Aviões partem da Alemanha para campanha contra o EI
10 de dezembro de 2015
As primeiras aeronaves da Força Aérea alemã decolam para a Turquia, que servirá de base para as missões na Síria. No Bunsdestag, oposição questiona a legalidade do envolvimento do país.
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Os dois primeiros aviões de reconhecimento "Tornado" da Forca Aérea alemã decolaram nesta quinta-feira (10/12) de uma base no norte do país rumo à Incirlik, na Turquia, para dar início às atividades das forças alemãs no combate ao "Estado Islâmico" (EI) na Síria e no Iraque.
Uma aeronave Airbus A400M que transportava em torno de 40 soldados de uma unidade da Força Aérea também partiu rumo à base militar turca. Um avião-tanque, que atua no reabastecimento de aeronaves militares, decolou de outra base da Força Aérea, próxima à cidade de Colônia, com o mesmo destino.
A partir da base militar na Turquia, a Bundeswehr (as Forças Armadas alemãs) irá realizar, com início em janeiro, missões de apoio à ofensiva da coalizão internacional contra os extremistas do EI. A fragata alemã Ausburg já atua na proteção do porta-aviões Charles de Gaulle da França, de onde partem os caças franceses que atacam alvos dos extremistas na região.
O Bundestag (câmara baixa do Parlamento alemão) aprovou na última sexta-feira o envio de até 1.200 soldados na missão de combate aos EI.
Após os ataques terroristas no dia 13 de novembro em Paris, pelos quais o grupo extremista assumiu responsabilidade, a França pediu ajuda aos países aliados para que atuem no combate aos jihadistas. Não há, porém, planos para uma missão militar exclusivamente alemã.
Legalidade da missão é questionada
Entretanto, o envolvimento alemão nos combates contra o terrorismo tem sido alvo de críticas. Um parecer jurídico apresentado pelo partido A Esquerda no Bundestag afirma que o envio da Bundeswehr à Síria é ilegal. "A justificativa legal do governo federal para o envio das Forças Armadas alemãs à Síria é insustentável", afirma a avaliação do professor emérito de Direito Norman Paech.
O governo alemão se baseia, entre outras coisas, no estatuto da ONU que estabeleceu o "direito à autodefesa coletiva", após os ataques de Paris, mas que, segundo o jurista, não seria válido no caso do envio da Bundeswehr.
O argumento é que a lei internacional prevê que um Estado apenas pode realizar ofensivas militares caso seja vítima de um ataque terrorista em seu próprio território. Ainda não está claro se o partido irá levar o caso ao Tribunal Federal Constitucional da Alemanha. Para tal, a legenda teria de provar que os poderes do Parlamento teriam sido restringidos, o que, nesse caso, seria difícil.
RC/dpa/afp
"Estado Islâmico": de militância sunita a califado
Origens do grupo jihadista remontam à invasão do Iraque, em 2003. Nascido como oposição ao domínio xiita e inicialmente um braço da Al Qaeda, EI passou por mudanças e virou uma ameaça internacional.
Foto: picture-alliance/AP Photo
A origem do "Estado Islâmico"
A trajetória do "Estado Islâmico" (EI) começou em 2003, com a derrubada do ditador iraquiano Saddam Hussein pelos EUA. O grupo sunita surgiu a partir da união de diversas organizações extremistas, leais ao antigo regime, que lutavam contra a ocupação americana e contra a ascensão dos xiitas ao governo iraquiano.
Foto: picture-alliance/AP Photo
Braço da Al Qaeda
A insurreição se tornou cada vez mais radical, à medida que fundamentalistas islâmicos liderados pelo jordaniano Abu Musab al Zarqawi, fundador da Al Qaeda no Iraque (AQI), infiltraram suas alas. Os militantes liderados por Zarqawi eram tão cruéis que tribos sunitas no Iraque ocidental se voltaram contra eles e se aliaram às forças americanas, no que ficou conhecido como "Despertar Sunita".
