Ban Ki-moon critica retórica anti-imigrantes na Europa
8 de março de 2016
Em Berlim, secretário-geral da ONU pede mais solidariedade com refugiados, elogia postura de Merkel perante a crise migratória e afirma que a UE pode fazer muito mais.
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O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, criticou nesta terça-feira (08/03) as tendências nacionalistas em países da União Europeia (UE) e, após um encontro com a chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel, em Berlim, pediu que a Europa demonstrasse mais solidariedade com os refugiados.
"Partidos de extrema direita e nacionalistas estão inflamando a situação enquanto precisamos buscar soluções, soluções harmônicas baseadas na divisão de responsabilidades", disse Ban, que ressaltou estar preocupado com o aumento de ataques violentos contra refugiados e migrantes.
O secretário-geral afirmou ainda que a União Europeia (UE) pode fazer muito mais pelos refugiados e que a situação exige não somente dinheiro. "Trata-se de humanidade e respeito aos direitos humanos", destacou.
A União Europeia tenta chegar a um acordo com a Turquia em troca de apoio para frear o fluxo de refugiados em direção à Europa. Ancara solicita mais 3 bilhões de euros à UE até 2018, além dos 3 bilhões já prometidos em novembro. Além disso, pede isenção de visto para cidadãos turcos na União Europeia e a aceleração das negociações para o ingresso do país no bloco.
Em troca, a Turquia se compromete a acolher todos os refugiados que chegarem à Grécia e não obtiverem asilo e está disposta a readmitir todos os imigrantes que não vêm da Síria e todos os que foram interceptados em suas águas territoriais, além de adotar medidas enérgicas contra os traficantes de pessoas. O esboço do acordo foi criticado pela agência da ONU para os refugiados (Acnur).
Em Berlim, Ban elogiou ainda a postura de Merkel perante a crise migratória. "Ela é uma verdadeira voz moral, não somente na Europa, mas em todo o mundo", disse Ban, destacando que a chanceler alemã "não escolheu o caminho mais fácil, mas o correto".
Ban também anunciou uma cúpula sobre a crise de refugiados, marcada para o dia 19 de setembro. "Insisto para que todos os chefes de governo e Estado mostrem responsabilidade e respeitem o direito internacional."
Ban recebeu de Merkel a Ordem do Mérito da República Federal da Alemanha, pelo seu trabalhos nos últimos dez anos no comando das Nações Unidas.
CN/ap/rtr/dpa
A miséria de refugiados no norte da França
Cerca de 2 mil imigrantes padecem no frio e na lama num acampamento perto da cidade portuária de Dunquerque. Enquanto esperam por uma oportunidade de rumar para o Reino Unido, eles dependem da ajuda de voluntários.
Foto: DW/B. Riegert
No meio da lama
Estima-se que um acampamento próximo à comuna de Grande Synthe, perto da cidade portuária de Dunquerque, no norte da França, abrigue 2 mil pessoas em pequenas tendas. À noite, o frio é intenso, e, quando chove, o local fica repleto de lama.
Foto: DW/B. Riegert
Persistência
Lizman vem da região curda do Iraque. "Em casa estamos em guerra", diz ele, que tem como objetivo chegar à Inglaterra. O iraquiano montou um café numa das barracas do acampamento, onde os jovens matam o tempo.
Foto: DW/B. Riegert
Objetivo: Reino Unido
Para proteger a barraca da sujeira e do frio, o iraquiano Asis conseguiu um martelo emprestado. O jovem curdo quer atravessar o Canal da Mancha e chegar à Inglaterra. Para isso, ele teria que pagar até 5.000 euros a um traficante. "Tem que ser melhor do outro lado", espera.
Foto: DW/B. Riegert
Sopro de esperança
O número de crianças que vive no acampamento repleto de lixo e lama não é claro. Voluntários coletaram ursinhos de pelúcia e os distribuíram na "barraca das crianças".
Foto: DW/B. Riegert
Perspectivas
Uma criança perdeu esta boneca na lama. Da mesma maneira, a esperança de muitas pessoas acaba desaparecendo no acampamento. À noite é muito fria, e não há iluminação. Apenas alguns banheiros químicos e chuveiros funcionam.
Foto: DW/B. Riegert
Voluntários do Reino Unido
O britânico Chris Bailey serviu como soldado no Iraque. Agora ele ajuda migrantes que querem chegar ao seu país. "A situação aqui é pior do que a de alguns lugares que vi na guerra", diz o veterano. Ele distribui cobertores e botas de borracha que foram doadas.
Foto: DW/B. Riegert
Bem-vindos à França
Além de chá, Denise (à esq.) e Maryse oferecem um bom papo aos imigrantes. Elas moram em frente ao acampamento. Uma rua separa dois mundos completamente diferentes. "As autoridades não se importam", opina Denise. Muitos vizinhos querem que os migrantes saiam dali.
Foto: DW/B. Riegert
Onde está o governo?
Um voluntário batizou com nomes de políticos europeus algumas das vias que levam até o precário acampamento. Esta, por exemplo, é a "Avenida François Hollande", porque o governo francês não se importa com o local. A polícia não dá segurança alguma. Moradores relatam violência entre grupos de imigrantes, principalmente à noite.
Foto: DW/B. Riegert
Voluntários da Alemanha
O número de refugiados que chegam a Munique diminuiu. "Aqui nós seremos necessários", diz Sinan von Stietencron da Volxküche München, iniciativa que distribui alimentos a migrantes na cidade alemã. Com a cozinha móvel, ele viajou com amigos da Baviera para o Canal da Mancha.
Foto: DW/B. Riegert
Emergência
A organização de ajuda humanitária Médicos sem Fronteiras (MSF) vacinou os moradores do acampamento contra sarampo e gripe. Especialmente as crianças acabam doentes, devido à umidade, ao frio e às péssimas condições de higiene. A MSF montou uma estação de emergência em Grande Synthe, a primeira unidade operacional da organização no coração da Europa.
Foto: DW/B. Riegert
Seguir adiante
Agachado dentro de sua barraca, Asim diz que fugiu do "Estado Islâmico" no Iraque. Ele se esforça para manter o pequeno espaço limpo e até oferece um chá para a repórter da DW. "Todos querem seguir adiante", diz o iraquiano.
Foto: DW/B. Riegert
A última estação
O porto de Dunquerque fica a 10 quilômetros do acampamento. As chances de conseguir chegar à Inglaterra partindo daqui são mínimas. Quase ninguém quer entrar com um pedido de asilo na França. O que fazer agora? Pagar um transporte clandestino para atravessar o Canal da Mancha? Recuar para a Bélgica ou Alemanha? Ou simplesmente esperar?