Medida amplia o racionamento de água, após três anos sem chuvas significativas na região. Catalunha enfrenta a sua pior seca desde o início dos registros pluviométricos.
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A região da Catalunha declarou estado de emergência a partir desta sexta-feira (02/02) em razão da forte seca em Barcelona e boa parte dos arredores da segunda maior cidade da Espanha.
A decisão permite a adoção de medidas rígidas de racionamento de água, após três anos sem incidência significativa de chuvas na região, onde vivem cerca de seis milhões de pessoas.
O nível de água nos reservatórios está abaixo de 16% da capacidade – patamar determinado pelas autoridades para a imposição das medidas de racionamento. O chefe de governo da Catalunha, Peres Aragonès, disse que a região vive a pior seca do último século. "Jamais enfrentamos uma seca tão longa e intensa desde o início dos registros pluviométricos", afirmou.
As medidas impostas pelo estado de emergência reduzem o limite do consumo diário de água por residência, de 210 para 200 litros por pessoa. Se as condições se agravarem, esse limite será reduzido para 180 ou 160 litros.
A partir de agora, está proibida a limpeza pública com água fresca. As piscinas não podem ser reabastecidas, inclusive em hotéis e campings, com algumas exceções para usos esportivos. Os carros somente podem ser lavados em estabelecimentos que utilizem água reciclada e os jardins públicos devem ser irrigados com águas subterrâneas.
Também está proibida a irrigação de jardins e áreas verdes privadas ou públicas, a não ser em caso de risco de sobrevivência de árvores ou em jardins botânicos públicos, mas sempre com água reciclada ou freática.
Os chuveiros públicos nas praias permanecerão fechados, e está proibido o uso recreativo de água em rinques de patinação no gelo, em jogos ou brincadeiras ou para banhos de espuma.
Restrições podem ser ampliadas
Restrições mais rígidas, como a proibição total da irrigação em parques públicos e do uso de chuveiros em academias de ginástica, poderão ser impostas se persistirem as condições atuais. Nesse caso, fazendas e fábricas também terão o abastecimento significativamente reduzido.
As medidas adotadas a partir desta sexta-feira impõem uma redução de 80% no uso da água para a irrigação das plantações, ou seja, o dobro do corte de 40% introduzido em novembro do ano passado. Na indústria, a redução deve ser ampliada de 15% para 25%.
O estado de emergência inclui 202 municipalidades das regiões e Barcelona e Girona.
A Catalunha e a região de Andaluzia, que também sobre os efeitos da seca, já preparam medidas para importar água fresca usando navios, embora as autoridades admitam que seria uma medida dispendiosa que não compensaria a falta de chuvas.
"Precisamos de 30 dias de chuva", explicou recentemente o chefe do governo regional de Andaluzia, Juan Manuel Moreno. "Mas, chuvas de verdade, não de chuviscos, por ao menos 30 dias seguidos."
No último verão no Hemisfério Norte, em meados do ano passado, fortes ondas de calor atingiram a Espanha e a Europa, com quebra de recordes de temperatura em vários pontos do continente. O calor agravou a falta de água, com o aumento da evaporação nos reservatórios e do consumo por parte da população.
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Influência das mudanças climáticas
Mesmo após a chegada do inverno no continente, a temperatura se manteve acima da média na Espanha, chegando a marcar 30ºC em algumas regiões em pleno mês de janeiro – o que normalmente ocorre somente em junho.
Especialistas afirmam que as mudanças climáticas amplificam a intensidade e frequência de eventos climáticos extremos como ondas de calor, secas e incêndios florestais.
A Catalunha investiu em usinas de dessalinização e em outras medidas para mitigar a crise hídrica, mas entidades ambientalistas destacam a importância de melhorar o uso de águas residuais e subterrâneas. "A seca não resulta apenas da falta de chuvas, mas também do mau gerenciamento", afirmou em nota a ONG ambientalista Greenpeace.
rc/bl (AFP, EFE)
As piores catástrofes climáticas de 2023
Recordes de calor em várias partes do mundo, seca histórica na Amazônia, enchentes na Europa. O ano de 2023 registrou eventos climáticos de proporções inéditas.
