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Bê Ignacio faz música pop entre o Brasil e a Alemanha

Marco Sanchez30 de julho de 2013

Filha de mãe alemã e pai brasileiro, Bê Ignacio cresceu em São Paulo, mas começou a fazer música na Alemanha. Quarto disco, "Índia Urbana", incorpora elementos eletrônicos ao som da cantora.

Foto: Holger Hage

A vida de Betina Ignacio é cheia de contrastes. Filha de uma imigrante alemã e de um pai afrobrasileiro, a cantora conta que sofria preconceito dos colegas de classe alta na escola Waldorf que frequentava em São Paulo. Por outro lado, era muito bem recebida na favela Monte Azul, onde passou grande parte da infância, já que seus pais são assistentes socias e ajudaram a fundar uma ONG na comunidade.

"Até hoje eu adoro contraste. A vida de músico tem muito disso. Um dia você tem que dormir no chão, no outro num hotel de luxo. Acho que tem a ver com a minha vivência. No final das contas, as dificuldades te fortalecem", disse a cantora em entrevista à DW Brasil.

Do lado da mãe veio o interesse pela música clássica; do pai, ela herdou o gosto pelo samba de raiz. "Eu cresci ouvindo Gilberto Gil, Legião Urbana. Quando morava em São Paulo, eu ia a muitos shows de jazz. Mas a minha maior influência é a [cantora nigeriana] Sade", revela Ignacio, que também se declarou fã da banda berlinense Seeed e do cantor de reggae alemão Gentleman.

A menina que cresceu entre duas realidades paulistanas carregou toda sua brasilidade para a Alemanha, onde encontrou na música sua maneira de se expressar.

Em busca de caminhos

Antes de achar seu caminho na música, Ignacio estudou teatro. Ela diz que acabava sempre cuidando da parte musical dos espetáculos. "Não me vejo muito como intérprete. Ser atriz é saber fingir muito bem ser alguém que você não é. Eu não consigo. Sou muito transparente para transmitir sentimentos que não são meus", explica a cantora.

Brasil é uma forte referência na música feita por Bê IgnacioFoto: Holger Hage

Ignacio tem uma relação muito próxima com suas composições, o que faz com que a cantora se sinta mais à vontade cantando material próprio. "Nos meus shows, faço algumas covers que têm algum significado para mim, mas é difícil porque sempre acho os originais melhores", diz.

Depois do teatro, Ignácio começou a cantar em um coral. "Tinha certeza que ia ser cantora de coral porque me sentia bem no meio de muitas vozes." O coral era também uma maneira de não enfrentar o palco sozinha. "No começo da minha carreira ficava tão nervosa que era difícil controlar minha voz. Com o tempo, fui me desenvolvendo e ficando mais tranquila com essa situação, na qual você está superexposta", comenta.

Com o coral, a cantora fez diversas turnês pelo Brasil. Foi quando ela decidiu que queria estudar canto e se mudou para a Alemanha para fazer faculdade de música. Mesmo sem falar alemão fluentemente, o talento musical de Ignacio garantiu uma vaga no curso de música na Universidade de Stuttgart. Eram duas vagas para 50 candidatos.

Na universidade ela conheceu o músico Markus Schmidt, e os dois começaram uma parceria. "Montamos uma banda de covers, mas decidi que queria me expressar através da composição." Em 2006, a carreira de Ignácio tomou um outro rumo: foi quando a dupla conheceu o guitarrista Luiz Brasil, que produziu Mistura Fina, primeiro disco da cantora, gravado em Salvador.

Guerreira Urbana

O conceito para o quarto disco, que ela acabou de lançar, surgiu quando a cantora andava por São Paulo. "Estava andando pelas ruas da cidade e me senti como uma índia, uma guerreira urbana. Eu observava as pessoas e me identificava, eu me via nelas. Apesar de ter uma identificação mais afrobrasileira e europeia, eu também tenho sangue indígena. Queria mostrar essa mistura, fazer um disco que fosse a fundo em minhas raízes", explica Ignácio.

Cantora estudou música em Stuttgart, na AlemanhaFoto: Holger Hage

Índia Urbana é um disco que lida com os contrastes entre o tradicional e o moderno. Na capa, a cantora aparece pintada de índia em plena Avenida Paulista, palco para celebrações e manifestações em São Paulo. "O índio se pinta tanto para a guerra quanto para a festa. Quando fiz as fotos, eu me lembrei muito dos caras-pintadas pedindo o impeachment do Collor. Algum tempo depois, as manifestações começaram a tomar conta do Brasil, e todo o conceito do disco fez ainda mais sentido", diz.

Gravado na Alemanha, Estados Unidos e Brasil, o disco incorpora elementos eletrônicos ao som de Ignacio, originalmente mais orgânico, evidenciando uma maior gama de referência em seu pop brasileiro. "Trabalhamos com um produtor alemão de hip hop. Eu compus algumas das faixas em cima de batidas e loops. Outras músicas eu fiz com voz e violão. Fizemos também três músicas mais pop, com uma sonoridade mais para o rádio, com produtores em Munique."

A cantora avalia que esse é o disco em que ela consegue expressar suas variadas referências musicais de uma maneira mais experiente e madura. "Consegui unir um lado mais dançante com músicas mais profundas. Meu pop está mais rico, com influências da música eletrônica e do hip hop. Mesmo compondo músicas mais comerciais, só consigo cantar canções em que acredito", afirmou.

Novo disco evidencia raízes indígenas da cantoraFoto: Holger Hage

Atualmente, Bê Ignacio mostra suas novas composições nos palcos de festivais europeus. No final de setembro, ela começa a turnê oficial de lançamento de Índia Urbana em clubes da Alemanha e da Suíça. Paralelamente, já quer trabalhar no novo álbum, que deve ser lançado no ano que vem. "Tenho vontade de experimentar mais com música eletrônica, ter coragem de fazer coisas mais extremas", antecipa a cantora.

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