Movimento que revolucionou a estética moderna deixou marcas na capital alemã. Vários conjuntos habitacionais tradicionais de Berlim são assinados por arquitetos da Bauhaus.
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Há cem anos era fundada a Universidade Bauhaus, em Weimar, que revolucionou a estética moderna. A faculdade de design, arquitetura e arte criou um dos principais movimentos artísticos do século 20.
Visando a construção do futuro, a arte e técnica deveriam ser unidas para o desenvolvimento de criações funcionais e esteticamente satisfatórias, inclusive de moradias populares. Para arquitetos e engenheiros civis da escola, a praticidade e o baixo custo deveriam guiar seu trabalho.
Neste ano, diversas exposições em toda a Alemanha celebram os cem anos do movimento criado pelo arquiteto Walter Gropius, algumas ocorrem também na capital alemã. Mas em Berlim não é preciso ir a museus para admirar as criações da Bauhaus. Os artistas deixaram suas assinaturas em vários prédios e casas da cidade. Conheça algumas delas:
– Construída em 1932, a Casa Mies van der Rohe foi a última moradia particular criada pelo arquiteto Mies van der Rohe, antes de emigrar para os Estados Unidos, em 1938. O casal dono da obra morou no imóvel até 1945. Em outubro daquele ano, o Exército Vermelho tomou posse da casa e a utilizou como garagem. Na década de 1960, a casa passou para as mãos do serviço secreto da antiga Alemanha Oriental, a Stasi. Em 1977, foi tombada pelo patrimônio histórico. Hoje, o local é um pequeno museu, aberto de terça à domingo, das 11h às 17h. A Casa Mies van der Rohe fica na Oberseestrasse 60, no bairro Alt-Hohenschönhausen.
– As grandes obras remanescentes da Bauhaus em Berlim são, no entanto, modernos conjuntos habitacionais que foram elevados a patrimônio cultural da humanidade pela Unesco. Entre eles está parte da Siemenstadt (Cidade Siemens), construída entre 1929 e 1931 e projetada por Walter Gropius, Hugo Häring e Hans Scharoun. O condomínio ao leste do complexo deveria abrigar funcionários de baixa renda da Siemens. Novas técnicas de construção foram colocadas em prática no projeto de apartamentos compactos. Os prédios da Bauhaus na Siemenstadt ficam no norte do bairro Charlottenburg.
– Em 1924, uma cooperativa de construção de moradias de Berlim contratou o arquiteto Bruno Taut para desenvolver o projeto do conjunto habitacional Schillerpark, em Wedding. Foi um dos primeiros projetos públicos de habitação social na cidade. Hoje os prédios de tijolo à vista, influência da arquitetura holandesa, ao longo da Bristolstrasse, são patrimônio cultural da humanidade.
– Bruno Taut, ao lado de Martin Wagner e de Leberecht Migge, idealizou também o conjunto habitacional Britz, mais conhecido como conjunto habitacional da ferradura (Hufeisensiedlung), devido à sua forma. As mais de mil moradias no bairro Neukölln foram construídas entre 1925 e 1933. Desde 1986, está tombado pelo patrimônio histórico e em 2008 foi declarado a patrimônio cultural da humanidade pela Unesco.
– Além de parte da Siemenstadt, Schillerpark e Hufeisensiedlung, os conjuntos habitacionais Carl Legien, no bairro Prenzlauer Berg, e Cidade Branca, em Reinickendorf, também estão entre as obras da Bauhaus elevadas a patrimônio da humanidade pela Unesco. Projetado por Bruno Taut e Franz Hilinger, o conjunto Carl Legien foi construído entre 1928 e 1930, dentro do programa de habitação da República de Weimar. Seu nome foi escolhido em homenagem a um dos primeiros sindicalistas do país. Já a Cidade Branca foi projetada por Otto Rudolf Salvisberg, Bruno Ahrends e Wilhelm Büning entre 1928 e 1931.
– Inaugurada em 1930, a Garagem Kant, no bairro Charlottenburg, causou sensação na época, sendo o único edifício-garagem remanescente do período entre guerras na região. É um dos mais antigos de toda a Europa e tem espaço para 300 carros. Foi projetado por Hermann Zweigenthal e Richard Paulick. Em 1991, o prédio foi tombado pelo patrimônio histórico. Atualmente, a garagem está fechada e deve ser reformada para abrigar start-ups. A Garagem Kant fica na Kantstrasse 126.
Clarissa Neher trabalha como jornalista freelancer para a DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, publicada às segundas-feiras, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.
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Casas, ruas, fábricas: a arquitetura modernista tem muitas faces. Em 2019, ano em que a Bauhaus celebra seu centenário, amantes de arquitetura podem fazer um "Grande Giro do Modernismo" pela Alemanha.
