Bascos formam cordão humano de 200 km pela independência
10 de junho de 2018
Organizadores afirmam que 175 mil pessoas participaram do ato separatista, que ligou as três principais cidades do País Basco. Manifestantes exigem referendo para tornar região no norte da Espanha independente de Madri.
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Dezenas de milhares de pessoas formaram neste domingo (10/06) um cordão humano de mais de 200 quilômetros de extensão, ligando várias cidades do País Basco, em protesto exigindo a realização de um referendo sobre a independência da região no norte da Espanha.
Os manifestantes deram as mãos ou seguraram lenços entre si para formar a cadeia humana, que percorreu as cidades de San Sebastian, Bilbao e Vitória, capital da comunidade autônoma.
Segundo o grupo Gure Esku Dago (Está em nossas mãos, em basco), que convocou o protesto, cerca de 175 mil pessoas participaram da manifestação neste domingo, incluindo políticos e ativistas independentistas bascos e catalães.
A iniciativa, que durou cerca de meia hora, contou com a ajuda de mais de 5 mil voluntários e mil ônibus, que levaram os manifestantes às ruas e rodovias por onde o cordão foi formado.
O ato foi encerrado com a leitura de um manifesto em frente ao Parlamento basco, em Vitória. Os separatistas disseram confiar que, em 2019, "passos significativos podem ser dados para promover o direito de escolha – um instrumento fundamental para garantir a convivência a longo prazo".
"Só queremos tomar a palavra, nos aprofundando na democracia, para decidir de maneira soberana", afirmou o porta-voz da organização, Ángel Oiarbide, ressaltando que um "novo ciclo de coexistência, soberania e decisão" está começando.
A presidente do Parlamento regional, Bakartxo Tejeria, também esteve presente na manifestação. À imprensa, ela afirmou que a iniciativa mostra "que estamos diante de um povo ativo e vivo, que quer decidir de forma livre e democrática".
"Hoje eu sou parte dessa cadeia humana para reivindicar o direito do País Basco de decidir livremente seu futuro", disse, por sua vez, o prefeito de Vitória, Gorka Urtaran.
A manifestação ocorre pouco mais de um mês depois do grupo separatista basco ETA ter anunciado sua dissolução completa. Em comunicado, o último grupo armado da Europa Ocidental reconheceu ter fracassado em sua tentativa de solucionar o "conflito político" no País Basco.
A comunidade autônoma no norte da Espanha é uma das mais autossuficientes entre as 16 regiões do país, contando com sua própria força policial, sistema educacional e idioma, além de acordos financeiros especiais com o governo espanhol.
Apesar de as pesquisas sugerirem que a grande maioria da população basca não apoia a independência completa de Madri – apenas cerca de 15% se dizem a favor da secessão total –, muitos defendem que os cidadãos têm o direito de votar sobre o tema em referendo.
Contudo, o governo da Espanha, com apoio da Justiça, considera ilegal qualquer votação sobre independências regionais, uma vez que a Constituição espanhola, criada em 1978 após o fim do regime do ditador Francisco Franco, afirma que o país é indivisível.
No ano passado, a realização de um referendo pela independência da Catalunha foi fortemente reprimida pelo governo em Madri, que assumiu o controle da região autônoma após seus líderes terem feito uma declaração unilateral de independência.
Mariano Rajoy, ex-chefe de governo espanhol, foi amplamente criticado pela forma com que lidou com a crise catalã. Afastado do cargo há dez dias após uma moção de censura, ele foi substituído pelo líder socialista Pedro Sánchez – uma medida apoiada pelos governos autônomos basco e catalão.
Desde que assumiu o poder, Sánchez indicou que está disposto a dialogar com os separatistas e, inclusive, a alterar a Constituição para conceder mais autonomia às regiões.
EK/ap/dpa/efe/rtr
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Os rastros do ETA na sociedade espanhola
Durante quase 60 anos, grupo separatista basco executou assassinatos, sequestros e atentados. Alguns desses ataques deixaram feridas profundas na Espanha.
