Avião pegou fogo antes de cair no Irã, diz relatório
9 de janeiro de 2020
Boeing 737 teve problemas técnicos após decolar de Teerã e tentava voltar a aeroporto quando caiu, afirmam investigadores iranianos. Ministro fala em acidente, enquanto Ucrânia diz considerar várias causas possíveis.
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Um avião ucraniano que caiu em Teerã com 176 pessoas a bordo pegou fogo antes de cair, afirma um relatório preliminar divulgado por investigadores iranianos nesta quinta-feira (09/01). A queda do Boeing 737-800 da companhia aérea Ukraine International Airlines, ocorrida na madrugada desta quarta-feira, resultou na morte de todos os passageiros e tripulantes a bordo.
A aeronave viajava com destino a Kiev, capital da Ucrânia,e transportava principalmente iranianos. O jato caiu logo após decolar do aeroporto internacional Imam Khomeini, em Teerã.
O ministro dos Transporte do Irã, Mohammed Eslami, rejeitou alegações de que a queda da aeronave seria "suspeita". "O avião pegou fogo devido a um defeito técnico e isso resultou em um acidente", disse Eslami.
O relatório preliminar da Organização de Aviação Civil do Irã citou testemunhas em terra e em um avião a uma altitude elevada que teriam dito que a aeronave da companhia ucraniana estava pegando fogo enquanto estava no ar.
O avião, de apenas três anos de idade e que passou por sua última manutenção programada na segunda-feira, teve problemas técnicos logo depois de decolar e mudou sua rota para tentar voltar ao aeroporto, afirma o relatório.
O problema técnico não foi especificado pelos investigadores, que também frisaram que não houve comunicação de rádio do piloto e que a aeronave desapareceu do radar a 8 mil pés (2.440 metros) de altura.
Até agora, não está claro se algum problema técnico poderia ter relação com uma falha mecânica ou uma peça defeituosa. O relatório iraniano se referiu à queda como um acidente.
As caixas-pretas, que contêm dados e comunicações do cockpit do avião, foram recuperadas, apesar de terem sofrido danos e de algumas partes da memória terem se perdido.
O desastre aconteceu em um momento difícil para a fabricante de aviões Boeing, que suspendeu a fabricação de seu 737 MAX após dois acidentes. O 737-800 é um dos modelos mais usados no mundo, tem um bom histórico de segurança e não usa a ferramenta de software implicada em quedas do 737 MAX.
As investigações sobre desastres aéreos são complexas, exigindo que reguladores, peritos e empresas de vários países trabalhem em conjunto. A divulgação de um relatório dentro de 24 horas é rara, e as autoridades podem levar meses para determinar a real causa do incidente.
Uma fonte de segurança afirmou à agência de notícias Reuters que havia evidências de que houve superaquecimento de um dos motores. A queda ocorreu horas depois de o Irã lançar mísseis contra bases que abrigam forças americanas no Iraque, levando alguns a especular que o avião pudesse ter sido atingido.
Rota é popular entre canadenses
Em Kiev, o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, afirmou que o governo estava considerando várias causas possíveis para a queda do avião. Numa declaração transmitida pela televisão, ele pediu às pessoas que evitem especulações, teorias conspiratórias e avaliações apressadas em relação à queda. Ele também declarou esta quinta-feira como dia de luto nacional.
O líder ucraniano afirmou que conversaria por telefone com o presidente iraniano para intensificar a cooperação para descobrir a causa do desastre.
Países reconhecidos como participantes da investigação devem nomear quem desejam incluir, afirmou o relatório iraniano, apontando que peritos ucranianos iriam participar da apuração.
Como país onde o avião foi desenvolvido e construído, os EUA são geralmente autorizados a serem incluídos nas investigações por meio de uma convenção da ONU, mas nenhum dos lados envolvidos afirmou se investigadores americanos serão enviados ao Irã.
As tensões entre Washington e Teerã aumentaram com a morte do alto general iraniano Qassim Soleimani pelos EUA, que levou Teerã a retaliar com o ataque de mísseis a bases iraquianas usadas por forças americanas.
