Banda do Mar aflora lado pop de Marcelo Camelo e Mallu Magalhães
Marco Sanchez23 de setembro de 2014
Acompanhado do baterista português Fred Pinto Ferreira, casal de músicos criou projeto baseado na simplicidade. Cheio de canções inteligentes, disco de estreia do trio é uma agradável e acolhedora surpresa.
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Simplicidade parece ser o caminho seguido pelo casal Marcelo Camelo e Mallu Magalhães em seu mais novo projeto. A dupla se juntou ao baterista português Fred Pinto Ferreira para formar a Banda do Mar, que lançou seu disco de estreia em agosto e parte para uma turnê pelo Brasil em outubro e novembro.
Para quem conhece o trabalho de Mallu e de Camelo desde a época do finado Los Hermanos, o disco – intitulado simplesmente Banda do Mar – é uma agradável surpresa. Não por ser uma guinada para outra direção musical, mas por trazer uma leveza e uma maturidade que conseguem extrair o melhor das duas partes de maneira despreocupada e despretensiosa.
A busca da simplicidade parece estar nos temas das canções. Histórias simples do cotidiano – cheias de afeto, amigos, celebrações e vontade de estar junto – são embaladas por canções que não têm medo de ser pop.
"A ideia era fazer um disco de rock com uma pegada pop", diz Mallu em entrevista à DW Brasil. O lado mais acessível dessas canções não tira o brilho de composições executadas por guitarras marcantes, mas sem serem histéricas.
A leveza do projeto aflorou e acentuou duas das grandes características da dupla: os vocais e a composição. Uma parceria que já havia dado certo no dueto Janta, música do primeiro álbum solo de Camelo, e Pitanga – último disco de Mallu, produzido pelo músico.
Novos ares da vida lisboeta
Em viagens a Portugal, Camelo parece ter encontrado um irmão desconhecido. Fred é baterista de diversas bandas do país, entre elas o Buraka Som Sistema, além de ser filho do Kalú, baterista do Xutos & Pontapés, uma das mais famosas bandas de rock portuguesas.
"O Marcelo é amigo do Fred há mais de dez anos, e eu, há seis. Sempre tivemos vontade de fazer algo juntos e quando mudamos para Portugal isso se acelerou", conta Mallu.
Entre idas e vindas transatlânticas, a amizade do trio se fortaleceu, criando também uma forte conexão artística. Em 2013, o casal decidiu se mudar por tempo indeterminado para a capital portuguesa.
"Já tínhamos uma ligação muito forte com Lisboa e, então, decidimos comprar uma casa lá. Mudar de país propõe novos desafios e traz sentimentos que acabam se refletindo em tudo, inclusive na hora de compor", conta Mallu.
Nos curtos dias do inverno lisboeta, o grupo mergulhou no estúdio para a construção do álbum. "Nós três participamos de todas as etapas de produção. A nossa vida nova e o local de gravação acabaram influenciando o disco", diz a cantora.
Pluralidade do mar
A dupla divide os vocais, guitarra e violão. Camelo ainda toca baixo e percussão. Fred é responsável pela bateria. "O Marcelo sugeriu o nome da banda, que acabou casando com nossa proposta. Gostamos do fato do mar ter certa pluralidade, para cada pessoa ele tem um significado", diz Mallu.
As faixas cantadas por Camelo são uma espécie de híbrido entre sua carreira solo e seu trabalho com o Los Hermanos. E a maturidade trouxe segurança e despretensão para canções como Pode Ser e Dia Clarear, cantadas por Mallu.
A cantora também mostra seu lado mais maduro nas músicas em que assume o vocal. Seja Como For é uma aconchegante balada. Já Mais ninguém consegue ser sensível e dançante ao mesmo tempo. "Eu e o Marcelo fizemos as composições, mas separados, e quando estavam perto de ficar prontas, mostrávamos, e o outro acrescentava algo", diz Mallu.
Palcos brasileiros
O próximo passo da Banda do Mar é levar seu disco de estreia para os palcos brasileiros. Uma extensa turnê por diversas cidades do país está agendada para os meses de outubro e novembro.
"Olhando o resultado, talvez [o disco] seja algo mais pop, mas no show vamos transmitir a nossa ideia, vai ter um pouco mais de força, mas sem perder a essência que criamos no estúdio", conta Mallu.
Ao vivo, o trio vai contar com a participação de Marcos Gerez, do Hurtmold, no baixo, e de Gabriel Mayaball. Os dois são velhos conhecidos, Mayaball tocava com o Los Hermanos e Gerez acompanhou Camelo nas turnês de seus discos solos.
O repertório das apresentações também deve incluir composições dos outros trabalhos de Camelo, com uma roupagem mais pesada e cheias de guitarras e efeitos de distorção.
A experiência ao vivo da Banda do Mar pretende levar o espírito do trio para o público do Brasil e do mundo: uma catarse criada pela amizade, pelo amor e pela música. "Por enquanto, estou focada em fazer uma boa turnê. Depois a gente vê", diz Mallu sobre o futuro da banda.
A turnê da Banda do Mar no Brasil começa no dia 10 de outubro em Porto Alegre e deve percorrer diversas cidades até 21 de novembro.
Discos alemães de 2013
Entre triunfos e tragédias, 2013 foi um ano excepcional para a música pop alemã. Da música eletrônica do DJ Koze às guitarras cortantes do Messer, uma pequena amostra de grandes artistas e álbuns do ano.
