Ban Ki-Moon diz que ataque à escola na Faixa de Gaza é "ato criminoso"
3 de agosto de 2014Quase quatro semanas após o início da ofensiva na faixa de Gaza, Israel começou a retirar tropas do território controlado pelo grupo palestino Hamas, mas informou que a redução da presença militar na região será seguida pela formação de uma "área de segurança" na fronteira com Israel. O premiê israelense, Benjamin Netanyahu, disse que o Exército continuará em Gaza até a destruição dos túneis construídos pelo Hamas.
Apesar do anúncio de recuo, uma escola das Nações Unidas no sul da Faixa de Gaza, usada como refúgio para desabrigados, foi atingida neste domingo (03/08) por um ataque aéreo israelense, segundo um funcionário das Nações Unidas. De acordo com Ashraf al-Kidra, porta-voz do Ministério da Saúde de Gaza, pelo menos 10 pessoas foram mortas e 35 ficaram feridas no ataque à escola, localizada em Rafah.
O ataque foi duramente condenado pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, que classificou a ação como "um ato criminoso". Em sua declaração, a mais dura até hoje sobre os ataques de Israel a prédios da ONU na Faixa de Gaza, Ban disse se tratar de uma nova "violação do direito humanitário internacional".
"Este ataque, assim como outras violações do direito internacional, precisa ser investigado e os responsáveis devem responder por isso. É um escândalo do ponto de vista moral e um ato criminoso", afirmou Ban, fazendo um apelo para que Israel e Hamas negociem um acordo de paz. "Essa loucura tem que parar."
Escola era abrigo de refugiados
Robert Turner, diretor de operações da agência para refugiados palestinos da ONU em Gaza, disse que informações preliminares indicaram que o incidente foi resultado de um ataque aéreo israelense realizado perto da escola.
O prédio vinha servindo de abrigo para cerca de 3 mil pessoas. Turner afirmou que pelo menos um funcionário da ONU estaria entre os mortos.
Dentro do prédio da escola, vários corpos foram vistos espalhados pelo chão, alguns de crianças, cercados de poças de sangue. Rastros de sangue manchavam o piso, marcando as trilhas pelas quais as pessoas carregaram feridos até ambulâncias.
Pelo menos seis instalações da ONU, incluindo escolas que abrigam refugiados, foram atingidas por fogo israelense desde o início do conflito, provocando condenação internacional. Em todos os casos, Israel disse estar respondendo a militantes que teriam lançado mísseis ou tipos de artefatos a partir das proximidades dos prédios.
Banho de sangue continua
Em quase um mês de combates, mais de 1,7 mil palestinos, a maioria civis, foram mortos, assim como cerca de 70 israelenses, sendo 64 deles militares. Segundo a Unicef, cerca de 300 crianças palestinas perderam a vida nos ataques.
Neste domingo, Israel atingiu diversos alvos na Faixa de Gaza. Segundo autoridades palestinas, pelo menos 30 pessoas foram mortas – entre elas, nove palestinos de uma mesma família. Israel informou que realizou 180 bombardeios durante o dia.
Enquanto a luta continuava, vários tanques israelenses e outros veículos militares foram vistos deixando Gaza. Em um discurso transmitido pela televisão na noite de sábado, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, disse que as tropas iriam "reavaliar as operações conforme os requisitos de segurança" após a conclusão da demolição dos túneis construídos pelo Hamas.
Autoridades de segurança disseram que a missão envolvendo os túneis estava em fase final. O premiê assegurou, entretanto, que soldados israelenses ainda serão mantidos em pontos-chaves, como no lado israelense da fronteira com Gaza.
Ao mesmo tempo, Netanyahu alertou os líderes do Hamas que eles vão pagar um "preço intolerável" se os militantes continuarem a atirar mísseis contra Israel, e que "todas as opções permanecem sobre a mesa".
Militar desaparecido morreu em combate
O número de militares israelenses mortos subiu para 64, depois que Israel anunciou que Hadar Goldin, um segundo tenente de 23 anos que Israel temia ter sido capturado em Gaza, foi, na verdade, morto em batalha.
O ministro da Defesa de Israel, Moshe Yaalon, revelou em sua conta no Facebook neste domingo ser parente distante de Goldin. Israel havia dito temer que o tenente tivesse sido capturado por militantes do Hamas num mesmo incidente em que dois outros soldados foram mortos, ocorrido na sexta-feira, perto de Rafah.
A emboscada interrompeu um cessar-fogo e foi seguida por um bombardeio pesado que deixou mais de 100 palestinos mortos em 24 horas. Israel ampliou massivamente os ataques contra a Faixa de Gaza depois do suposto sequestro do militar, negado pelo Hamas.
O grupo palestino declarou que não vai parar de lutar até que Israel e Egito suspendam o bloqueio a Gaza, imposto depois que o grupo militante islâmico ultrapassou o limite de seu território em 2007.
Desde que a guerra na Faixa de Gaza começou, no dia 8 de julho passado, grandes áreas de Gaza foram destruídas e cerca de 250 mil pessoas fugiram de suas casas.
Telefone grampeado
Segundo reportagem da revista alemã Der Spiegel publicada neste domingo, Israel realizou escutas telefônicas contra o secretário americano de Estado, John Kerry, durante as negociações com os palestinos no ano passado. A publicação se baseia em fontes ligadas ao serviço secreto.
Durante as negociações, que terminaram em fracasso em abril deste ano, o chefe da diplomacia americana conversou com numerosas autoridades do Oriente Médio, usando não somente as linhas seguras, mas também os telefones via satélite normais.
Estas conversas teriam sido grampeadas pelos serviços secretos israelenses e de pelo menos um outro país, segundo as mesmas fontes. Israel "utilizou essas informações durante as negociações", apontou a publicação.
John Kerry tentou negociar um cessar-fogo efetivo para pôr fim à atual intervenção militar de Israel na Faixa de Gaza, mas não obteve sucesso.
MD/afp/dpa/ap/rtr/lusa