A aeronave ucraniana que caiu poucas horas depois do ataque iraniano decolou do aeroporto de Teerã às 6:12 horas da manhã (horário local) e foi lhe dado permissão para subir até 26 mil pés (quase 8 mil metros), afirmou o relatório. Seis minutos depois, o avião caiu perto da cidade de Sabashahr.
Os restos mortais recuperados no local do desastre devem agora ser identificados por médicos forenses, segundo o relatório de investigadores iranianos. Objetos como sapatos e roupas ficaram espalhados no campo onde o avião caiu. Trabalhadores de resgate usando máscaras de proteção colocaram corpos em sacos.
A bordo estavam 146 iranianos, 11 ucranianos, dez afegãos, cinco canadenses e quatro suecos, apontou o relatório, acrescentando que alguns podem ter mais de uma cidadania. As autoridades ucranianas disseram que 82 iranianos, 63 canadenses e 11 ucranianos haviam embarcado no avião.
Devido à ausência de voos diretos, a rota entre Toronto e Teerã via Kiev é popular entre canadenses com ascendência iraniana que visitam o Irã.
O avião é um dos meios de transporte mais seguros do mundo, mas desastres aéreos, quando acontecem, costumam envolver um grande número de vítimas. Relembre acidentes dos últimos 70 anos que entraram para a história.
Foto: picture-alliance/C. Daughty
Tragédia mata time base da seleção italiana
Há 70 anos, em 4 de maio de 1949, o avião que levava o time do Torino, então tetracampeão italiano, após um amistoso contra o Benfica, em Lisboa, se chocou contra a Basílica de Superga, em Turim. O acidente matou as 31 pessoas a bordo, incluindo 18 jogadores e cinco integrantes da comissão técnica. O Torino era considerado a melhor equipe de futebol do mundo e formava a base da seleção italiana.
Foto: picture-alliance/dpa
Milagre após 73 dias perdidos nos Andes
Em 13 de outubro de 1972, 45 pessoas – jogadores de um clube de rugby e familiares –partiram de Montevidéu em um avião da Força Aérea Uruguaia rumo ao Chile. A aeronave caiu nos Andes, causando na hora a morte de 12 pessoas e de outras 17 nos dias seguintes. No entanto, 16 homens sobreviveram a 73 dias na neve e foram resgatados após dois deles terem deixado o acampamento para pedir socorro.
Foto: AFP/Getty Images
O maior número de vítimas da aviação
Em 27 de março de 1977, um Boeing 747 da KLM vindo de Amsterdã colidiu com um Jumbo da PanAm que partiu de Los Angeles na pista do aeroporto de Los Rodeos, em Tenerife, nas Ilhas Canárias. A explosão matou 583 pessoas, o maior número de vítimas fatais da história da aviação. Os aviões tinham sido desviados para Los Rodeos devido a um ataque a bomba no aeroporto de Las Palmas, em Gran Canária.
Foto: Getty Images/AFP
Bomba derruba aeronave no Oceano Atlântico
A explosão de uma bomba no compartimento de cargas de um Boeing 747 causou a queda do vôo 182 da Air India no Oceano Atlântico, em 23 de junho de 1985, quando ele sobrevoava a costa da Irlanda, na rota entre Montreal e Nova Déli. As 329 pessoas a bordo morreram. O ataque foi vinculado a extremistas sikhs.
Foto: Getty Images/AFP/A. Durand
O maior número de vítimas em um único avião
O acidente com o maior número de vítimas a bordo de um único avião aconteceu com o voo 123 da Japan Airlines, que fazia a rota entre Tóquio e Osaka. O Boeing 747-SR46 colidiu com o Monte Takamagahara, a 100 quilômetros de Tóquio, em 12 de agosto de 1985. Entre os 520 mortos estava o famoso cantor Kyū Sakamoto. Quatro mulheres sobreviveram, sendo duas delas crianças.
Foto: picture alliance/dpa/Toshiki Ohira
Avião atinge espectadores de show aéreo
Três aviões da esquadrilha acrobática italiana Flechas Tricolores (Frecce Tricolori) se chocaram em pleno voo durante um show de acrobacias aéreas na base militar americana em Ramstein, no sudoeste da Alemanha, em 28 de agosto de 1988. Um dos jatos caiu sobre a multidão de espectadores, matando 70 pessoas e deixando mais de mil feridas.
