Ban Ki-moon: "Futuro não pertence aos que constroem muros"
1 de outubro de 2015
Em cúpula sobre crise migratória, secretário-geral da ONU pede solidariedade internacional. Líderes concordam sobre necessidade de resposta global, e premiê húngaro alerta que Europa pode ser desestabilizada.
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O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, abriu nesta quarta-feira (30/09) uma cúpula sobre a maior crise de refugiados desde a Segunda Guerra Mundial com um alerta: "o futuro não pertence àqueles que buscam construir muros e explorar medos".
No encontro realizado paralelamente à Assembleia Geral da ONU, em Nova York, Ban disse a ministros de cerca de 70 países que guerras e conflitos não vão ter um fim em breve e que o mundo precisa estar mais bem preparado para lidar com os milhares de migrantes em busca de refúgio.
O secretário-geral disse que as prioridades devem ser salvar vidas, tratar todos os migrantes com dignidade e respeito e melhorar os centros de acolhimento e sistemas de asilo. Ban também disse que os países devem aumentar o número de refugiados que aceitam e "compartilhar esse esforço de forma equitativa".
"Esta pode ser uma crise de números, mas acho que pode ser uma crise de solidariedade global. Se tivermos solidariedade global, podemos superar essas cenas trágicas", disse Ban.
"Europa desestabilizada"
O primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, cuja presença não era aguardada no encontro e que é alvo de duras críticas internacionais pela maneira como o país está lidando com a crise migratória, propôs um sistema de cotas global para distribuir os refugiados.
Orbán alertou que "se não houver uma mudança nas tendências atuais, a Europa vai ser desestabilizada". "A Europa não vai ser capaz de aguentar essa carga sozinha", disse, pedindo que Ban inicie negociações sobre um plano global.
A Hungria fechou sua fronteira com a Sérvia e está considerando fechar a com a Croácia, construindo uma cerca de arame farpado para impedir a entrada de milhares de migrantes.
Para Orbán, é preciso focar na paz e no desenvolvimento econômico "para devolver a essas pessoas suas casas e seus países". "Não pode ser nosso objetivo fornecer a eles uma nova vida europeia."
O primeiro-ministro turco, Ahmet Davutoglu, cujo país abriga o maior número de refugiados no mundo, pediu apoio global e que a carga migratória seja compartilhada. "Não é nem possível nem justo esperar que a Turquia ou os países vizinhos enfrentem as pressões migratórias, os riscos e as ameaças sozinhos", disse.
O ministro do Exterior alemão, Frank-Walter Steinmeier, disse que as raízes da crise migratória precisam ser atacadas. "A violação de direitos humanos leva as pessoas a deixarem suas casas." Ele pediu a proteção dos refugiados e um sistema de asilo harmonizado com padrões humanitários.
Samantha Power, embaixadora dos EUA na ONU, pediu que os governos não deixem que a política interna influencie suas decisões sobre como lidar com os refugiados. "Política é difícil, mas imagine você, como pai, tomando a decisão sobre o que fazer por seus filhos numa situação impossível", disse.
Cerca de 3,7 mil quilômetros separam a Alemanha da Síria. Para os refugiados da guerra civil, essa viagem dura semanas até meses. E ela é perigosa, também na rota dos Bálcãs.
Foto: picture-alliance/dpa/N. Armer
Últimas forças
Duma é uma cidade síria a nordeste de Damasco. Mesmo ferido, um homem procura por sobreviventes nos escombros. Pouco antes, a região foi atacada por bombardeios das forças armadas sírias. Desde o início da guerra civil, em 2011, mais de 250 mil pessoas morreram no país, segundo as Nações Unidas.
Foto: picture-alliance/A.A./M. Rashed
Terror ao alcance dos olhos
No campo de refugiados em Suruc, na Turquia, cerca de 40 mil sírios procuraram refúgio da guerra civil. A poucos quilômetros dali, em Kobane, o conflito continua. O campo é organizado como uma pequena cidade, com mesquita, escola e ruas. Ninguém quer permanecer aqui por muito tempo.
Foto: Getty Images/C. Court
Marcas da guerra
Abdurrahman Yaser al-Saad conseguiu chegar à cidade portuária turca de Izmir. O sírio de 16 anos mostra aos outros refugiados uma cicatriz enorme na barriga. Ele estava na escola quando as forças armadas sírias bombardearam o local e ele ficou gravemente ferido.
Foto: picture-alliance/AA/E. Menguarslan
Esperança de uma vida melhor
Na viagem em direção à Europa, muitos refugiados acabam em Izmir. Daqui eles desejam ir para a Grécia. Coletes salva-vidas são fundamentais, pois muitos não sabem nadas, e os barcos dos atravessadores ficam superlotados. Enquanto aguardam a partida, muitos dormem ao ar livre, porque não podem pagar um hotel.
Foto: picture-alliance/AA/E. Atalay
Jogado de volta
Com suas últimas forças, esse refugiado conseguiu nadar de volta até a praia de Bodrum, na Turquia. Pouco antes ele havia tentado alcançar um barco de atravessadores, que, por muito dinheiro, levam as pessoas ilegalmente até a Grécia. As embarcações estão sempre superlotadas.
Foto: Getty Images/AFP/B. Kilic
Desamparo
Na praia de Kos, uma ilha grega, turistas observam como refugiados tentam chegar à costa com um barco inflável. A viagem ilegal de Bodrum até aqui custa cerca de mil euros por pessoa. São apenas quatro quilômetros de distância, mas muitos não sabem nadar e acabam morrendo afogados.
Foto: picture-alliance/dpa/Y. Kolesidis
Realidade incômoda
No caminho para o hotel ou para a praia, turistas passam por muitos refugiados. Devem olhar? Devem ajudar?
Foto: picture-alliance/AA/G. Balci
Com braços e pernas
Da Grécia, muitos refugiados tentam chegar à Europa ocidental pelos Bálcãs. Uma estação importante é a cidade de Gevgelija, na Macedônia. Depois de dias de espera, todos desejam conseguir um lugar em um trem para a Sérvia.
Foto: picture-alliance/dpa/G. Licovski
Passo a passo
Já nas primeiras horas do dia, centenas de refugiados caminham ao longo da linha do trem, da Sérvia para a Hungria. De lá, muitos desejam ir para a Áustria ou Alemanha. A caminhada de quilômetros exige de muitos suas últimas forças.
Foto: Getty Images/AFP/A. Messinis
Desespero
Com medo de ser levado para um campo de refugiados na Hungria, o pai sírio se joga, com sua mulher e filho, nos trilhos da estação de Bicske. Eles achavam que o trem os levaria de Budapeste até Viena. Em vez disso, eles devem ser registrados pelas autoridades húngaras.
Foto: Reuters/L. Balogh
Quase lá
Centenas de refugiados do Iraque, da Síria e do Afeganistão decidiram ir a pé até a Áustria, caminhando pela rodovia. Eles esperaram durante dias por um trem na estação de Budapeste. A polícia, porém, bloqueia o trecho com frequência.
Foto: picture-alliance/dpa/B. Roessler
Finalmente a chegada
Estação central de Munique: a esperança de muitos refugiados está na chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel. Diferente de outros países europeus, eles se sentem bem-vindos na Alemanha.