Foto: picture-alliance/dpa/hwo
Funcional e extravagante: Casa Schminke
A casa construída para o empresário Fritz Schminke é um excelente exemplo de Neues Bauen. O movimento, que também pode ser atribuído à Bauhaus, baseia-se em formas simples e decoração de interiores sóbria. A casa projetada pelo arquiteto Hans Scharoun em Löbau, Saxônia, foi concluída em 1933. Por 250 euros, é possível visitá-la e passar a noite lá – embora ela atualmente esteja em reformas.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Hiekel
Modernismo até nos detalhes: Casa Schulenburg
A Casa Schulenburg, em Gera, Turíngia, também foi concebida como residência. Henry van de Velde, importante expoente dos primórdios do modernismo, foi quem a projetou, sendo também responsável pela decoração do interior, até os utensílios de mesa. Lá, o ano do centenário da Bauhaus, 2019, é comemorado com três mostras especiais.
Foto: picture-alliance/hwo
Em forma de ferradura: Conjunto Hufeisensiedlung
Após a Primeira Guerra, pobreza e escassez de moradia tomaram conta da Alemanha. O arquiteto Bruno Taut, também expoente do Neues Bauen, projetou conjuntos habitacionais inteiros. Na localidade berlinense de Britz, foi construído o Hufeisensiedlung, cujo nome alude a sua forma de ferradura. Com sua arquitetura simples e funcional, o complexo proporcionava 2 mil unidades de habitação pública.
Foto: picture-alliance/dpa/B. Buschfeld
Modernismo em tijolos: Böttcherstrasse em Bremen
Não parece, mas isto também é arquitetura modernista: no centro histórico de Bremen, um rico comerciante de café comprou uma rua inteira e mandou renovar ou reconstruir seis de seus sete prédios. Entre 1922 e 1931 surgiu , ao longo de 100 metros, um conjunto arquitetônico moderno combinando Gótico Báltico, Expressionismo e Art Déco.
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Arquitetura industrial: fábrica de chapéus Luckenwalde
A antiga fábrica de chapéus de Luckenwalde, no atual estado de Brandemburgo, foi uma obra moderna pioneira projetada por Erich Mendelsohn, famoso expoente da arquitetura expressionista. O telhado do salão de tinturaria lembra um chapéu e abriga um sistema de ventilação inovador.
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Testando a relatividade: Torre Einstein
Erich Mendelsohn também projetou esta torre no estilo expressionista. Construído entre 1920 e 1922, o observatório fica em Potsdam, no estado de Brandemburgo. O Prêmio Nobel Albert Einstein queria que os astrônomos testassem experimentalmente sua teoria da relatividade aqui. O famoso cientista definiu a torre como "orgânica". No primeiro sábado de cada mês, ela está aberta a visitas guiadas.
Foto: picture-alliance/dpa/imageBROKER/H. Baar
Mistura estilística palaciana: Museu Grassi
O Museu Grassi, em Leipzig, é considerado uma obra de arte modernista completa, na qual Nova Objetividade, Art Déco, tradição da arquitetura palaciana e Bauhaus se combinam. A impressão geral é de um palácio. O complexo de edifícios abriga três museus de Leipzig: Artes Aplicadas, Etnologia e Instrumentos Musicais.
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Sóbrio e monumental: Stadthalle de Magdeburgo
O Stadthalle (centro municipal) de Magdeburg foi construído em 1927, especialmente para a Mostra Alemã de Teatro, a fim de apresentar a cidade como um polo cultural e de feiras comerciais. O prefeito queria um "edifício digno e monumental". O resultado foi um complexo polivalente, elegante e funcional, com um sistema mecânico inovador permitindo a utilização de seu auditório de formas diversas.
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Curvas arrebatadoras: Teepott Warnemünde
Em 1968, o Teepott Warnemünde foi erguido na orla marítima da cidade. O arquiteto Ulrich Müther projetou mais de 70 estruturas de concreto como esta, que se tornaram um sucesso de exportação da Alemanha Oriental. O teto consiste de três conchas paraboloides hiperbólicas, superfícies duplamente curvas que dão estabilidade estrutural ao prédio. Hoje, ele abriga restaurantes e lojas de suvenires.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Kuttig
Palácio de cristal: Centro de Exposições de Leipzig
O Centro de Exposições de Leipzig remonta à tradição do século 19 da arquitetura em vidro. O novo complexo, projetado pelo escritório de arquitetura Gerkan, Marg & Partner, foi concluído em 1996. O saguão de entrada é o maior salão totalmente envidraçado da Europa e simboliza uma ponte para a reunificação alemã.