Foto: picture-alliance/dpa/Füger
Choque causa morte de crianças e adolescentes
Uma colisão entre um Tupolew 154 da companhia russa Bashkirian Airlines, que vinha de Moscou, e um jato da empresa alemã DHL, que viajava do Bahrein a Bruxelas, matou 71 pessoas na noite de 1º de julho de 2002 sobre a cidade de Überlingen, na Alemanha, às margens do Lago de Constança. Entre as vítimas, estavam 49 crianças e adolescentes que viajavam de férias para a Espanha.
Foto: AP
Colisão mata 154 no Brasil
Um choque no ar com um jato Legacy provocou a queda de um Boeing da Gol em 29 de setembro de 2006, a 692 quilômetros de Cuiabá (MT), matando as 154 pessoas a bordo. O voo 1907 havia saído de Manaus, faria escala em Brasília e seguiria para o Rio. O Legacy, que viajava para os Estados Unidos quando bateu, conseguiu pousar na Serra do Cachimbo, no Pará. As sete pessoas a bordo saíram ilesas.
Foto: Força Aérea Brasileira/Divulgação
Acidentes mortais da Latam
Em 17 de julho de 2007, um Airbus A320 da Latam (antiga TAM) que vinha de Porto Alegre não conseguiu parar na pista de Congonhas, atravessou uma avenida e colidiu com um prédio da TAM Express, causando 199 mortes (187 a bordo e 12 em solo). Onze anos antes, um Foker 100 que seguia para o Rio havia caído 24 segundos depois de decolar de Congonhas, matando as 96 pessoas a bordo e três em solo.
Foto: AP
Brasileiros na tragédia da Air France
Em 31 de maio de 2009, um Airbus 330-203 da Air France que fazia a rota Rio de Janeiro-Paris caiu no Atlântico, matando as 228 pessoas a bordo, sendo 59 brasileiros. Partes da fuselagem e corpos foram encontrados quase dois anos depois. A investigação concluiu que a causa foi uma combinação de erros dos pilotos com problemas ocorridos por congelamento nos sensores de velocidade.
Foto: picture-alliance/dpa
Míssil russo derruba Boeing na Ucrânia
Um míssil russo abateu o voo MH17 da Malaysia Airlines, causando a queda do Boeing 777 que sobrevoava a Ucrânia, em 17 de julho de 2014. As 298 pessoas a bordo morreram, a maioria holandesas – o voo havia partido de Amsterdã com destino a Kuala Lumpur. Os investigadores concluíram que o míssil Bouk-Telar foi disparado de uma brigada antiaérea em Kursk, na Rússia, perto da fronteira com a Ucrânia.
Foto: imago/Itar-Tass
Acidente causado por piloto da Germanwings
Uma tragédia em 24 de março de 2015 chocou a Alemanha. Um Airbus A320 da Germanwings que fazia a rota Barcelona-Düsseldorf caiu nos Alpes Franceses, matando os 144 passageiros e seis tripulantes. O desastre foi causado intencionalmente pelo copiloto, Andreas Lubitz, que omitiu da companhia tendências suicidas. Andreas trancou o piloto fora da cabine e chocou a aeronave contra as montanhas.
O presidente da Polônia Lech Kaczynski morreu em 10 de abril de 2010, quando o Tupolev 1954 em que ele estava caiu perto do aeroporto de Smolensk, na Rússia, matando também outras 96 pessoas, entre elas autoridades do primeiro escalão do governo. A comitiva polonesa viajava para a Rússia para participar de uma cerimônia em memória ao massacre de prisioneiros poloneses na Segunda Guerra Mundial.
Foto: AP
Tragédia da Chapecoense
Em 28 de novembro de 2016, o avião da LaMia que levava o time da Chapecoense, dirigentes e jornalistas caiu quando voava de Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia, para Medellín, na Colômbia, matando 71 das 77 pessoas a bordo. A equipe disputaria a final da Copa Sul-Americana contra o colombiano Atlético Nacional. A investigação revelou uma série de erros, como falta de combustível.