Avião alemão com equipamento militar para curdos chega ao Iraque
Franziska Hentsch (md)5 de setembro de 2014
Cargueiro com 70 toneladas de ítens, que vão desde capacetes, coletes à prova de balas a radiotransmissores, chega à capital da região autônoma do Curdistão. Data do envio de armas pela Alemanha ainda não foi definida.
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Um avião cargueiro com equipamento militar alemão destinado aos curdos iraquianos pousou na manhã desta sexta-feira (05/09) em Erbil, no norte do Iraque, disse um porta-voz das Forças Armadas alemãs (Bundeswehr). A transferência da carga às forças curdas foi agendada para o mesmo dia.
O avião teve de fazer escala em Bagdá, onde foi inspecionado pelas autoridades iraquianas, antes de seguir a seu destino final. "Este é um procedimento normal, o governo iraquiano quer verificar se a carga que o governo alemão discriminou em seu relatório realmente corresponde ao material enviado", destaca o tenente-coronel alemão Christoph von Löwenstern, em entrevista à DW.
A aeronave, do tipo Antonov, partiu do aeroporto Leipzig-Halle com cerca de 9.500 ítens militares, incluindo 4 mil coletes à prova de balas, 4 mil capacetes, 700 radiotransmissores e 680 binóculos equipados com visão infravermelha, além de detectores de minas e munição. A carga pesa, ao todo, 70 toneladas.
Treinamento
O apoio na distribuição do material aos combatentes curdos será fornecido por seis oficiais alemães. Eles não apenas repassarão os equipamentos às mãos das tropas curdas, como também ministrarão um treinamento prévio para que os soldados aprendam a manusear os equipamentos.
"É crucial que ocorra uma transferência com instrução qualificada, para que os soldados também saibam lidar com segurança com o equipamento", disse Löwenstein.
Além dos seis militares alemães presentes em Erbil, poderá ser definido também o envio de outros soldados alemães para treinamento dos curdos. Ainda não está definido quando as primeiras armas serão enviadas pela Alemanha. Löwenstein disse que isso não ocorrerá antes do final de setembro.
O jornalista curdo Zinar Shino, que acompanhou a chegada do avião, mostrou-se aliviado com o envio de ajuda. Ele espera, no entanto, que em breve armas também sejam enviadas para seu país. "Com a ajuda dos países europeus, o Estado Islâmico certamente será detido e rechaçado. Nossos colegas que trabalham lá enviaram imagens terríveis. As tropas curdas e também muitos soldados iraquianos precisam de uma grande quantidade de armas para lutar eficazmente contra o Estado Islâmico."
"Estado Islâmico": de militância sunita a califado
Origens do grupo jihadista remontam à invasão do Iraque, em 2003. Nascido como oposição ao domínio xiita e inicialmente um braço da Al Qaeda, EI passou por mudanças e virou uma ameaça internacional.
Foto: picture-alliance/AP Photo
A origem do "Estado Islâmico"
A trajetória do "Estado Islâmico" (EI) começou em 2003, com a derrubada do ditador iraquiano Saddam Hussein pelos EUA. O grupo sunita surgiu a partir da união de diversas organizações extremistas, leais ao antigo regime, que lutavam contra a ocupação americana e contra a ascensão dos xiitas ao governo iraquiano.
Foto: picture-alliance/AP Photo
Braço da Al Qaeda
A insurreição se tornou cada vez mais radical, à medida que fundamentalistas islâmicos liderados pelo jordaniano Abu Musab al Zarqawi, fundador da Al Qaeda no Iraque (AQI), infiltraram suas alas. Os militantes liderados por Zarqawi eram tão cruéis que tribos sunitas no Iraque ocidental se voltaram contra eles e se aliaram às forças americanas, no que ficou conhecido como "Despertar Sunita".
Foto: AP
Aparente contenção
Em junho de 2006, as Forças Armadas dos EUA mataram Zarqawi numa ofensiva aérea e ele foi sucedido por Abu Ayyub al-Masri e Abu Omar al-Bagdadi. A AQI mudou de nome para Estado Islâmico do Iraque (EII). No ano seguinte, Washington intensificou sua presença militar no país. Masri e Bagdadi foram mortos em 2010.
Foto: AP
Volta dos jihadistas
Após a retirada das tropas dos EUA do Iraque, efetuada entre junho de 2009 e dezembro de 2011, os jihadistas começaram a se reagrupar, tendo como novo líder Abu Bakr al-Bagdadi, que teria convivido e atuado com Zarqawi no Afeganistão. Ele rebatizou o grupo militante sunita como Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL).
Foto: picture alliance/dpa
Ruptura com Al Qaeda
Em 2011, quando a Síria mergulhou na guerra civil, o EIIL atravessou a fronteira para participar da luta contra o presidente Bashar al-Assad. Os jihadistas tentaram se fundir com a Frente Al Nusrah, outro grupo da Síria associado à Al Qaeda. Isso provocou uma ruptura entre o EIIL e a central da Al Qaeda no Paquistão, pois o líder desta, Ayman al-Zawahiri, rejeitou a manobra.
Foto: dapd
Ascensão do "Estado Islâmico"
Apesar do racha com a Al Qaeda, o EIIL fez conquistas significativas na Síria, combatendo tanto as forças de Assad quanto rebeldes moderados. Após estabelecer uma base militar no nordeste do país, lançou uma ofensiva contra o Iraque, tomando sua segunda maior cidade, Mossul, em 10 de junho de 2014. Nesse momento o grupo já havia sido novamente rebatizado, desta vez como "Estado Islâmico".
Foto: picture alliance / AP Photo
Importância de Mossul
A tomada da metrópole iraquiana Mossul foi significativa, tanto do ponto de vista econômico quanto estratégico. Ela é uma importante rota de exportação de petróleo e ponto de convergência dos caminhos para a Síria. Mas a conquista da cidade é vista como apenas uma etapa para os extremistas, que pretenderiam avançar a partir dela.
Foto: Getty Images
Atual abrangência do EI
Além das áreas atingidas pela guerra civil na Síria, o EI avançou continuamente pelo norte e oeste iraquianos, enquanto as forças federais de segurança entravam em colapso. No fim de junho, a organização declarou um "Estado Islâmico" que atravessa a fronteira sírio-iraquiana e tem Abu Bakr al-Bagdadi como "califa".
Foto: Reuters
As leis do "califado"
Abu Bakr al-Bagdadi impôs uma forma implacável da charia, a lei tradicional islâmica, com penas que incluem mutilações e execuções públicas. Membros de minorias religiosas, como cristãos e yazidis, deixaram a região do "califado" após serem colocados diante da opção: converter-se ao islã sunita, pagar um imposto ou serem executados. Os xiitas também eram alvo de perseguição.
Foto: Reuters
Guerra contra o patrimônio histórico
O EI destruiu tesouros arqueológicos milenares em cidades como Palmira (foto), na Síria, ou Mossul, Hatra e Nínive, no Iraque. Eles diziam que esculturas antigas entram em contradição com sua interpretação radical dos princípios do Islã. Especialistas afirmam, porém, que o grupo faturou alto no mercado internacional com a venda ilegal de estátuas menores, enquanto as maiores eram destruídas.
Foto: Fotolia/bbbar
Ameaça terrorista
Durante suas ofensivas armadas, o "Estado Islâmico" saqueou centenas de milhões de dólares em dinheiro e ocupou diversos campos petrolíferos no Iraque e na Síria. Seus militantes também se apossaram do armamento militar de fabricação americana das forças governamentais iraquianas, obtendo, assim, poder de fogo adicional.