Foto: AP
Aparente contenção
Em junho de 2006, as Forças Armadas dos EUA mataram Zarqawi numa ofensiva aérea e ele foi sucedido por Abu Ayyub al-Masri e Abu Omar al-Bagdadi. A AQI mudou de nome para Estado Islâmico do Iraque (EII). No ano seguinte, Washington intensificou sua presença militar no país. Masri e Bagdadi foram mortos em 2010.
Foto: AP
Volta dos jihadistas
Após a retirada das tropas dos EUA do Iraque, efetuada entre junho de 2009 e dezembro de 2011, os jihadistas começaram a se reagrupar, tendo como novo líder Abu Bakr al-Bagdadi, que teria convivido e atuado com Zarqawi no Afeganistão. Ele rebatizou o grupo militante sunita como Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL).
Foto: picture alliance/dpa
Ruptura com Al Qaeda
Em 2011, quando a Síria mergulhou na guerra civil, o EIIL atravessou a fronteira para participar da luta contra o presidente Bashar al-Assad. Os jihadistas tentaram se fundir com a Frente Al Nusrah, outro grupo da Síria associado à Al Qaeda. Isso provocou uma ruptura entre o EIIL e a central da Al Qaeda no Paquistão, pois o líder desta, Ayman al-Zawahiri, rejeitou a manobra.
Foto: dapd
Ascensão do "Estado Islâmico"
Apesar do racha com a Al Qaeda, o EIIL fez conquistas significativas na Síria, combatendo tanto as forças de Assad quanto rebeldes moderados. Após estabelecer uma base militar no nordeste do país, lançou uma ofensiva contra o Iraque, tomando sua segunda maior cidade, Mossul, em 10 de junho de 2014. Nesse momento o grupo já havia sido novamente rebatizado, desta vez como "Estado Islâmico".
Foto: picture alliance / AP Photo
Importância de Mossul
A tomada da metrópole iraquiana Mossul foi significativa, tanto do ponto de vista econômico quanto estratégico. Ela é uma importante rota de exportação de petróleo e ponto de convergência dos caminhos para a Síria. Mas a conquista da cidade é vista como apenas uma etapa para os extremistas, que pretenderiam avançar a partir dela.
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Atual abrangência do EI
Além das áreas atingidas pela guerra civil na Síria, o EI avançou continuamente pelo norte e oeste iraquianos, enquanto as forças federais de segurança entravam em colapso. No fim de junho, a organização declarou um "Estado Islâmico" que atravessa a fronteira sírio-iraquiana e tem Abu Bakr al-Bagdadi como "califa".
Foto: Reuters
As leis do "califado"
Abu Bakr al-Bagdadi impôs uma forma implacável da charia, a lei tradicional islâmica, com penas que incluem mutilações e execuções públicas. Membros de minorias religiosas, como cristãos e yazidis, deixaram a região do "califado" após serem colocados diante da opção: converter-se ao islã sunita, pagar um imposto ou serem executados. Os xiitas também eram alvo de perseguição.
Foto: Reuters
Guerra contra o patrimônio histórico
O EI destruiu tesouros arqueológicos milenares em cidades como Palmira (foto), na Síria, ou Mossul, Hatra e Nínive, no Iraque. Eles diziam que esculturas antigas entram em contradição com sua interpretação radical dos princípios do Islã. Especialistas afirmam, porém, que o grupo faturou alto no mercado internacional com a venda ilegal de estátuas menores, enquanto as maiores eram destruídas.
Foto: Fotolia/bbbar
Ameaça terrorista
Durante suas ofensivas armadas, o "Estado Islâmico" saqueou centenas de milhões de dólares em dinheiro e ocupou diversos campos petrolíferos no Iraque e na Síria. Seus militantes também se apossaram do armamento militar de fabricação americana das forças governamentais iraquianas, obtendo, assim, poder de fogo adicional.