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Orquestra pela paz

26 de agosto de 2011

A West-Eastern Divan Orchestra inicia comemorações dos 25 anos de existência da Filarmônica de Colônia. A mensagem de convivência pacífica entre israelenses e palestinos é marca registrada de Barenboim e seus músicos.

Daniel Barenboim à frente da West-Eastern-Divan Orchestra
Daniel Barenboim à frente da West-Eastern-Divan OrchestraFoto: picture-alliance/ dpa

Para iniciar as celebrações dos 25 anos de existência da Filarmônica de Colônia, situada no oeste alemão, o regente argentino-israelense Daniel Baremboim, diretor musical da Staatsoper, de Berlim, traz à cidade esta semana sua West-Eastern Divan Orchestra, que executará, em cinco noites, todas as noves sinfonias de Beethoven.

Neste domingo (28/08), o destaque do evento fica por conta de uma transmissão ao vivo do último concerto, com a execução da Nona Sinfonia, em uma praça a céu aberto nas imediações da catedral da cidade.

Em 1999, Barenboim e o já morto pensador palestino Edward Said reuniram-se pela primeira vez, na alemã Weimar, para um workshop oferecido a jovens músicos israelenses e palestinos. Em alusão à coletânea poética de Goethe, O Divã Ocidental-Oriental, os amigos Barenboim e Said fundaram logo depois uma orquestra, com o objetivo de estabelecer uma ponte entre os dois povos, que, embora vivam próximos, até então pareciam não se conhecer direito.

Barenboim faz questão de lembrar que não quer que seu projeto seja compreendido apenas como uma iniciativa de caráter político. No entanto, tratando-se de uma meta tão ambiciosa como essa, de união de dois povos, fica praticamente impossível dissociar a arte da política. "Por trás disso está a ideia de criar um fórum, no qual jovens árabes e israelenses possam se unir com entusiasmo em torno da música, estabelecendo um intercâmbio. Isso praticamente nunca aconteceu antes", explica Barenboim.

Daniel Barenboim e a West-Eastern Divan OrchestraFoto: WEDO/Luis Castilla

De início, tudo não passava de um experimento para o regente. Hoje, contudo, 12 anos mais tarde, a West-Eastern Divan Orchestra se tornou um projeto reconhecido e bem-sucedido. E Barenboim gosta de acentuar que o trabalho com os músicos é, para ele, "um grande presente".

"Com o inimigo"

Muitos israelenses encontraram-se, na orquestra, pela primeira vez com árabes. E também vice-versa. Quando um sírio, por exemplo, entra para a orquestra, ele pode ter a sensação de estar diante do "inimigo", quando se depara com um israelense.

"No início, ele talvez o veja como um monstro, mas quando começam a fazer música juntos, passam a ver o 'inimigo' de outra forma. Seis ou sete horas de ensaio conjunto contribuem para que se adquira experiências, objetivos e sentimentos comuns. E acima de tudo respeito pelo outro", explica Barenboim.

Barenboim e West-Eastern Divan Orchestra, durante ensaio em BerlimFoto: DW

É claro que, com relação às questões políticas, continuam havendo divergências. No entanto, para muitos músicos, o trabalho na orquestra é um dos pontos de referência em suas vidas. E não são raras as amizades que surgem ali dentro, sendo que muitas delas provavelmente jamais seriam seladas sem a orquestra. A coragem dos jovens músicos é também digna de admiração: "Muitos deles não são vistos com bons olhos em seus países de origem. Em alguns casos, há até mesmo risco de vida, porque eles são vistos como pessoas que fazem música ao lado do que se chama de 'inimigo' ", conta o regente.

Conflito nas cabeças

Barenboim, hoje com 68 anos, diz-se impressionado sobretudo com as mudanças nos países árabes. "É um passo corajoso dessas pessoas lutar por mudanças e pela liberdade", diz. Desde a fundação da orquestra, a ideia é que ela se apresente nos países de origem dos músicos. Barenboim lutou por muito tempo para poder se apresentar com a orquestra no Egito ou na Síria, por exemplo. "Não nos foi possível, mas talvez agora, com a revolução árabe, tenhamos, enfim, uma chance", espera o regente.

Na contracorrente de seu otimismo está a atual evolução do quadro na Síria e na fronteira egípcio-israelense. Os membros sírios da orquestra acompanham preocupados as notícias sobre a violência em seu país e os músicos israelenses e egípcios reagem aterrorizados ao que ocorre na Faixa de Gaza. "Esse conflito está permanentemente nas nossas cabeças. Estamos preocupados e temos muito medo de uma escalada da situação. Na nossa orquestra, há músicos dos dois países, trabalhando em paz um ao lado do outro. Mesmo que suas posturas políticas sejam distintas, ninguém acredita que esse conflito poderá ser resolvido através de forças militares", resume Barenboim.

Políticos na escola de música

Barenboim e orquestra tocam todas as sinfonias de Beethoven em ColôniaFoto: AP

Embora a música, em si, não seja uma solução para o problema, fato é que Barenboim demonstra, com sua orquestra em prol da paz, que músicos israelenses e de outros países do Oriente Médio podem, de fato, encontrar uma linguagem comum. Para isso, basta dar a eles a oportunidade do conhecimento mútuo.

"Nossa orquestra é um forma alternativa de pensar o que acontece no momento no Oriente Médio", acentua Barenboim. Pois, para ele, frente às sinfonias de Beethoven todos são iguais. "Os políticos deveriam, todos eles, frequentar um escola de música, para aprenderem algo essencial: ouvir!", resume o regente.

Cada músico, em sua opinião, ouve com atenção a voz do compositor e de seus colegas de orquestra, pois só assim pode surgir a harmonia musical. No caso das relações políticas, acontece o mesmo, compara Barenboim. "Aqui, a harmonia também só pode acontecer quando se desenvolve a capacidade de ouvir, quando cada um abre seus ouvidos para os pontos de vista e as explanações do outro", conclui.

Indicação para Prêmio Nobel da Paz

O empenho de Barenboim em prol de uma reconciliação entre israelenses e palestinos é, de toda forma, compreendido por todos os lados: tanto no mundo árabe quanto na Europa, onde o regente já recebeu, em 2010, o Prêmio da Paz da Vestfália e agora o Prêmio da Tolerância da Academia Europeia das Ciências e das Artes.

Ele recebeu agradecido a indicação para o Prêmio Nobel da Paz, mas com bastante comedimento. "Na verdade, não gostaria de falar nada a esse respeito. Ou você recebe o prêmio e aí é preciso pensar muito bem no que dizer, ou você não recebe e aí o silêncio é a melhor coisa", resume.

Autora: Marita Berg (sv)
Revisão: Carlos Albuquerque

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