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Bas Böttcher, entre a performance e a poesia

Joaquim Sciarra24 de agosto de 2013

Autor alemão que ganhou notoriedade em campeonatos de Slam Poetry fará performances na Bienal do Livro do Rio. Ele criou a Textbox, cabine na qual o público pode ouvir seus textos em qualidade de estúdio.

Foto: picture-alliance/dpa

Bas Böttcher nasceu em 1974 em Bremen, mas vive em Berlim desde o ano 2000. Com estudos em Design & Mídia pela famosa Universidade de Bauhaus, em Weimar, o poeta e performer tornou-se primeiramente conhecido no circuito de Slam Poetry e como músico da banda Zentrifugal, formada em 1991.

Ele ganhou o primeiro campeonato do gênero na Alemanha, em 1997, e se apresentou várias vezes no conhecido festival Open Mike, da Oficina de Literatura de Berlim. Daí em diante tornou-se nome frequente em festivais do gênero na Europa, ou representando a Alemanha em outros países através do Instituto Goethe. Bastante eclético, subiu ao palco em museus como o Martin Gropius Bau, de Berlim, ou teatros como a Schauspielhaus, de Hamburgo.

Entre o palco e a página

Seus textos, no entanto, não são compostos apenas para a voz e o palco. Nos últimos anos, publicou livros como Vorübergehende Schönheit(Beleza passageira, em 2012)e o romance Megaherz(2004). Seus poemas foram incluídos nas antologias Jahrbuch der Lyrik, que reúne os melhores poemas de autores alemães contemporâneos a cada dois anos, e na grande e prestigiosa edição Das Buch deutscher Gedichte. Von den Anfängen bis zur Gegenwart (O livro dos poemas alemães: do início à contemporaneidade, de 2008). Em geral, porém, suas coletâneas de textos permitem ao leitor tanto a experiência da leitura como da audição, trazendo CDs encartados com gravações do autor, como é o caso de Neonomade (2009).

A relação entre literatura e performance na cena poética alemã é complexa e não menos cheia de discórdia. Assim como no Brasil, onde a cada par de anos ressurge o debate sobre o valor poético de letras de canções e seu ensino como poesia, as duas cenas tendem a separar-se muitas vezes em campos opostos na Alemanha.

A tradição da poesia em performance tem várias raízes na língua alemã. Foi em grande parte em alemão que os poetas da revista DADA (1916 – 1919) e do Cabaret Voltaire, em Zurique, apresentaram seu ataque à mentalidade militarista alemã durante a Primeira Guerra Mundial. Poetas como Hugo Ball, o autor de Zur Kritik der deutschen Intelligenz (Da Crítica à Inteligência Alemã, 1919), assim como Hans Arp e Kurt Schwitters, compuseram em alemão seus textos para performance e são referências importantes na história da poesia sonora e vocal.

Outras referências germânicas importantes no pós-guerra para estas ações em que texto e performance se mesclam foram o suíço Dieter Roth, assim como a ala germânica do Movimento de Poesia Concreta, entre eles o cofundador Eugen Gomringer. Nos dias atuais, o representante mais respeitado e atuante tanto no campo literário como no da performance é Michael Lentz.

No Brasil, onde há toda a tradição da literatura de cordel e dos poetas da música popular, como Noel Rosa, Cartola, Caetano Veloso e Chico Buarque, a mesma separação é vista muitas vezes no debate, apesar de haver performers excelentes trabalhando nos dois campos, como Ricardo Aleixo e Marcelo Sahea.

Böttcher em sua TextboxFoto: Imago

Atuação no Brasil

Isso torna muito interessante o convite de Bas Böttcher a uma Bienal que tem como função celebrar o livro. Böttcher é criador da Textbox, cabine de som que tem levado a vários festivais, nas quais o público é convidado a ouvir os textos dos autores em qualidade sonora de estúdio. Mesmo o público, e em especial as crianças, são convidados a usar as cabines para apresentação dos seus próprios textos, criando uma interação com a audiência que quebra a barreira comum entre autor e leitor.

Durante a Bienal, Bas Böttcher discutirá o futuro do livro na era digital, antes de fazer uma apresentação no estande da Alemanha no evento, que homenageia o país este ano. O público carioca será convidado a conhecer os textos e a voz do alemão, que já foi elogiado por seu trabalho em jornais conceituados como o Neue Zürcher Zeitung.