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Banheiros europeus são mistério para refugiados

Dagmar Breitenbach (rpr)17 de fevereiro de 2016

Entre os vários desafios impostos pela crise migratória, um chama a atenção pelo inusitado: muitos recém-chegados jamais viram um vaso sanitário ocidental e não sabem como usá-lo.

Banheiro químico em abrigo para refugiados em DresdenFoto: picture-alliance/dpa/M. Hiekel

A chegada de mais de um milhão de refugiados à Alemanha no ano passado levou o ministro das Finanças, Wolfgang Schäuble, a dizer que a sociedade alemã estaria vivendo um rendezvous com a globalização.

É, de fato, um encontro entre diferentes culturas. E, na pressa de providenciar casa, roupa, comida, assistência de saúde e treinamento linguístico aos recém-chegados, ninguém parece ter se lembrado de explicar a eles como funcionam os toaletes do Ocidente.

O tema foi levantado pela primeira vez em outubro, pelo prefeito de Hardheim, uma pequena cidade no estado de Baden-Württemberg. Na época, ele foi ridicularizado por defender ser necessário alertar os refugiados de que, na Europa, não é normal se aliviar em parques, jardins e atrás de arbustos.

Cartaz em banheiro na Áustria explica a migrantes como utilizar o vaso sanitário ocidentalFoto: DW/H. Buljubasic

A situação muitas vezes tensa em abrigos, tendas e ginásios, não raro lotados, é piorada ainda mais pelos diferentes hábitos de higiene e tipos de toaletes. No mundo muçulmano, é comum que o vaso sanitário seja embutido no chão – algo que, no Brasil, é conhecido como "banheiro turco".

Intrigados com as privadas ocidentais, muitos refugiados acabaram se aliviando nas bordas da latrina ou no chão. Outros recorreram aos ralos dos chuveiros quando a natureza chamou, deixando um rastro de excremento humano nos banheiros.

Diferentes padrões de higiene

O alemão Manfred Nowak, da organização de assistência social AWO, ressalva que esse não é o mais urgente dos problemas, mas diz que ele de fato existe – como verificado entre os 4 mil refugiados nas seis instalações em Berlim pelas quais ele é responsável. Porém, destaca, o estranhamento depende muito da origem do imigrante.

Muitos refugiados jamais viram papel higiênico em suas vidas. E, mesmos entre os que viram, limpar-se sem água é visto como algo extremamente anti-higiênico. Já as privadas ocidentais com descarga continuam sendo um mistério para muitos deles – apesar dos desenhos explicativos colados nos banheiros.

A "privada multicultural criada por uma empresa alemã: encomenda de abrigos de refugiadosFoto: Global Fliegenschmidt/Foto: David Ludley

Em países muçulmanos, usa-se normalmente água para se lavar. O site myreligionislam.com lista 20 regras "para quando a natureza chamar". Uma delas recomenda o uso dos dedos para se limpar e, se "sobrar alguma coisa", utilizar água. Limpar partes íntimas com "pedras e materiais similares" é visto como um substituto "aceitável" para a água.

Outras regras proíbem falar, cantar, fumar e ler jornal na privada. As pessoas também têm que, segundo o site, entrar com o pé esquerdo no banheiro e sair com o direito.

Uma solução para o problema, porém, parece estar a caminho: especialistas da Global Fliegenschmidt, uma fábrica alemã especializada em instalações sanitárias portáteis, criaram uma "privada multicultural". Ela já está no mercado há alguns dias e foi encomendada por vários abrigos de refugiados.

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