Entre os vários desafios impostos pela crise migratória, um chama a atenção pelo inusitado: muitos recém-chegados jamais viram um vaso sanitário ocidental e não sabem como usá-lo.
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A chegada de mais de um milhão de refugiados à Alemanha no ano passado levou o ministro das Finanças, Wolfgang Schäuble, a dizer que a sociedade alemã estaria vivendo um rendezvous com a globalização.
É, de fato, um encontro entre diferentes culturas. E, na pressa de providenciar casa, roupa, comida, assistência de saúde e treinamento linguístico aos recém-chegados, ninguém parece ter se lembrado de explicar a eles como funcionam os toaletes do Ocidente.
O tema foi levantado pela primeira vez em outubro, pelo prefeito de Hardheim, uma pequena cidade no estado de Baden-Württemberg. Na época, ele foi ridicularizado por defender ser necessário alertar os refugiados de que, na Europa, não é normal se aliviar em parques, jardins e atrás de arbustos.
A situação muitas vezes tensa em abrigos, tendas e ginásios, não raro lotados, é piorada ainda mais pelos diferentes hábitos de higiene e tipos de toaletes. No mundo muçulmano, é comum que o vaso sanitário seja embutido no chão – algo que, no Brasil, é conhecido como "banheiro turco".
Intrigados com as privadas ocidentais, muitos refugiados acabaram se aliviando nas bordas da latrina ou no chão. Outros recorreram aos ralos dos chuveiros quando a natureza chamou, deixando um rastro de excremento humano nos banheiros.
Diferentes padrões de higiene
O alemão Manfred Nowak, da organização de assistência social AWO, ressalva que esse não é o mais urgente dos problemas, mas diz que ele de fato existe – como verificado entre os 4 mil refugiados nas seis instalações em Berlim pelas quais ele é responsável. Porém, destaca, o estranhamento depende muito da origem do imigrante.
Muitos refugiados jamais viram papel higiênico em suas vidas. E, mesmos entre os que viram, limpar-se sem água é visto como algo extremamente anti-higiênico. Já as privadas ocidentais com descarga continuam sendo um mistério para muitos deles – apesar dos desenhos explicativos colados nos banheiros.
Em países muçulmanos, usa-se normalmente água para se lavar. O site myreligionislam.com lista 20 regras "para quando a natureza chamar". Uma delas recomenda o uso dos dedos para se limpar e, se "sobrar alguma coisa", utilizar água. Limpar partes íntimas com "pedras e materiais similares" é visto como um substituto "aceitável" para a água.
Outras regras proíbem falar, cantar, fumar e ler jornal na privada. As pessoas também têm que, segundo o site, entrar com o pé esquerdo no banheiro e sair com o direito.
Uma solução para o problema, porém, parece estar a caminho: especialistas da Global Fliegenschmidt, uma fábrica alemã especializada em instalações sanitárias portáteis, criaram uma "privada multicultural". Ela já está no mercado há alguns dias e foi encomendada por vários abrigos de refugiados.
Dez regras sociais da Alemanha que todo estrangeiro deveria conhecer
Chegar na Alemanha pode ser um choque cultural para muitos estrangeiros. Conheça algumas leis e normas sociais que podem ajudar refugiados a se ajustar à nova realidade.
Foto: picture alliance
Respeite as diferenças
A sociedade alemã é construída com base no respeito e na tolerância. Os cidadãos são livres para seguir suas próprias preferências religiosas, sexuais, entre outras, desde que não violem os direitos de terceiros nesse processo. Homossexuais são respeitados, assim como pessoas de diferentes religiões – ou mesmo aquelas que não seguem religião nenhuma.
Foto: Fotolia/Sebastian Krüger
Respeite os direitos das mulheres
Na Alemanha, mulheres têm os mesmos direitos que os homens. Muitas vezes, elas são tão bem sucedidas em suas carreiras quanto eles. Mulheres podem se vestir como quiserem – seja uma roupa reservada ou uma mais ousada. A violência contra a mulher é proibida, e a lei vale naturalmente também dentro dos casamentos.
Foto: picture-alliance/dpa
Não trabalhe sem permissão
Diferente de alguns países do Oriente Médio, da África, trabalhar na Alemanha sem uma permissão de trabalho é contra a lei. Se alguém for pego trabalhando nessa situação pode ser multado ou até mesmo preso. Não vale a pena arriscar.
Foto: picture-alliance/ZB
Pague os impostos
O sistema tributário alemão é bastante complicado. Ainda assim, não pagar impostos é ilegal. De acordo com a lei, é considerado um "roubo contra a comunidade". O pagamento de impostos é obrigatório, assim como o voto é um direito do cidadão. Estrangeiros que trabalham na Alemanha também precisam pagar impostos.
Foto: Fotolia/Joachim B. Albers
Crianças não podem apanhar
Bater em crianças na Alemanha é uma infração penal. Em casa ou na escola, o castigo que envolve violência, seja palmada ou pressão psicológica, não é aceito como uma forma de educar os pequenos. A lei é clara: "As crianças têm o direito de uma criação livre de violências. Punição física ou psicológica e outros tratamentos degradantes são proibidos".
Foto: DW/R. Azizi
...e elas têm de ir à escola
Crianças em idade escolar não podem ficar em casa – muito menos trabalhar. Ao completar seis anos, elas precisam estar registradas em uma escola e comparecer às aulas. A partir daí, são pelo menos mais dez anos de estudos. Dispensas escolares por motivos religiosos não são permitidas na Alemanha.
Foto: picture-alliance/dpa/B. Pedersen
Cuide do meio ambiente
Proteger o meio ambiente é importante para a maioria dos alemães. Muita verba tem sido investida na limpeza de rios e na melhoria da qualidade do ar. Reciclar também é importante. O lixo é cuidadosamente separado: papel, plástico, resíduos de comida e outros objetos não recicláveis devem ser jogados em lixeiras específicas, separadas por cores.
Foto: Fotolia/DragonImages
Não faça barulho demais
Mesmo que você esteja em seu apartamento, curtindo a companhia de amigos que não vê há muito tempo, é de bom tom se preocupar com o barulho – evitando, assim, incomodar os vizinhos. Durante a noite, especificamente, isso pode rapidamente virar caso de polícia. Na Alemanha, é preciso manter o silêncio em casa entre as 22h e as 6h.
Foto: picture-alliance/dpa/P. Pleul
O que vale é o preço da etiqueta
O ato de negociar preços mais baixos, ou pechinchar, faz parte da cultura de muitos países. Na Alemanha, porém, assim como no Brasil, o que vale é o preço determinado na etiqueta – seja em supermercados, farmácias ou na maioria das lojas. A internet, por outro lado, é um ótimo lugar para se procurar por descontos.
Foto: Fotolia/G. Sanders
Não chegue perto demais
Em muitas culturas, é comum abraçar, beijar e dar presentes às crianças da vizinhança. Mas, na Alemanha, tudo depende da permissão dos pais. Na dúvida, é melhor não se aproximar demais das crianças, mesmo que elas pareçam amigáveis com estranhos.