Ministro afirma que homens que mataram 20 reféns num restaurante em Daca são bengaleses e membros de um grupo islamista local, e não do "Estado Islâmico". Polícia analisa perfis no Facebook e celulares dos terroristas.
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Os extremistas que mataram 20 reféns num restaurante em Daca, capital de Bangladesh, são membros de um grupo local, e não seguidores do "Estado Islâmico" (EI), afirmou neste domingo (03/07) o ministro do Interior do país, Asaduzzaman Khan.
"Eles são membros do Jamayetul Mujahideen Bangladesh (JMB) e não têm ligação com o 'Estado Islâmico'", declarou à agência de notícias AFP, referindo-se ao grupo islamista banido no país há mais de uma década. Segundo o ministro, todos os homens pertenciam a famílias abastadas e receberam educação superior e teria se tornado jihadistas porque isso virou "moda".
Apesar da afirmação do ministro, a polícia afirmou que uma possível ligação com o EI ainda está sendo investigada. O grupo reivindicou a autoria do ataque ao restaurante Holey Artisan Bakery, que teve início na noite da última sexta-feira num bairro diplomático de Daca, de acordo com à agência de notícias Amaq, ligada ao grupo. O atentado chegou ao fim somente depois de mais de 11 horas, após uma ofensiva das forças de segurança.
Segundo Mohammad Uddin, porta-voz da polícia, todos os seis terroristas responsáveis pelo atentado eram de Bangladesh, assim como o único suspeito preso até o momento. "Todos parecem bengaleses, mas a investigação segue porque ainda faltam alguns detalhes", disse à agência de notícias Efe.
Além dos 20 reféns mortos no ataque, a maioria deles estrangeiros, dois policiais morreram. E na ação para encerrar o sequestro, os agentes mataram seis dos sete terroristas. Segundo o porta-voz da polícia, os perfis do Facebook, os celulares e os contatos dos terroristas estão sendo analisados.
Procurados pela polícia
As autoridades divulgaram os nomes e as fotografias dos seis homens que foram mortos. O sétimo autor do ataque foi detido e está sendo interrogado. De acordo com o jornal local The Daily Star, cinco dos seis extremistas já eram procurados pelas autoridades do país.
O ataque foi reivindicado não apenas pelo EI, mas também pelo braço da Al Qaeda na Índia. O governo de Bangladesh nega, porém, a presença de qualquer grupo jihadista internacional no país, em particular do "Estado Islâmico".
No mês passado, as autoridades de Bengladesh lançaram uma operação contra jihadistas, prendendo mais de 11 mil pessoas. No entanto, críticos afirmam que as detenções foram arbitrárias ou tiveram como objetivo silenciar opositores políticos.
Dois dias de luto nacional tiveram início neste domingo no país. As bandeiras dos prédios governamentais foram hasteadas a meio mastro, e missas em memória das vítimas foram realizadas. A Itália também está de luto, tendo perdido nove de seus cidadãos entre os reféns, assim como o Japão, que perdeu sete.
LPF/efe/lusa/afp/ap
"Estado Islâmico": de militância sunita a califado
Origens do grupo jihadista remontam à invasão do Iraque, em 2003. Nascido como oposição ao domínio xiita e inicialmente um braço da Al Qaeda, EI passou por mudanças e virou uma ameaça internacional.
Foto: picture-alliance/AP Photo
A origem do "Estado Islâmico"
A trajetória do "Estado Islâmico" (EI) começou em 2003, com a derrubada do ditador iraquiano Saddam Hussein pelos EUA. O grupo sunita surgiu a partir da união de diversas organizações extremistas, leais ao antigo regime, que lutavam contra a ocupação americana e contra a ascensão dos xiitas ao governo iraquiano.
Foto: picture-alliance/AP Photo
Braço da Al Qaeda
A insurreição se tornou cada vez mais radical, à medida que fundamentalistas islâmicos liderados pelo jordaniano Abu Musab al Zarqawi, fundador da Al Qaeda no Iraque (AQI), infiltraram suas alas. Os militantes liderados por Zarqawi eram tão cruéis que tribos sunitas no Iraque ocidental se voltaram contra eles e se aliaram às forças americanas, no que ficou conhecido como "Despertar Sunita".
