proteção da Constituição, ela cresceu, desde junho, de 8,9 mil para 9,2 mil pessoas.
Recrutamento entre os refugiados
Os grupos terroristas também tentam conseguir novos recrutas entre os muitos refugiados que chegaram à Alemanha. Por isso, o órgão de proteção da Constituição elaborou um guia para os trabalhadores voluntários que ajudam refugiados, com o objetivo de ajudá-los a identificar possíveis riscos. Como reconhecer atividades extremistas e de inteligência? é o título do livreto.
Segundo o manual, na opinião das autoridades alemãs de segurança deve se partir do princípio de que, entre os refugiados, haja simpatizantes e membros de organizações terroristas. A prisão dos três suspeitos nesta terça-feira parece confirmar essa tese.
Alemanha é palco de ataques
Quatro incidentes violentos são registrados em menos de uma semana, todos no sul do país – em Würzburg, Munique, Reutlingen e Ansbach.
Foto: picture-alliance/dpa/D. Karmann
Golpes a machado e faca
Em 18 de julho de 2016, um jovem de 17 anos atacou passageiros de um trem em Würzburg, no sul da Alemanha. Com um machado e uma faca, ele deixou cinco feridos.
Foto: picture-alliance/AP Photo/K.-J. Hildenbrand
Estado de choque
Os cinco feridos no ataque em Würzburg foram quatro passageiros de Hong Kong e uma mulher atingida pelo agressor no momento em que este deixava o trem. Outros 14 passageiros ficaram em estado de choque.
Foto: picture-alliance/dpa/K.-J. Hildenbrand
"Estado Islâmico" reivindica ataque
O agressor de Würzburg entrou na Alemanha em junho de 2015, como um requerente de asilo afegão, e foi morto pela polícia durante a fuga. O "Estado Islâmico" reivindicou o ataque e divulgou um vídeo mostrando o agressor, que se declara um soldado da milícia islâmica. A Secretaria do Interior da Baviera confirmou a autenticidade das imagens.
Foto: picture-alliance/dpa/Amak
Ataque a tiros em Munique
No dia 22 de julho de 2016, um alemão de origem iraniana de 18 anos abriu fogo contra passantes numa área comercial de Munique, desencadeando uma grande operação policial na cidade.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Gebert
Apenas um atirador
De início, a suspeita era de que se tratasse de três atiradores, mas no fim da noite a polícia confirmou que o ataque havia sido perpetrado por apenas um agressor, que se matou. O corpo do jovem foi encontrado a poucos metros do shopping-center Olympia, onde ele fez a maioria de suas vítimas.
Foto: picture-alliance/AP Photo/S. Widmann
Luto em Munique
Nove pessoas, além do atirador, morreram na capital bávara, e outras 35 ficaram feridas. Quase todas as vítimas tinham entre 14 e 21 anos. A cidade no sul da Alemanha amanheceu em luto após o ataque. Um pequeno memorial, com flores, velas e cartazes, foi montado próximo ao shopping Olympia e a uma filial do restaurante McDonald’s, que foram palcos do tiroteio.
Foto: Reuters/A. Wiegmann
Ataque com facão
No dia 24 de julho de 2016, um refugiado sírio de 21 anos atacou passantes na cidade de Reutlingen, no sul da Alemanha, usando um facão. Uma mulher morreu e outras duas pessoas ficaram feridas. O jovem já tinha passagens pela polícia por agressão e foi preso. As autoridades descartam motivação terrorista para o ataque.
Foto: picture-alliance/dpa/C. Schmidt
Bomba em Ansbach
Mais uma cidade bávara foi palco de um ataque na noite de 24 de julho de 2016. Em Ansbach, uma explosão na entrada de um festival de música deixou um morto e 12 feridos. O autor do ataque foi um refugiado sírio de 27 anos, que morreu na explosão, segundo a polícia.
Foto: picture-alliance/dpa/D. Karmann
Em busca dos motivos
No dia seguinte ao ataque, investigadores coletaram objetos no abrigo de refugiados onde o sírio de 27 anos vivia, em Ansbach. As autoridades não descartam se tratar de um ato de terrorismo islâmico. O agressor estaria em tratamento psiquiátrico e teve o asilo negado há um ano, vivendo no país desde então com status de "tolerado" (geduldet).