1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

"Barbie" assustou machos frágeis

Nina Lemos
Nina Lemos
1 de agosto de 2023

O pink da boneca virou o terror dos red pills e, segundo um porta-voz, serve até para avaliar se uma mulher é ou não boa pretendente.

Barbie e Ken visitam o mundo real e descobrem a realidade do patriarcadoFoto: Warner Bros/Entertainment Pictures/ZUMAPRESS/picture alliance

Em um vídeo que viralizou nas redes sociais, uma menina de uns 7 anos chora muito na saída do filme do momento, Barbie, e dá uma entrevista para um repórter.

"Por que você está chorando?", ele pergunta. Aos prantos, ela responde: "Eu não sei direito, é que a Barbie foi para o mundo real". Ela chora um pouco mais e completa, desolada, em lágrimas: "E ela não gosta do Ken!!".

É difícil não rir com respeito da menina e sentir vontade de abraçá-la. Afinal, todas nós já sentimos o mesmo quando, por exemplo, paramos de acreditar no Papai Noel.

É super normal que uma menina pequena chore depois de ver Barbie. Mas um outro fenômeno mais chocante está acontecendo: homens adultos, entre eles milionários como o homem mais rico do mundo, Elon Musk, estão se comportando como a menininha de 7 anos em relação ao filme.

Eles são até mais radicais, e veem o filme como uma ameaça. Para esses homens, Barbie é perigoso, seria anti-homem, contra a família e pregaria o ódio, entre outros resmungos e "mi-mi-mis".

O pink da Barbie virou o terror dos red pills. Segundo um dos porta-vozes do movimento misógino, o coach Thiago Schultz, conhecido como "Calvo da Campari", o filme serve até para avaliar se uma mulher é ou não uma boa pretendente.

"O que eu faria se fosse você? Eu perguntaria para a mulher com quem estivesse saindo se ela assistiu ao filme da Barbie. Se ela falasse que sim de forma empolgada, não sairia mais com ela."

Oi?

Barbie, para quem não viu, é uma comédia, uma sátira e também um produto super lucrativo da Mattel, a fabricante de brinquedos. Como é possível que os machões estejam tão assustados com um filme-produto sobre uma boneca?

Que masculinidade frágil é essa que não resiste nem a uma rebelião de Barbies sendo mostrada no cinema?

O filme foi dirigido e roteirizado por Greta Gerwig, uma diretora talentosíssima e feminista. E nele (alerta de spoiler!), uma Barbie estereotipada vive num mundo perfeito e rosa, o Barbie Land, onde tudo é pink, mulheres são presidentes, ministras da suprema corte e vivem rindo.

Já Ken e seus amigos são uns bobos, que ficam tentando impressionar a Barbie e mendigando por atenção.

Barbie e Ken visitam o mundo real. Lá, descobrem a realidade do patriarcado. Barbie fica chocada ao ver que o mundo é governado por homens e chateada ao ver que ela não é considerada um bom exemplo, pelo contrário. Afinal, é tida como responsável por criar um padrão de beleza excessivamente magro, loiro e branco.

Já Ken fica tão deslumbrado com o patriarcado que dá uma espécie de golpe de Estado no mundo da Barbie e faz lavagem cerebral nas bonecas, que se tornam submissas e abandonam suas "carreiras" no mundo rosa. Não vou contar o filme todo aqui, mas adianto que a Barbie e o Ken ficam "de boa" e, claro, no final, todos vivem mais ou menos felizes para sempre.

Se Ken é bobo no filme? Sim, mas vamos repetir, o filme é uma comédia estereotipada!!! E até as barbies são meio bobas também, já que vivem em um ambiente utópico cor de rosa sorrindo o tempo todo e achando que a vida é linda. Mas isso é esperado. Afinal, repito novamente, estamos falando de um filme comercial sobre a Barbie e de uma grande jogada de marketing para, entre outras coisas, vender bonecas.

Se a história tem um viés feminista? Sim, com certeza, mas ele está longe de ser assustador. Na verdade, parece impossível que alguém veja algo apavorante ali. Mas eles conseguem:

"Se você levasse um tiro a cada vez que a Barbie fala a palavra patriarcado, você estaria morto antes do fim do filme", escreveu Elon Musk, o homem mais rico do mundo em seu novo brinquedinho, o Twitter, que ele comprou e, em mais um surto de "riquinho", mudou o nome para X.

Musk ainda usou uma metáfora de tiro. Bem macho, não?

Dá para entender que um homem como Musk fique chocado com um filme como Barbie, afinal, ele vive gastando seu dinheiro comprando, por exemplo, foguetes, tal qual uma criança de 7 anos endinheirada.

Barbie é um filme bem engraçado, mas ver tanto homem "macho" assustado e declarando que um filme blockbuster é uma ameaça anti-homem é ainda mais cômico. E também um pouco assustador.

A carapuça (ou melhor, o cabelo loiro engomado do Ken) está servindo em várias cabeças. Isso mostra que o filme, além de engraçado, é também realista.

Não precisam ter medo, queridos, é só uma atriz vestida de Barbie.

Pular a seção Mais sobre este assunto
Pular a seção Mais dessa coluna

Mais dessa coluna

Mostrar mais conteúdo
Pular a seção Sobre esta coluna

Sobre esta coluna

O estado das coisas

Nina Lemos é jornalista e escritora. Escreve sobre feminismo e comportamento desde os anos 2000. Desde 2015, vive entre as notícias do Brasil e as aulas de alemão em Berlim, cidade pela qual é loucamente apaixonada.

Pular a seção Manchete

Manchete

Pular a seção Outros temas em destaque