Foto: Bruno Zanardo/Getty Images
Seca histórica na Amazônia
Nos últimos meses do ano, a maior floresta tropical do mundo enfrentou sua pior seca já registrada. Alguns cientistas temem que o bioma possa estar se aproximando do chamado ponto de não retorno, quando a Amazônia não será mais capaz de gerar chuvas, o que daria início a um processo de savanização. A floresta também foi atingida por uma série de incêndios florestais.
Foto: Gustavo Basso/DW
Enchentes no sul do Brasil
Em setembro, fortes enchentes atingiram a região sul do Brasil. A passagem de um ciclone extratropical causou a pior tragédia natural do estado do Rio Grande do Sul, onde quase 90 municípios registraram danos. As fortes chuvas deixaram dezenas de mortos e milhares de desabrigados, além de estradas bloqueadas, isolando comunidades inteiras durante dias.
Foto: DIEGO VARA/REUTERS
Verão mais quente já registrado no Hemisfério Norte
O verão de 2023 no Hemisfério Norte foi de longe o mais quente já registrado, segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM) e o programa Copernicus. As altas temperaturas causaram secas, inundações e incêndios florestais. O período entre janeiro a agosto deste ano foi o segundo mais quente da história na região, atrás apenas de 2016.
Foto: Francesco Fotia/Avalon/Photoshot/picture alliance
Grécia: maior incêndio florestal da União Europeia
A Grécia sentiu os efeitos da forte onda de calor no verão europeu, na metade do ano, e enfrentou os maiores incêndios florestais já registrados no continente. Milhares de pessoas tiveram de ser retiradas de ilhas turísticas como Rodes, Corfu e Evia. O país chegou a registrar mais de 600 focos de incêndio simultâneos, com temperaturas que se aproximavam dos 50º C.
Foto: Julian I. Borissoff
Incêndios de costa a costa no Canadá
Na metade do ano, incêndios florestais no Canadá se espalharam da costa leste para a oeste, queimando quase o dobro da área do recorde anterior. Segundo a World Weather Attribution (WWA), as mudanças climáticas ajudaram a criar um clima seco e entre 20% a 50% mais "propenso a incêndios", mais do que dobrando a probabilidade de incêndios extremos no leste do Canadá.
Foto: Bonita Kay Summers/REUTERS
"Enchente do século" no norte da Itália
Em maio, na região de Emília-Romagna, no norte de Itália, três tempestades provocaram deslizamentos de terra e inundações consideradas as piores em um século. Segundo pesquisadores, um período específico de chuva de 21 dias – único em 200 anos e com apenas 0,5% de probabilidade de acontecer anualmente – poderia ter ocorrido com ou sem mudanças climáticas.
Foto: Andreas Solaro/AFP
Secas na França
No primeiro semestre de 2023, a França atravessou uma das piores secas dos últimos anos. As autoridades adotaram medidas de emergência para economizar água. A região mais afetada foi o sul do país, onde em algumas cidades chegou a ser proibido lavar carros ou encher piscinas durante semanas. O tempo seco contribuiu para a propagação de incêndios florestais.
A tempestade Daniel gerou inundações que causaram o rompimento de duas barragens e mataram milhares de pessoas na Líbia no início de setembro. A cidade de Derna foi quase totalmente destruída. Os esforços humanitários internacionais foram prejudicados pela divisão política da Líbia, em meio à guerra civil que assola o país.
Foto: Hamza Turkia/Xinhua/IMAGO
Recordes de calor no sul da Ásia
Países do sul asiático como Índia, Vietnã, Laos, Bangladesh e Mianmar superaram recordes de calor em 2023. A Tailândia registrou temperaturas de 45º C pela primeira vez na história. Cientistas atribuem o calor extremo na região às mudanças climáticas.