Foto: picture-alliance/dpa/epa/J. Diges
Dissolução
Em carta aberta enviada a diversas instituições, a organização terrorista basca tornou oficialmente pública sua dissolução em 2 de maio de 2018. O texto anuncia o fim de seu "ciclo histórico e sua função" e informa que o ETA desmantelou "completamente todas as suas estruturas".
Foto: picture-alliance/dpa/epa/J. Diges
Surpresa
A organização foi fundada no final dos anos 50. As primeiras mortes causadas pelo grupo foram registradas na década de 60, mas o primeiro grande ataque ocorreu em 20 de dezembro de 1973. O atentado a bomba em Madri contra o carro em que estava Luis Carrero Blanco matou o então chefe do governo do país e amigo do ditador Francisco Franco, além de duas outras pessoas.
Foto: picture-alliance/dpa
Atentado contra centro comercial
Em 19 de junho de 1987, 21 pessoas morreram e 45 ficaram feridas na explosão em um shopping center da empresa Hipercor, em Barcelona. Embora o ETA tenha anunciado previamente o ataque, a tragédia não pôde ser evitada. A explosão causou um incêndio, destruiu o primeiro andar da garagem e deixou um buraco no chão.
Foto: picture alliance/dpa
Danos colaterais
Em 17 de outubro de 1991, Irene Villa, de 12 anos, sobreviveu gravemente ferida a um atentado. No caminho para a escola, uma bomba presa ao carro onde viajava com sua mãe explodiu. Aparentemente, o alvo do atentado era o parceiro da mãe, um inspetor de polícia.
Foto: Reuters/P. Sanchez
Sequestro mais longo
Em 17 de janeiro de 1996, o guarda penitenciário José Antonio Ortega Lara foi sequestrado em sua garagem. Em troca de sua libertação, o ETA exigiu que os prisioneiros da organização terrorista fossem transferidos para as prisões bascas. Depois de 532 dias, a polícia conseguiu libertá-lo. Os quatro sequestradores foram presos.
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Mudança de percepção
O sequestro e assassinato do deputado espanhol Miguel Ángel Blanco, em 12 de julho de 1997, mudou a percepção da opinião pública sobre o grupo, cuja oposição à ditadura franquista garantia a simpatia de muitos espanhóis. O ETA deu ao governo um ultimato de 48 horas para que membros presos fossem transferidos para prisões bascas. Diante da negativa do governo, o refém foi assassinado.
Foto: picture-alliance/dpa/J. J. Guill
Trégua
Em 2006, o ETA anunciou um "cessar-fogo permanente". Mas em 30 de dezembro, a organização terrorista matou dois equatorianos num ataque a bomba no aeroporto de Madri. A foto mostra os dois membros do ETA Igor Portu e Diego Armando Estacio durante julgamento. O assassinato pôs fim à trégua.
Foto: picture alliance/dpa/S. Barrenechea
Fim das atividades armadas
Em 20 de outubro de 2011, o ETA anunciou o fim de suas atividades armadas. Numa carta, a organização se diz disposta a superar o conflito armado e, ao mesmo tempo, oferece aos governos de Espanha e França um "diálogo direto" para encontrar uma solução para o conflito.
Foto: picture-alliance/AP Photo
Entrega simbólica de armas
Em abril de 2017, o ETA encenou uma controversa entrega de armas na cidade francesa de Bayonne, que não é reconhecida por Madri. A organização terrorista entregou às autoridades francesas uma lista de oito depósitos secretos de armas. A entrega foi realizada sob a supervisão da Comissão Internacional de Verificação (CIV), que foi criada em 2011 após o término da atividades armadas.
Foto: Getty Images/AFP/I. Gaizka
Pedido de perdão
Numa declaração datada de 20 de abril de 2018, o ETA assumiu a responsabilidade direta e pediu desculpas pelo "sofrimento excessivo causado à sociedade basca". O texto foi duramente criticado, já que a organização apenas pediu perdão às vítimas que "não estavam diretamente envolvidas no conflito".
Foto: Reuters/V. West
Mais de 7 mil vítimas
Segundo o Ministério do Interior da Espanha, o ETA fez 7.265 vítimas, entre feridos e mortos. Dos 864 mortos oficiais, quase 40% eram da população civil. A grande maioria das vítimas foi atingida durante os tempos de democracia.