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Autoridades subestimaram terrorista de Berlim, diz jornal

Jefferson Chase av
17 de dezembro de 2017

Em 19/12/2016 Anis Amri matou 12 numa feira de Natal. Segundo reportagem, forças de segurança sabiam de planos de atentado, mas quiseram usar tunisiano como isca. Serviços secretos internacionais podem estar envolvidos.

Caminhão usado no atentado da praça Breitscheidplatz, em foto de 20/12/2016
Caminhão usado no atentado da praça Breitscheidplatz, em foto de 20/12/2016Foto: picture-alliance/dpa/M. Kappeler

Se a reportagem da edição deste domingo (17/12) do semanário alemão Die Welt am Sonntag  estiver correta, a história de Anis Amri terá quer ser reescrita. Em 19 de dezembro de 2016, o terrorista tunisiano matou 12 pessoas e feriu mais de 70 numa feira natalina de Berlim, ao invadir com um caminhão sequestrado a movimentada praça Breitscheidplatz.

Depois de analisar milhares de documentos do Departamento Federal de Investigações da Alemanha (BKA), dezenas de relatórios de informantes e registros de monitoramento de telefonia celular e internet, o jornal concluiu que desde novembro de 2015 polícia e agências do serviço secreto sabiam que Amri representava uma ameaça terrorista.

Essas informações contradizem a noção difundida de que só no decorrer de 2016 as autoridades teriam se dado conta do risco apresentado pelo tunisiano morto aos 24 anos. Na verdade, agentes do estado da Renânia do Norte-Vestfália já teriam começado a grampear o telefone de Amri no fim do ano anterior – mas não o consideraram perigoso.

Autoridades sabiam mais do que se pensava

Tanto investigadores federais como autoridades estaduais renanas e berlinenses foram alvo de crítica por supostos erros cometidos no período antecedente ao atentado de 19 de dezembro. Já era sabido que Amri chegou à Alemanha da Itália em julho de 2015, entrando pela cidade de Freiburg, no sudoeste do país, passando a residir sobretudo na Renânia do Norte-Vestfália e Berlim.

Irmão de Anis Amri segura retrato do terrorista de BerlimFoto: Getty Images/AFP/F. Belaid

Ele foi preso em 2016 e deveria ter sido deportado, mas foi libertado devido ao temor de que a Tunísia não o receberia de volta, por falta de documentos de identidade. Tendo escapado em seguida ao ataque contra o mercado de Natal, após uma operação de captura de âmbito europeu ele foi morto a tiros pela polícia na Itália.

O consenso até agora era que, quando as autoridades perceberam o perigo representado por ele, Amri já teria desaparecido na clandestinidade. A isso, contudo, o Welt  acrescenta agora os seguintes dados:

24/11/2015: Um informante denuncia à polícia que Anis Amri tem planos concretos de para um atentado terrorista. Não está claro se o informante o encorajou a declarar tal intenção.

a partir de 03/12/2015: As conexões de celular e internet de Amri passam a ser monitoradas.

14/12/2015: Amri baixa em seu telefone instruções detalhadas para a construção de explosivos, bombas e granadas de mão.

a partir de 02/02/2016: O tunisiano faz contatos telefônicos com terroristas de médio-escalão do grupo jihadista "Estado islâmico" (EI) na Líbia, através do celular e de serviços de chat, oferecendo-se para perpetrar um ataque suicida.

Em janeiro de 2016, o Departamento de Proteção à Constituição (BfV), responsável pela segurança interna da Alemanha, redige uma análise de duas páginas sobre Anis Amri, pessoalmente assinada pelo diretor do órgão, Hans-Georg Maassen.

No mês seguinte, o BKA entrega ao BfV mais de 12 mil dados sobre Amri, inclusive suas comunicações com os terroristas do EI. O órgão de segurança interna designa então um de seus agentes para observar o tunisiano.

Em março, o BfV intercepta uma chamada em que Amri fala a um primo sobre ser morto lutando pelo EI. Isso provaria que, antes de sua vinda para a Europa, em 2011, já haveria ligações familiares entre ele e a organização terrorista. Isso ocorre ainda nove meses antes do ataque à feira natalina em Berlim.

Interferência de serviços secretos internacionais?

Segundo Die Welt am Sonntag, "não é evidente", a partir dos dados disponíveis, por que os investigadores e agentes de inteligência não investiram antes contra Amri. O periódico especula que talvez tenham permitido que ele continuasse em liberdade na esperança de que os levasse a terroristas mais importantes.

"Diversos meses de investigações tornam plausível o envolvimento de serviços secretos internacionais", comentam os autores. "Eles muito provavelmente viram em Amri uma isca, capaz de levá-los aos que estavam por trás dele, os planejadores do atentado na Líbia."

Sedimentando a conjetura de que serviços de inteligência internacionais estariam envolvidos, Die Welt  menciona que em 19 de janeiro de 2017 a Força Aérea americana bombardeou o campo do "Estado Islâmico" no deserto líbio onde se suspeitava estarem os contatos de Amri.

Em entrevista ao semanário, o membro da comissão de supervisão dos serviços de inteligência do Parlamento alemão Hans-Christian Ströbele, do Partido Verde, especulou que a "mão que manda" dos serviços secretos das Forças Armadas dos Estados Unidos estaria por trás da falha – "inexplicável, de outro modo" – em capturar Amri no início de 2016.

A Alemanha homenageará nesta terça-feira o aniversário do ataque ao mercado de Natal da Breitscheidplatz. Na segunda-feira, a chanceler federal Angela Merkel se encontra com sobreviventes e familiares das vítimas.

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