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Batalhão Azov: heróis da Ucrânia ou extremistas?

Roman Goncharenko
16 de março de 2022

Mariupol está sendo defendida sobretudo por um regimento da Guarda Nacional ucraniana. Composto por nacionalistas e extremistas de direita, porém, ele é controverso. E até citado por Putin como um dos motivos da guerra.

Visão aérea de prédios incendiados em Mariupol, Ucrânia
Visão aérea de prédios incendiados em Mariupol, em vídeo disponibilizado pelo Batalhão AzovFoto: Azov Battalion/AP/picture alliance

Um vídeo curto mostra um monitor em um veículo militar supostamente ucraniano, trafegando numa área que parece um lugarejo próximo a Mariupol. Numa ruela estão tanques blindados, marcados com a letra "Z", que designa as tropas russas na Ucrânia. Então se escutam tiros, e o veículo supostamente russo pega fogo.

No começo da segunda semana de março, o ucraniano "Batalhão Azov" divulgou essas imagens em seu canal no serviço de mensagens instantâneas Telegram. Em um comunicado, afirmam ter "aniquilado" três veículos militares e quatro tanques, além de "muita infantaria".

Pouco mais tarde, os combatentes publicam a foto de um homem uniformizado morto, alegando tratar-se de um general russo abatido por eles. É muito difícil verificar essas assertivas.

Mariupol está sendo defendida sobretudo pelo mal-afamado Batalhão Azov. Ao lado da capital, Kiev, e da segunda maior cidade, Kharkiv, a cidade portuária é um dos locais da Ucrânia em que a Rússia trava sua guerra de modo especialmente brutal. Com seus 500 mil habitantes, ela está sitiada desde o começo de março e submetida a bombardeios intensos. Não há energia nem água suficiente, as reservas de alimentos estão no limite.

Conexões com ultradireita, símbolo nazista

É em Mariupol que o Azov mantém seu quartel-general. O regimento faz parte da Guarda Nacional, estando, portanto, subordinado ao Ministério do Interior. Consta que seus combatentes são bem treinados, porém a unidade é controversa, por ser composta por nacionalistas e radicais de direita. E sua própria existência é um dos pretextos usados pela Rússia para a guerra na Ucrânia.

O Batalhão Azov foi criado em maio de 2014, na cidade de Berdyansk, para apoiar o Exército ucraniano na luta contra os separatistas pró-russos no leste do país. Alguns de seus membros integravam antes o "Setor de Direita", um pequeno porém ativo grupo de extremistas de direita.

O núcleo desse grupo provinha da própria região leste, era de idioma russo e originalmente defendia a unidade dos povos eslavos orientais: russos, belarussos e ucranianos. Parte de seus integrantes vinha dos meios dos ultras do futebol, outros atuavam em círculos nacionalistas.

Desde o início, contudo, o Azov era polêmico, por causa de seu brasão, o "Anjo-Lobo". "O Anjo-Lobo tem uma conotação radical de direita, é um símbolo pagão, também usado pela SS [organização paramilitar da Alemanha nazista]", explica o especialista Andreas Umland, do Centro de Estudos sobre o Leste Europeu de Estocolmo. "Na Ucrânia, porém, ele não é considerado um símbolo fascista": o regimento Azov pretende que a imagem seja interpretada como um "N" e "I" estilizados, designando "ideia nacional".

O fundador e primeiro comandante do batalhão foi Andriy Biletsky, de 42 anos, formado em história pela Universidade Nacional de Kharkiv e há anos ativo na cena de extrema direita. Em meados de 2014, com forças modestas, o Azov participou da retomada de Mariupol das mãos dos separatistas pró-russos.

Desde então, ele age como regimento: segundo dados da imprensa, antes da guerra iniciada pela Rússia, ele contava com cerca de mil combatentes e dispunha de artilharia e tanques de combate próprios. Em 2014, o governo ucraniano decidiu integrar os ultranacionalistas às estruturas estatais.

Socorristas carregam grávida vítima de bombardeio de hospital de MariupolFoto: Evgeniy Maloletka/AP/picture alliance

Mito alimentado pela propaganda russa

Em 2015 e 2016 nasceu um movimento, uma espécie de braço político do Azov. Biletsky renunciou ao comando e fundou, juntamente com outros antigos combatentes, o partido A Corporação Nacional, mas que não teve êxito nas urnas. Biletsky entrou para o Parlamento por mandato direto, mas está fora desde as eleições de 2019. Segundo suas próprias informações, luta no front de Kiev desde a invasão pelas tropas de Vladimir Putin.

Em 2019 houve no Congresso dos Estados Unidos uma iniciativa para classificar o regimento como "organização terrorista", mas sem sucesso. O fato é que há anos o Azov mantém contatos com meios de ultradireita no exterior, também na Alemanha – segundo resposta do governo em Berlim a uma consulta da bancada parlamentar da legenda alemã A Esquerda.

O mito em torno no Batalhão Azov também se deve à propaganda russa, afirma o especialista no Leste Europeu Andreas Umland. Nos conflitos armados de 2014, houve numerosas acusações de pilhagem e má conduta contra grupos de combatentes voluntários, entre os quais também o Azov.

"Normalmente consideramos o extremismo de direita como algo perigoso, que pode levar à guerra", admite Umland. Na Ucrânia, foi ao contrário: a guerra proporcionou a ascensão e a transformação de confrarias marginais num movimento político. Contudo, sua influência sobre a sociedade é superestimada: para a maioria dos ucranianos, eles são combatentes que defendem seu país contra um agressor mais forte.

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