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Baader entre Che Guevara e Mickey Mouse

sm18 de outubro de 2002

Novo filme de Christoph Roth retrata terrorista da Fração do Exército Vermelho (RAF) como ícone da cultura pop.

Frank Giering (como "Andy" Baader) e Laura Tonke (como Gudrun Ensslin) numa cena de "Baader"

Na clandestinidade francesa, Andreas Baader (Frank Giering) observa os telhados de Paris e folheia um livro com fotos de Che Guevara e Fidel Casto, mas Mickey Mouse também era uma de suas leituras prediletas, conforme informações do serviço secreto. O líder terrorista fuma mais do que Belmondo no Acossado de Godard e revida com carinhosa indiferença os apelos da namorada Gudrun Ensslin, "Baby, você é demais!". No meio tempo, faz uma visita de dândi no campo de treinamento palestino na Jordânia e explode lojas de departamentos, embaixadas e sedes de jornal em toda a Alemanha.

Made in MTV

– Almejando um pouco da graça da Nouvelle Vague, sem deixar de consultar o manual de clichês de Hollywood, Christoph Roth tenta transformar o legendário terrorista alemão em ícone pop, sem esquecer nenhum atributo. Baader, que estreou nesta quinta-feira (17) na Alemanha, começa com uma montagem de momentos explosivos dos protestos estudantis. Para quem já vive há anos num revival setentoso, esta montagem de documentos bem poderia passar por um videoclip da MTV. Ao som progressivo de "Can" & Co, os slogans marxistas e poemas de Brecht tornam-se tão consumíveis como as latas (cans) Campbell iconizadas por Warhol. No entanto, Baader passa longe da ironia de Masculino/Feminino (1966), de Jean-Luc Godard, que Roth de certa forma tomou como paradigma.

Filhos de Marx e Coca-Cola

– A dimensão política do ativismo da RAF está mais fora do que dentro da tela. Ao lançar o filme no dia que marca os 25 anos do suicídio não esclarecido de Baader e dois outros terroristas da RAF, Roth relança o tema em solo fértil, sobretudo diante do atual pânico de terrorismo, sem se prender, no entanto, à veracidade histórica ou se preocupar em polemizá-la. O roteiro intercala highlights da trajetória da RAF com episódios fictícios, excluindo a condenação, prisão e suicídio de Baader – temas menos apropriados para a leveza pop do filme.

Suicidado: Baader não morreu

– Roubos de carros, o primeiro atentado, em 1968, contra lojas de departamentos em Frankfurt, relacionamento com a "camarada" Gudrun Ensslin (Laura Tonke), libertação da prisão berlinense com ajuda da jornalista e posterior co-líder Ulrike Meinhof (Birge Schade), preparo no campo de treinamento jordânio, assaltos a bancos, auge da atividade terrorista da RAF, acirramento do cerco policial e escalada da guerra contra o Estado. No final do filme, Baader não é preso após o tiroteio com a polícia, mas se expõe aos tiros, morrendo como mártir. Uma mistura de morte voluntária e assassinato, remetendo às dúvidas que ainda imperam sobre o suicídio de Baader, Gudrun Ensslin e Jan-Carl Raspe no presídio de Stuttgart-Stammheim, em 1977.

Black Box

– A superficialidade do filme naturalmente irritou a crítica, insatisfeita com a banalização deste capítulo recente da história alemã. Ao contrário do último filme sobre a RAF, o documentário Black Box (2001), de Andres Veiel, sobre o seqüestro do empresário Hanns-Martin Schleyer, em 1977, Baader não é um filme sobre terrorismo, mas sim sobre o ícone Baader-Meinhof que se impregnou no imaginário das gerações seguintes.

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