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Autoridades russas retiram acusações contra jornalista

11 de junho de 2019

Ivan Golunov havia sido detido por suposto tráfico de drogas. Defesa e entidades falam em acusação fabricada para silenciar repórter, que investiga casos de corrupção. Policiais responsáveis por prisão são suspensos.

Gulonov, após deixar a prisão domiciliar.
Detenção de Gulonov foi denunciada não apenas por jornais independentes, mas também por parte da mídia estatalFoto: Reuters/S. Zhumatov

As autoridades da Rússia decidiram nesta terça-feira (11/06) revogar a prisão domiciliar e retirar as acusações de tráfico de drogas contra o jornalista investigativo Ivan Golunov.

Golunov, de 36 anos, conhecido por suas reportagens sobre casos de corrupção envolvendo autoridades de Moscou, foi detido na semana passada quando estava a caminho de um encontro com uma fonte.

A polícia declarou inicialmente que drogas foram encontradas na mochila e na casa do jornalista durante uma revista. O jornalista negou as acusações e disse que as substâncias foram plantadas propositalmente.

O caso provocou condenação de vários veículos da imprensa e de organizações da sociedade civil, que denunciaram o acontecido como uma fabricação para silenciar o jornalista.

Após deixar a prisão domiciliar, Golunov disse que pretende continuar a realizar reportagens sobre a corrupção na Rússia.

Em comunicado, o ministro russo do Interior, Vladimir Kolokoltsev, disse que os policiais que efetuaram a prisão foram suspensos de suas funções. Segundo o ministro, a Justiça terá agora de avaliar "a legalidade das ações dos policiais que prenderam" Golunov.

Kolokoltsev ainda afirmou que duas autoridades policiais devem ser demitidas em consequência da reviravolta no caso: o general da Polícia Andrei Puchkov, chefe das forças de ordem no distrito oeste de Moscou, e o general Yuri Deviatkin, chefe do Departamento de Combate a Narcóticos de Moscou. Ele disse que pedirá ao presidente russo, Vladimir Putin, para removê-los do cargo.

Jornalista do site de notícias Meduza, conhecido por suas investigações sobre a corrupção na prefeitura de Moscou e em setores obscuros como o de microcrédito e de agências funerárias, Ivan Golunov estava em prisão domiciliar desde sábado.

Exames realizados não revelaram nenhum vestígio de droga no sangue do jornalista, e nenhum dos pacotes de drogas apreendidos tinha suas digitais, segundo os advogados de Golunov.

O episódio provocou uma onda de rara solidariedade na sociedade russa, que contou com o apoio não só de jornais independentes, mas também de parte da mídia estatal e até mesmo de alguns políticos de alto escalão. Em um gesto sem precedentes, nesta segunda-feira três grandes jornais russos – Kommersant, Vedomosti e RBK  estamparam a mesma capa em defesa do jornalista detido.

A decisão de retirar as acusações também é bastante rara na Rússia, onde os serviços de segurança e a polícia são acusados com frequência de fabricar flagrantes para silenciar opositores. A reviravolta foi celebrada por jornalistas e opositores.

"Choro de alegria. Entendemos perfeitamente que isto foi possível graças aos esforços de milhares de pessoas", declarou Galina Timchenko, diretora-geral do site Meduza.

"É uma grande notícia. É um exemplo inspirador e motivador do que a solidariedade pode fazer em favor de pessoas que são perseguidas", comemorou o opositor Alexei Navalny, ele mesmo alvo de vários processos judiciais nos últimos anos.

A organização Repórteres sem Fronteiras (RSF) saudou no Twitter uma "mobilização histórica da sociedade civil" na Rússia. "Agora, aqueles que tentaram fabricar esse caso devem ser julgados", apontou.

Por sua parte, o chefe do Conselho de Direitos Humanos, órgão vinculado ao Kremlin, Mikhail Fedotov, elogiou a decisão de libertar o repórter. "É uma vitória de todos, uma vitória da sociedade civil [...], uma vitória do bom senso, uma vitória da lei", declarou.

JPS/efe/rtr/ots

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