Foto: AP
Aparente contenção
Em junho de 2006, as Forças Armadas dos EUA mataram Zarqawi numa ofensiva aérea e ele foi sucedido por Abu Ayyub al-Masri e Abu Omar al-Bagdadi. A AQI mudou de nome para Estado Islâmico do Iraque (EII). No ano seguinte, Washington intensificou sua presença militar no país. Masri e Bagdadi foram mortos em 2010.
Foto: AP
Volta dos jihadistas
Após a retirada das tropas dos EUA do Iraque, efetuada entre junho de 2009 e dezembro de 2011, os jihadistas começaram a se reagrupar, tendo como novo líder Abu Bakr al-Bagdadi, que teria convivido e atuado com Zarqawi no Afeganistão. Ele rebatizou o grupo militante sunita como Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL).
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Ruptura com Al Qaeda
Em 2011, quando a Síria mergulhou na guerra civil, o EIIL atravessou a fronteira para participar da luta contra o presidente Bashar al-Assad. Os jihadistas tentaram se fundir com a Frente Al Nusrah, outro grupo da Síria associado à Al Qaeda. Isso provocou uma ruptura entre o EIIL e a central da Al Qaeda no Paquistão, pois o líder desta, Ayman al-Zawahiri, rejeitou a manobra.
Foto: dapd
Ascensão do "Estado Islâmico"
Apesar do racha com a Al Qaeda, o EIIL fez conquistas significativas na Síria, combatendo tanto as forças de Assad quanto rebeldes moderados. Após estabelecer uma base militar no nordeste do país, lançou uma ofensiva contra o Iraque, tomando sua segunda maior cidade, Mossul, em 10 de junho de 2014. Nesse momento o grupo já havia sido novamente rebatizado, desta vez como "Estado Islâmico".
Foto: picture alliance / AP Photo
Importância de Mossul
A tomada da metrópole iraquiana Mossul foi significativa, tanto do ponto de vista econômico quanto estratégico. Ela é uma importante rota de exportação de petróleo e ponto de convergência dos caminhos para a Síria. Mas a conquista da cidade é vista como apenas uma etapa para os extremistas, que pretenderiam avançar a partir dela.
Foto: Getty Images
Atual abrangência do EI
Além das áreas atingidas pela guerra civil na Síria, o EI avançou continuamente pelo norte e oeste iraquianos, enquanto as forças federais de segurança entravam em colapso. No fim de junho, a organização declarou um "Estado Islâmico" que atravessa a fronteira sírio-iraquiana e tem Abu Bakr al-Bagdadi como "califa".
Foto: Reuters
As leis do "califado"
Abu Bakr al-Bagdadi impôs uma forma implacável da charia, a lei tradicional islâmica, com penas que incluem mutilações e execuções públicas. Membros de minorias religiosas, como cristãos e yazidis, deixaram a região do "califado" após serem colocados diante da opção: converter-se ao islã sunita, pagar um imposto ou serem executados. Os xiitas também eram alvo de perseguição.
Foto: Reuters
Guerra contra o patrimônio histórico
O EI destruiu tesouros arqueológicos milenares em cidades como Palmira (foto), na Síria, ou Mossul, Hatra e Nínive, no Iraque. Eles diziam que esculturas antigas entram em contradição com sua interpretação radical dos princípios do Islã. Especialistas afirmam, porém, que o grupo faturou alto no mercado internacional com a venda ilegal de estátuas menores, enquanto as maiores eram destruídas.
Foto: Fotolia/bbbar
Ameaça terrorista
Durante suas ofensivas armadas, o "Estado Islâmico" saqueou centenas de milhões de dólares em dinheiro e ocupou diversos campos petrolíferos no Iraque e na Síria. Seus militantes também se apossaram do armamento militar de fabricação americana das forças governamentais iraquianas, obtendo, assim, poder de fogo adicional.