Foto: Ela Grieshaber
"Die Unsichtbaren" – Messer
Associado ao pós-punk alemão dos anos 1980 e ao krautrock, o Messer tem uma sonoridade cheia de urgência e sofisticação, mas sem perder o frescor. O segundo disco da banda de Münster fala de insônia, rejeição e distanciamento. As letras sombrias são cantadas de maneira marcante e se encaixam perfeitamente na vigorosa música da banda, cheia de climas e nuances. Não deixe de ouvir "Neonlicht".
Foto: This Charming Man/Leo Ritz
"Amygdala" – DJ Koze
O último disco de Stefan Kozalla mostra que ainda há muita criatividade na música eletrônica alemã. Com batidas de minimal techno, efeitos lúdicos e estrutura pop, o produtor de Hamburgo fez um disco cheio de sutileza e empolgação, no qual batidas se juntam a aventurosas harmonias e charmosos vocais, criando uma seleção que funciona dentro e fora dos clubes. Não deixe de ouvir "Nices wölkchen".
Foto: c/o pop
"#2" – Thees Uhlmann
Parece que Thees Uhlmann encontrou seu caminho no segundo disco solo. O rock pop do ex-vocalista do Tomte voltou mais à vontade e confiante nas novas de canções, marcadas pelo uso mais intenso do piano. Soando descontraído, Uhlmann canta letras simples com tom de diversão e realização, fazendo do álbum uma aventura sentimental pelo universo do alemão. Não deixe de ouvir "Am 07. März".
Foto: Ingo Pertramer
"II" – Moderat
Quatro anos após o álbum de estreia, o grupo formado por dois dos maiores nomes da cena eletrônica berlinense – Modeselektor e Apparat – volta em grande estilo. "II" é um disco climático e apaixonante de música eletrônica sensível, que constrói um sônico soul eletrônico, no qual os sintetizadores fortes e marcados entram em perfeita sintonia com vocais pop. Não deixe de ouvir "Gita".
Foto: Olaf Heine
"Wie wir leben wollen" - Tocotronic
O disco da banda de Hamburgo encerra sua trilogia de Berlim, uma homenagem a David Bowie iniciada em 2007 com "Kapitulation". O novo álbum marca os 20 anos da banda e evidencia suas diferentes fases, com o vigor punk inicial e a elegância e complexidade pop, tanto nas melodias como nas inteligentes letras em alemão. Não deixe de ouvir "Warte auf mich auf dem Grund des Swimmingpools".
Foto: Michael Petersohn
"Hinterland" - Casper
Em seu terceiro álbum, Casper mantém o espírito desafiador do rap, com sua rima característica, mas leva sua música para além do gênero. O alemão, que cresceu nos Estados Unidos e hoje vive em Berlim, explora diferentes vertentes musicais, aflorando ainda mais sua influência do rock. O sucesso do disco fez de Casper uma das mais pungentes vozes da jovem Alemanha.
Foto: sony music / Olaf Heine
"Die Kälte der neuen Biederkeit" - Adolar
A banda de Leipzig continua trilhando seu caminho, transitando entre o hardcore e o pop. O vocal emotivo e as letras sentimentais fazem do Adolar um dos maiores representantes do moderno emo alemão. "Die Kälte der neuen Biederkeit" é cheio de canções com fortes guitarras, sempre usadas de forma inteligente, criando um som multidimensional, mas sempre envolvente. Não deixe de ouvir "Raketen".
Foto: Daniel Möring
"3 is ne Party" – Fettes Brot
O título do novo disco do trio de Hamburgo mostra a direção que a banda continua tomando depois de mais de 20 anos de carreira. A idade deixou a música do Fettes Brot mais diversa e precisa, mas não tirou nem um pouco do entusiasmo pela festa e diversão. "3 is ne Party" reúne o hip hop clássico da banda com influências que animam todo o tipo de festa. Não deixe de ouvir "Für immer immer".
"#geilon" – MC Fitti
Hipster ou rapper? MC Fitti é um berlinense conhecido por sempre usar barba longa, óculos escuros e boné. Com rimas cheias de ironia, referências à cultura pop e ao estilo de vida de Berlim, o rapper e estrela do reality show "Berlin – Tag & Nacht" chegou ao segundo lugar da parada alemã com seu bem-sucedido e humorado disco de estreia. Não deixe de ouvir "Fitti mitm Bart".
Foto: Oliver Rath
"Lass die Lady rein" - Almut Klotz & Reverend Dabeler
O segundo disco do casal Almut Klotz e Reverend Dabeler é marcado pelo triunfo e pela tragédia. Essa coleção de charmosas e modernas chansons é um retrato da parceria musical e lírica de Dabeler e Klotz, escritora e um dos grandes nomes do underground berlinense, que morreu de câncer aos 53 anos, uma semana antes do lançamento do álbum, em agosto de 2013. Não deixe de ouvir "Tausendschön".
Foto: Robin Hinsch
"Who’s bad" – Die Goldenen Zitronen
A alma do punk ainda permeia o trabalho do Die Golden Zinotren, banda de Hamburgo na ativa desde os anos 1980, mas que se tornou cada vez mais experimental com o passar dos anos. As 15 faixas de "Who’s bad" mostram que a banda ainda tem muito a dizer e aprimorou seu experimentalismo adicionando hip hop e música eletrônica à fórmula punk. Não deixe de ouvir: "Der Investor".
Foto: Frank Egel
"Anysome" – Aloa Input
Uma ode à biodiversidade e à diversidade sonora. Os bávaros de Aloa Input fizeram um dos mais criativos e empolgantes discos alemães de 2013. O álbum de estreia da banda de Munique é algo como se o Animal Collective montassem uma banda de krautrock e gravassem um tributo a "Pet Sounds", dos Beach Boys. Folk experimental, colorido e alegre sem nunca ser hermético. Não deixe de ouvir "Radio".