Problema demográfico
13 de janeiro de 2009Paisagens floridas foi o que o ex-chanceler federal alemão Helmut Kohl prometeu quando da reunificação alemã. E elas realmente podem ser encontradas no território onde antigamente ficava a Alemanha Oriental: tanto nas cidades de Berlim, Dresden, Leipzig e Erfurt como nos arredores.
Mas há locais onde o que floresce são as ervas daninhas diante de prédios em ruínas ou fechados. Há 1,3 milhão de residências vazias no Leste da Alemanha. Até 2010, 350 mil deverão ser demolidas no contexto de um programa de renovação urbana – a expectativa do governo alemão é recuar para poder avançar.
"No Leste há perdedores relativos e vencedores relativos", afirma Philipp Oswalt, curador do projeto internacional Shrinking Cities, uma iniciativa do governo alemão na qual arquitetos, etnólogos, geógrafos e artistas analisam processos de encolhimento urbano em todo o mundo.
Cidades que saíram ganhando, como Leipzig ou Erfurt, conseguiram ao menos estancar o processo de encolhimento. Em Potsdam, ao lado de Berlim, os aluguéis estão entre os mais caros da Alemanha. Já a saneada Görlitz cresce com a chegada de aposentados ocidentais.
Pontos de luz e escuridão
Mas ao lado desses pontos de luz há também muita escuridão no Leste da Alemanha. É a demografia que melhor ilustra o quão extrema foi a ruptura social e econômica causada pela reunificação: segundo prognósticos oficiais, a população do Leste da Alemanha pode cair pela metade até 2050.
Das dez regiões européias em que o declínio é mais acentuado, três estão no Leste da Alemanha, constatou o Instituto Alemão para População e Desenvolvimento: Saxônia-Anhalt, Chemnitz e Turíngia. Para os pesquisadores, a causa é a desindustrialização advinda com o fim do socialismo, aliada à localização periférica.
O futuro é incerto longe das regiões em expansão da Europa Central e das metrópoles. Principalmente cidades industriais médias encolhem. É o caso de Eisenhüttenstadt, fundada em 1953, ao redor de uma siderúrgica, com o nome de Stalinstadt. Desde 1990, o número de habitantes caiu de mais de 50 mil para 33 mil. Ou de Schwedt no Oder, que só por meio de incorporações consegue impedir que sua população caia pela metade. A lista é extensa.
Para regiões puramente agrárias e longe de centros urbanos, como Prignitz, Uckermark ou Lausitz, há pouca esperança. O Instituto para População e Desenvolvimento aconselha a concentração da população em comunidades com chances de sobreviver – algumas vilas e cidades pequenas têm poucas esperanças de continuar existindo em longo prazo.
Isso porque os custos de infraestrutura são simplesmente altos demais caso reste apenas uma meia dúzia de moradores. Na Saxônia, por exemplo, as autoridades descobriram que é necessário diminuir a bitola dos canos do abastecimento de água. Se há cada vez menos moradores para abrir a torneira, a água flui cada vez mais devagar – um problema por si só, mas ainda pior por facilitar a proliferação de germes e a deposição de sedimentos.
Mulheres vão embora
Baixo índice de natalidade e emigração são os dois principais nós do problema: mais de um milhão de habitantes deixaram os estados do Leste em direção ao Oeste atrás de empregos. A Saxônia perde anualmente mais de 20 mil pessoas – ou uma cidade de porte pequeno todos os anos.
Um levantamento do Centro de Pesquisas Sociais em Halle identificou quem deixa a região: pessoas flexíveis, com elevada formação – e principalmente mulheres. Nos estados do Leste alemão, o número de mulheres que conclui o nível secundário é o dobro do de homens.
Elas não encontram só bons empregos em outros lugares, mas também mais facilmente parceiros que tenham o mesmo nível de formação educacional. Em algumas regiões da antiga Alemanha Oriental já há apenas 80 mulheres para cada 100 homens entre os mais jovens.
Até 2030, o número mulheres em idade fértil terá diminuído pela metade. Com isso, haverá cada vez menos crianças naquela que já é, hoje, a região com as menores taxas de natalidade da Europa. É um círculo vicioso que provoca o fechamento de escolas e lojas e o esvaziamento das casas e abrirá um enorme abismo entre regiões em crescimento e aquelas que encolhem, como prevê o Instituto Alemão para População e Desenvolvimento.