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Banqueiros e empresários aderem a manifesto pró-democracia

26 de julho de 2022

Em meio à ofensiva de Bolsonaro contra o sistema eleitoral, pesos-pesados da economia brasileira assinam texto em apoio às urnas e advertindo que país passa por momento de "perigo para a normalidade democrática".

Urna eletrônica na eleição de 2020
"Nossas eleições com o processo eletrônico de apuração têm servido de exemplo no mundo", diz o manifestoFoto: Bruna Prado/Getty Images

Banqueiros e empresários de peso da economia brasileira aderiram a um manifesto em defesa da democracia, organizado por nomes da Faculdade de Direito da USP e por entidades e da sociedade civil. O documento foi elaborado em meio a um aumento da tensão política no país a menos de 70 dias da eleição presidencial e, embora não cite nominalmente Jair Bolsonaro, deixa claro que se trata de uma reposta à retórica golpista do presidente e à ofensiva do Planalto contra o sistema eleitoral do país.

"Ataques infundados e desacompanhados de provas questionam a lisura do processo eleitoral e o Estado Democrático de Direito tão duramente conquistado pela sociedade brasileira. São intoleráveis as ameaças aos demais poderes e setores da sociedade civil e a incitação à violência e à ruptura da ordem constitucional", diz o documento, que adverte ainda que o país passa por um momento de "perigo para a normalidade democrática" e "risco às instituições da República".

O manifesto foi divulgado inicialmente pelo jornal Folha de S.Paulo na noite de segunda-feira (25/07), um dia após Bolsonaro usar a convenção do seu partido paraconvocar um novo ato no 7 de Setembro com o objetivo de insuflar sua base radical e tentar intimidar o Supremo Tribunal Federal (STF).

Apoiadores

O manifesto já recolheu cerca de 3 mil assinaturas. Entre os nomes estão artistas e personalidades da sociedade civil, mas se destacam na lista nomes pesos-pesados da economia brasileira.

Assinam o manifesto os banqueiros Roberto Setubal e Pedro Moreira Salles, do Itaú-Unibanco, o maior banco privado do Brasil, e Candido Bracher, ex-presidente da instituição; os empresários Walter Schalka (presidente da Suzano, gigante do setor de papel e celulose); Pedro Passos e Guilherme Leal, da fabricante de cosméticos Natura, e o atual CEO da empresa, Fábio Barbosa; Eduardo Vassimon, presidente do conselho de administração do grupo Votorantim; e o bilionário Horácio Lafer Piva, da Klabin.

Entre os signatários estão ainda o ex-presidente do banco Credit Suisse no Brasil José Olympio Pereira, o economista José Roberto Mendonça de Barros, o ex-ministro da Fazenda Pedro Malan, cineasta João Moreira Salles e o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga.

Também assinaram o documento ex-ministros do STF, como Celso de Mello, Sepúlveda Pertence, Carlos Velloso, Carlos Ayres Britto e Eros Grau.

"Exemplo no mundo"

O manifesto foi inspirado na chamada Carta aos Brasileiros de 1977, um texto de repúdio a ações da ditadura militar, redigido pelo jurista Goffredo da Silva Telles.

"Nossas eleições com o processo eletrônico de apuração têm servido de exemplo no mundo. Tivemos várias alternâncias de poder com respeito aos resultados das urnas e transição republicana de governo. As urnas eletrônicas revelaram-se seguras e confiáveis, assim como a Justiça Eleitoral", diz o documento.

"Nos próximos dias, em meio a estes desafios, teremos o início da campanha eleitoral para a renovação dos mandatos dos legislativos e executivos estaduais e federais. Neste momento, deveríamos ter o ápice da democracia com a disputa entre os vários projetos políticos visando convencer o eleitorado da melhor proposta para os rumos do país nos próximos anos", prossegue a carta.

"Ao invés de uma festa cívica, estamos passando por momento de imenso perigo para a normalidade democrática, risco às instituições da República e insinuações de desacato ao resultado das eleições", acrescenta o manifesto, numa clara referência às ameaças de Bolsonaro de não reconhecer uma derrota na sua campanha à reeleição.

No momento, Bolsonaro está em desvantagem nas pesquisas, que apontam inclusive o risco de ele perder já no primeiro turno para seu principal adversário, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que lidera por ampla margem.

O manifesto não é um endosso à candidatura de Lula. Alguns nomes que assinaram o documento, como o bilionário Roberto Setubal, chegaram a manifestar preferência nos últimos meses pela presença de um candidato de "terceira via" nas eleições deste ano.

Em desvantagem nas pesquisas, Bolsonaro tem organizado ofensiva para minar confiança no sistema eleitoral brasileiroFoto: Ricardo Moraes/REUTERS

"Desvarios autoritários nos EUA"

O texto menciona a invasão do Congresso americano em 6 de janeiro de 2021 por uma turba de extrema direita instigada pelo republicano Donald Trump e faz um paralelo com o Brasil. Tal como Trump, Bolsonaro também vem alimentando uma narrativa falsa de risco de fraude nas eleições para agitar seus apoiadores.

"Assistimos recentemente a desvarios autoritários que puseram em risco a secular democracia norte-americana. Lá as tentativas de desestabilizar a democracia e a confiança do povo na lisura das eleições não tiveram êxito, aqui também não terão", diz o manifesto.

"Independentemente da preferência eleitoral ou partidária de cada um, clamamos às brasileiras e aos brasileiros a ficarem alertas na defesa da democracia e do respeito ao resultado das eleições. No Brasil atual não há mais espaço para retrocessos autoritários. Ditadura e tortura pertencem ao passado. A solução dos imensos desafios da sociedade brasileira passa necessariamente pelo respeito ao resultado das eleições. Em vigília cívica contra as tentativas de rupturas, bradamos de forma uníssona: Estado Democrático de Direito Sempre!", finaliza o documento.

Uma leitura oficial do manifesto, pelo ex-ministro do STF Celso de Mello, está marcada para 11 de agosto, na Faculdade de Direito da USP, no centro de São Paulo.

jps/lpf (ots)

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