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Avanço de Berlusconi ameaça levar Itália a impasse político

Alexandre Schossler25 de fevereiro de 2013

Projeções mostram centro-esquerda com maioria na Câmara, mas sem o controle do Senado. Situação põe em risco governabilidade no país, que atravessa momento de turbulência política e econômica.

Foto: Olivier Morin/AFP/Getty Images

O surpreendente crescimento da coalizão de centro-direita do ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi e o excelente resultado do Movimento Cinco Estrelas, liderado por um comediante e que parece ter conseguido catalizar o crescente descontentamento social, ameaçam jogar a Itália num impasse político.

Segundo resultados preliminares, a coalizão de centro-esquerda de Pier Luigi Bersani confirmou o favoritismo e conseguirá a maioria na Câmara dos Deputados. No Senado, no entanto, a apuração parcial mostrava na noite desta segunda-feira (25/02) que nenhum partido seria capaz de formar maioria – exatamente o oposto do que precisa a Itália, cuja estabilidade é ameaçada por turbulências políticas, pela recessão e pelo desemprego crescente.

Com 88% dos votos apurados e segundo projeções da imprensa italiana, a coalizão de Berlusconi obteria 123 senadores, número que a centro-esquerda, com 104 cadeiras, não conseguiria alcançar mesmo em coalizão com o partido centrista do atual primeiro-ministro Mario Monti, que teria 17. O ator Beppe Grillo e seu movimento conseguiriam surpreendentes 57 senadores, o que, em tese, daria-lhes a chave para resolver o impasse político. O comediante, no entanto, já descartou qualquer aliança.

No peculiar sistema eleitoral italiano, ter a maioria dos votos em nível nacional não significa necessariamente ter o controle do Senado. Isso porque as cadeiras são distribuídas de acordo com o desempenho do partido em cada região. Quem vencer na Lombardia, por exemplo, leva 55% das quase 50 cadeiras independentemente da diferença de votos entre os partidos.

Em nível nacional, uma projeção do Instituto Piepoli divulgada na noite de segunda-feira mostrou a coalizão de Berlusconi praticamente empatada com o bloco que apoia Bersani no Senado, com 30,7%, cada um. A televisão RAI reportou uma vantagem de Bersani, com 31,9% contra 30,5% para Berlusconi. Em terceiro, viria o Movimento Cinco Estrelas, com 24,5%, seguido da coalizão de Monti, com 9,5%

Centro-esquerda de Pier Luigi Bersani deve obter maioria na Câmara, mas pode ficar em segundo no SenadoFoto: Alberto Lingria/AFP/Getty Images

Caso não consiga a maioria no Senado, Bersani será forçado a buscar uma coalizão com o primeiro-ministro Mario Monti. Analistas alertam que essa possa ser uma opção politicamente instável, devido às diferenças entre os dois campos.

Sobe e desce nos mercados

Os mercados financeiros europeus mostraram preocupação com a possibilidade de que não haja um vencedor claro, o que poderá trazer instabilidade à terceira maior economia da zona do euro, depois da Alemanha e da França.

Investidores saudaram os primeiros sinais de uma possível vitória da esquerda, com a bolsa de Milão apresentando alta de mais de 3,5%. No entanto, os números dos mercados se retraíram, após a divulgação dos primeiros resultados dando maioria para a coalizão de Berlusconi no Senado.

Beppe Grillo, que conseguiu resultado surpreendente no pleitoFoto: Giuseppe Cacace/AFP/Getty Images

O comparecimento às urnas foi de cerca de 75%, cinco pontos percentuais a menos que nas últimas eleições, em 2008.

Desilusão

Analistas italianos atribuem à desilusão provocada com a crise o motivo pela participação relativamente baixa e pelo grande número de votos de protesto. "A Itália vira as costas para a política, abandona as urnas, e é assim que registra seu protesto", escreveu o diário de esquerda Il Fatto Quotidiano. O conservador Corriere della Sera afirma que o baixo comparecimento às urnas reflete em "desorientação aguda" no eleitorado, diante de uma "crise sem fim à vista".

A grande surpresa desta eleição foi o comediante Beppe Grillo, que pede que as dívidas da Itália sejam canceladas e a realização de um referendo sobre a permanência na zona do euro. Ele fez comícios em praças cheias durante a campanha, canalizando a frustração dos italianos, que vêm suportando sua maior recessão em duas décadas. Críticos consideram os candidatos de seu partido como muito inexperientes, enquanto os simpatizantes afirmam que eles trarão um novo ar à política.

MD/rtr/dpa/afp
Revisão: Rafael Plaisant Roldão

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